As doenças inflamatórias intestinais (DIIs) vêm ganhando cada vez mais atenção no cenário da saúde pública, e o Maio Roxo tem um papel fundamental nessa conscientização.
Criado para ampliar o conhecimento da população sobre essas doenças crônicas do intestino, o movimento busca também combater o preconceito, fortalecer o apoio aos pacientes e promover o diagnóstico precoce, que é essencial para a boa evolução do tratamento.
As DIIs englobam principalmente a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. Ambas são condições autoimunes que afetam o trato gastrointestinal e compartilham sintomas como dor abdominal, diarreia persistente, presença de sangue nas fezes, perda de peso e fadiga.
No entanto, é importante lembrar que essas doenças não se limitam apenas ao intestino. Elas podem ter manifestações sistêmicas, afetando articulações (artrite), pele (eritema nodoso, pioderma gangrenoso), olhos (uveíte, episclerite) e fígado (colangite esclerosante primária), impactando de forma ampla a saúde e o bem-estar do paciente.
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A importância do diagnóstico precoce
Quando não tratadas adequadamente, as DIIs podem evoluir para complicações graves, como obstruções intestinais, perfurações, fístulas e abscessos, especialmente no caso da doença de Crohn.
Em casos prolongados e mal controlados, há também o aumento do risco de câncer colorretal, especialmente entre os pacientes com retocolite ulcerativa extensa. Essa realidade reforça a importância de um diagnóstico precoce e de um acompanhamento médico contínuo.
Segundo uma revisão publicada na revista The Lancet, mais de 10 milhões de pessoas convivem com essas doenças no mundo, com aumento significativo dos casos nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Diversos fatores têm contribuído para esse crescimento, incluindo mudanças no estilo de vida, alimentação industrializada, urbanização e maior capacidade de diagnóstico.
O diagnóstico precoce faz toda a diferença no controle da doença. Entre os exames mais utilizados estão os exames laboratoriais (sangue e fezes), exames de imagem como tomografia e ressonância magnética do abdome, e a colonoscopia, que é o principal exame para visualização direta do intestino grosso e do íleo terminal.
A colonoscopia permite ainda a realização de biópsias, essenciais para confirmar o diagnóstico e diferenciar entre Chron e retocolite ulcerativa.
Tratamento e qualidade de vida
O tratamento das DIIs passou por avanços significativos nas últimas décadas. O objetivo não é apenas aliviar os sintomas, mas alcançar a remissão clínica e a cicatrização da mucosa intestinal.
Os tratamentos incluem desde medicamentos tradicionais, como aminossalicilatos e corticoides, até imunossupressores e terapias biológicas, que atuam em alvos específicos do processo inflamatório. Esses medicamentos biológicos, como os anti-TNFs, anti-integrinas e inibidores de JAK, têm mudado a forma como a doença é controlada, permitindo uma abordagem mais personalizada e eficaz.
Apesar das dificuldades, é plenamente possível viver com qualidade mesmo tendo uma DII. O suporte multidisciplinar é fundamental. A alimentação deve ser adaptada conforme os sintomas e o estágio da doença, com orientação de um nutricionista especializado.
Em períodos de crise, pode ser necessário restringir certos alimentos, enquanto na remissão é possível ter uma dieta mais ampla. O apoio psicológico também é essencial, pois o impacto emocional da doença pode levar à ansiedade, depressão e isolamento social. Grupos de apoio, redes de pacientes e o acompanhamento com psicólogos e terapeutas são aliados valiosos no enfrentamento diário.
O papel do Maio Roxo
A campanha Maio Roxo, no Brasil, é organizada por entidades como a Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite (GEDIIB). Ao longo do mês, são realizadas ações públicas, como a iluminação de prédios com luz roxa, caminhadas, eventos informativos e campanhas nas redes sociais.
Além de promover informação, essas ações ajudam a romper tabus e mostrar que as DIIs não são invisíveis — elas existem, afetam milhares de brasileiros e merecem atenção, empatia e investimento em políticas públicas.
Mais do que divulgar informações, o Maio Roxo representa uma mobilização em favor de pacientes que, muitas vezes, enfrentam estigma, desinformação e atrasos no diagnóstico.
Falar abertamente sobre as DIIs é uma forma de garantir acesso ao tratamento, incentivar a empatia e promover a humanização do cuidado. Que este mês sirva de porta de entrada para diálogos permanentes sobre saúde intestinal e qualidade de vida.
*Antonio Couceiro Lopes é cirurgião do aparelho digestivo e membro da Brazil Health
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)
Fonte.:Saúde Abril