Mesmo sem liberação para uso no Brasil, a ibogaína tem sido uma estrela de estudos científicos que buscam avaliar seu potencial no tratamento contra dependências químicas. No entanto, proibida em vários países por décadas, só recentemente ela começou a ganhar evidências (ainda iniciais) sobre os possíveis benefícios.
A substância é derivada da raiz da Tabernanthe iboga, uma planta africana conhecida simplesmente como iboga, com consumo ritualístico tradicional por alguns povos do continente, como os bwiti, no Gabão. Apresentada aos europeus no final do século 19, ela começou a se espalhar pelo resto do mundo desde então.
Em um primeiro momento, fármacos baseados na ibogaína chegaram a surgir no mercado. Na França, por exemplo, ela apareceu em um antidepressivo vendido até os anos 1960 com o nome comercial de Lambaréné.
Mas os relatos de uso inadequado da ibogaína por suas propriedades psicodélicas, somados a mortes associadas ao abuso da substância, levaram a um controle mais rígido, e sua subsequente proibição pelos Estados Unidos e outros países ocidentais.
Apenas em anos recentes ela voltou a ser investigada mais a fundo. Mas, afinal, será que ela realmente pode trazer vantagens à saúde?
+Leia também: Terapia psicodélica: LSD, psilocibina e ayahuasca podem virar tratamentos
Quais são os supostos benefícios da ibogaína?
O grande potencial que a ciência tenta confirmar na ibogaína é sua capacidade de combater crises de abstinência e ajudar no tratamento contra a dependência química. Há estudos em várias frentes, com drogas variadas, das legalizadas (como o álcool) às ilegais, como a cocaína ou o crack.
Pesquisas realizadas em diferentes países desde os anos 1990 têm demonstrado que a substância pode, sim, auxiliar nesse objetivo. E, em alguns casos, poderia ser inclusive mais eficaz do que os tratamentos convencionais. Mas essas afirmações não são consenso: também há trabalhos que não encontraram diferenças significativas e contraindicam a estratégia devido aos riscos associados a ela.
Isso porque, mesmo diante da possibilidade de um resultado positivo com a ibogaína, existe uma preocupação quanto aos seus efeitos adversos.
Determinar a dosagem correta é um desafio, já que a substância tem histórico de gerar arritmias cardíacas, alterações no estado emocional (mesmo quando administrada de maneira controlada) e potencial de interações imprevisíveis com medicamentos, entre outros problemas.
Em suma: embora o potencial exista e seja de interesse científico, a ibogaína não é uma panaceia, e continua tendo seu uso extremamente controlado devido à dificuldade de confirmar sua eficácia e segurança.
Situação regulatória gera dúvidas
É precisamente por esse histórico de evidências ambíguas que a ibogaína se encontra em uma situação que gera dúvidas no Brasil.
Por aqui, pode-se dizer que a planta está em uma espécie de meio-termo em prol da ciência: a Anvisa não libera seu uso indiscriminado, mas não proíbe completamente sua importação.
O que isso significa? Na prática, é possível importá-la para usos controlados, com fins de “pesquisas e trabalhos médicos e científicos”, segundo a resolução RDC 204/2006. Fora dessas situações, porém, a substância não está autorizada no país. Tanto a venda quanto os tratamentos oferecidos comercialmente são considerados irregulares.
Em seu site, a Anvisa enfatiza que “não foram apresentados estudos clínicos, técnicos ou científicos acerca da ibogaína. Portanto, não se pode afirmar que esta substância tem, de fato, efeitos medicinais.” A agência também reforça que “não existem também informações de possíveis efeitos colaterais que ela pode causar, caso seja ingerida.”
Compartilhe essa matéria via:
Fonte.:Saúde Abril