SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda nesta quarta-feira (23), após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recuar em seus ataques ao presidente do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), Jerome Powell.
O bom humor global ainda é reflexo da possível trégua nas tensões comerciais entre EUA e China, sinalizada pelo secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, na véspera.
Às 15h51, o dólar recuava 0,24%, cotado a R$ 5,713, desacelerando em relação às perdas de mais cedo. Já a Bolsa disparava 1,59%, a 132.550 pontos, depois de ter alcançado alta de mais de 2%.
Trump deu um passo para trás na última terça-feira. A jornalistas no Salão Oval da Casa Branca, disse que não tem intenções de demitir Jerome Powell, mas “gostaria que ele fosse um pouco mais ativo em termos de sua ideia de reduzir as taxas de juros”.
A declaração atenua as tensões instaladas pelo próprio presidente dos Estados Unidos, que, na última semana, ameaçou demitir o chefe do Fed e o chamou de “Sr. Tarde Demais” e “grande perdedor”. Na segunda, ele chegou a dizer que, caso o banco central não reduza os juros, é possível que a economia norte-americana desacelere.
O alvo nas costas de Powell levou o mercado a temer uma interferência política no Fed, cuja independência é um dos pilares do sistema financeiro dos Estados Unidos e, por consequência, da economia global.
“Se tem uma coisa que o mercado não gosta é briga entre o presidente de um país e o presidente do banco central desse país, que, por sinal, é o mais importante do mundo”, diz Alison Correia, analista de investimentos e sócio fundador da casa de análise Top Gain.
O Fed tem adotado uma postura de “ver para agir” diante das pressões econômicas causadas pela onda de tarifas de Trump. Diferentemente do Banco Central do Brasil, o dos EUA trabalha com um mandato duplo, isto é, baliza as decisões de política monetária pela inflação e pelo mercado de trabalho. O objetivo é manter os preços controlados, dentro da meta de 2% ao ano, e atingir o pleno emprego.
Mas especialistas dão como certo que as sobretaxas de importação aumentarão os preços ao consumidor final, o que pode levar a um repique inflacionário. Por outro lado, as medidas podem enfraquecer o mercado de trabalho, aumentando o desemprego. Cada um dos cenários fortalece decisões opostas sobre a política monetária: inflação elevada é combatida com juros altos; emprego fraco, com juros baixos.
As incertezas em torno das tarifas -cujas magnitudes já foram alteradas diversas vezes, em um vai-e-vém pouco previsível- colocou o Fed em uma posição delicada, e membros da autarquia, incluindo Powell, reconheceram que podem ser forçados a focar só na inflação ou só no desemprego.
Com o adiamento do tarifaço, essa discussão pode demorar semanas ou meses para de fato exigir uma movimentação, permitindo que o Fed, por enquanto, continue com a taxa de juros onde está até que fique claro qual será a decisão final de Trump e o impacto que ela terá sobre os empregos, os preços e as perspectivas econômicas.
Mas cautela é exatamente o que Trump não quer. Ele tem defendido o corte nas taxas de juros, hoje na banda de 4,25% e 4,5%, como forma de injetar dinamismo na atividade, que periga estar a caminho de uma “estagflação” -quando a inflação está elevada e a economia não cresce- por causa do tarifaço.
Os membros do Fed projetam até dois cortes de 0,25 ponto percentual na taxa este ano. No entanto, subiu de um para quatro o número de membros do comitê que espera que nenhum corte ocorra.
De qualquer forma, o recuo nos ataques a Powell traz alívio aos mercados por afastar, ao menos por ora, a incerteza sobre a independência do Fed.
Ao mesmo tempo, os operadores repercutem notícias de um possível arrefecimento da guerra comercial entre Estados Unidos e China.
De acordo com o jornal The Wall Street Journal, Trump está avaliando a possibilidade de reduzir para 60% as tarifas sobre produtos chineses.
A publicação ouviu altos funcionários da Casa Branca, que afirmaram que o governo estuda diminuir as taxas para 50% a 60%. Atualmente, a maioria dos produtos recebe tarifa de 145%, mas que pode chegar a 245% em alguns casos, como o carro elétrico, em decorrência de outras taxas cobradas pelos EUA.
Na terça, a agência Bloomberg já havia noticiado que Scott Bessent, do Tesouro dos EUA, disse que o impasse tarifário com os chineses é insustentável e que ambas as economias terão que encontrar maneiras de diminuir a tensão comercial.
O comentário foi feito em uma cúpula de investidores a portas fechadas organizada pelo JPMorgan Chase, sem presença de público ou membros da imprensa.
A desescalada vai acontecer em um futuro muito próximo, segundo Bessent. Ele caracterizou a situação atual como um embargo comercial, segundo pessoas presentes na sessão, e disse que o objetivo dos EUA não é se desvincular da China.
Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Guo Jiakun, afirmou que “se for uma luta, lutaremos até o fim; se forem negociações, nossas portas estão abertas”.
Jiakun insistiu que “a posição da China sobre a guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos é clara: não queremos uma guerra comercial, mas não temos medo de uma”. Segundo ele, “dizer que quer um acordo comercial com a China, enquanto mantém a pressão máxima, não é a maneira certa de se envolver com a China, e tampouco funcionará”.
As duas maiores economias do mundo estão em cabo de guerra desde 2 de abril, quando Trump anunciou o tarifaço. Com contra-ataques de ambos os lados, as taxas impostas a produtos chineses chegaram até 145%, e as aplicadas aos produtos norte-americanos pela China bateram 125%.
Um acordo abrangente entre os dois países pode levar mais tempo, algo em torno de dois a três anos, mas Bessent expressou otimismo ao dizer que as tensões podem diminuir nos próximos meses e, assim, trazer alívio aos mercados.
Fonte Noticias ao Minuto