
Crédito, FAMÍLIA FERNÁNDEZ
- Author, Darío Brooks
- Role, BBC News Mundo
Mais de quatro décadas após o desaparecimento de um adolescente em Buenos Aires, as perguntas em torno do caso têm chamado a atenção dos argentinos.
Diego Fernández Lima, 16, desapareceu em 26 de julho de 1984.
Segundo contou seu irmão Javier à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC), naquele dia o jovem saiu da casa dos pais por volta das 14h para ir à escola. Nunca mais foi visto.
Apesar dos esforços para localizá-lo, não houve pistas sobre Diego ao longo de quatro décadas. A situação mudou em maio, com uma descoberta inesperada.
“Senti raiva, impotência, tristeza e, ao mesmo tempo, alegria, porque encontrei meu irmão 41 anos depois. Quando liberarem o corpo dele, poderei me despedir em paz, como ele merece”, disse o irmão Javier.
A descoberta também levantou dúvidas sobre as circunstâncias da morte do adolescente, quem esteve envolvido e o motivo do suposto assassinato.
1. Quando e como Diego desapareceu
Como contou Javier Fernández à BBC News Mundo, em 26 de julho de 1984 o irmão mais velho avisou à mãe, por volta das 14h, que sairia de casa para visitar um amigo e depois iria à Escola Nacional de Educação Técnica (Enet).
Às 20h30, não havia retornado para casa, e os pais saíram para procurá-lo.
Perguntaram a vizinhos, colegas de escola e ao clube de futebol, entre outros, mas ninguém sabia de nada. Pediram ajuda à polícia, mas foram orientados a manter a calma, pois provavelmente Diego tinha fugido com uma namorada e voltaria. As autoridades nunca assumiram o caso, segundo a família de Diego.
O pai, Juan Benigno Fernández, passou vários anos seguindo pistas sobre o paradeiro do filho. Ele morreu em um acidente de carro enquanto o procurava, segundo contou Javier à BBC News Mundo. A mãe, Irma Lima, hoje com 87 anos, também se dedicou durante anos a encontrar Diego.
“Até recentemente, ela ficava olhando pela janela para ver se Diego voltaria”, disse Javier.

Crédito, Família Fernández
2. Como foram encontrados os restos de Diego
Em 20 de maio, pedreiros faziam uma escavação em um terreno na rua Congreso, em Coghlan, para erguer um muro. Durante o trabalho, a cerca de 40 cm de profundidade, encontraram uma cavidade com ossos aparentes.
“Estávamos trabalhando normalmente quando o falecido apareceu. Estávamos escavando e o osso apareceu. Para descobrir o que era, começamos a cavar um pouco para ver se era um osso de animal ou não”, contou um dos pedreiros ao jornal La Nación.
Os restos mortais estavam no quintal da casa vizinha, colada à obra.
Mais tarde, soube-se que Cristian Graf, um colega de Diego da Enet, morava naquela casa com sua família em 1984.
Os pedreiros avisaram a polícia. Após análises preliminares, as autoridades confirmaram que eram ossos humanos.
O caso gerou uma cobertura significativa da mídia na Argentina porque inicialmente foi divulgado que os restos haviam sido encontrados em uma casa onde o cantor Gustavo Cerati morou por um tempo. Depois, esclareceu-se que se tratava do imóvel vizinho.
Um sobrinho de Diego viu a notícia e procurou as autoridades, ao associar o achado ao desaparecimento do tio, ocorrido quatro décadas antes.
A Promotoria local, com apoio de especialistas da Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), encontrou mais ossos e alguns pertences pessoais: uma gravata borboleta, um relógio, peças de roupa, um chaveiro e uma moeda, entre outros.

Crédito, Família Fernández
3. O relatório forense
A análise forense determinou inicialmente que a vítima era um jovem entre 16 e 19 anos, com 1,72 m de altura, que sofreu ferimentos de objeto cortante nas costas. Também havia sinais de agressões em outras partes do corpo.
Segundo Mariella Fumagalli, diretora da Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), Diego provavelmente levou uma facada nas costas. A especialista disse ao jornal La Nación que havia indícios de “tentativa de manipulação do corpo”, possivelmente para desmembrá-lo.
Fumagalli afirmou que o caso pode se tratar de homicídio, mas a conclusão cabe ao Ministério Público, após o fim da investigação em curso.
Os exames de DNA confirmaram que os restos eram de Diego Fernández. Também mostraram que os objetos encontrados correspondiam ao período do desaparecimento.
Ao todo, foram identificados 151 fragmentos ósseos.

Crédito, Família Fernández
4. As perguntas do caso
As autoridades tentam determinar o que aconteceu depois que Diego saiu de casa e como seus restos chegaram ao local onde foram encontrados.
Como o desaparecimento ocorreu há quatro décadas, se houver comprovação de homicídio, o crime já estaria prescrito pela lei argentina.
Ainda assim, as autoridades estão investigando o caso para determinar quem pode estar envolvido na morte de Diego e no enterro de seu corpo. O caso é conduzido pelo promotor Martín López Perrando.
Não há acusados até o momento. Cristian Graf, 58, foi chamado a depor porque os ossos foram achados no terreno que pertenceu à sua família em Coghlan.
Segundo a imprensa argentina, Graf e Fernández não eram amigos próximos, mas ambos gostavam de motos. Diego tinha uma, e Graf sabia fazer reparos nelas.
O advogado de Graf, Martín Díaz, afirmou que seu cliente “não tem nada a esconder” e “não responde a nenhuma acusação”. Ele vem colaborando com a investigação, segundo a defesa.
Mesmo assim, López pediu à Justiça que Graf seja investigado por “encobrimento agravado” e por “supressão de provas”.
Também foram chamadas a depor outras seis pessoas: os pedreiros que encontraram os ossos e ex-colegas de escola do adolescente. O teor dos depoimentos não foi divulgado.
Para a família, a descoberta e as investigações têm sido dolorosas. “Foi angustiante”, disse Javier Fernández, irmão de Diego.
Com reportagem de Cecilia Barría, da BBC News Mundo
Fonte.:BBC NEWS BRASIL