Para entender a saga anti-migrante de Trump e aliados é necessário dissecá-la. Primeiro, a militarização na retórica e na tática: tratam migrantes como invasores inimigos contra os quais deve-se aplicar poderes excepcionais de tempos de guerra, inclusive o emprego do maior exército do mundo em reprimir protestos e uma polícia quase secreta para prisões em massa. Segundo, a criminalização de migrantes: tratam todo migrante como ilegal (exceto se for supremacista branca sul-africano), contra os quais deve-se aplicar a detenção ilegal e deportação em massa sem devido processo.

Não é trivial a escalada autoritária, agora com a prisão de autoridades que ousam desafiar os desmandos trumpistas. No curto intervalo de tempo, o primeiro senador latino eleito pela Califórnia foi algemado e jogado ao chão por ter feito uma pergunta na coletiva de imprensa com a secretária de Segurança Interna do país; uma juíza do estado de Wisconsin em abril foi detida sob acusação de obstruir fiscalização migratória; um candidato a prefeito de NY foi preso em uma corte de imigração na quarta-feira, e Trump ainda ameaçou prender o governador da Califórnia.

Com a ironia que apenas a passagem do tempo nos presenteia, EUA, sob Trump, se tornaram a personificação da visão distorcida empregada aos seus vizinhos pejorativamente chamados de repúblicas das bananas: instabilidade política, culto à personalidade e autoritarismo. A origem da expressão – cunhada pelo escritor americano O. Henry, no conto O Almirante, de 1904 – mostra que palavras podem transcender as páginas da ficção e ganhar vida real do vívido léxico político.

Nenhum ser humano é ilegal, inclusive migrantes. Pessoas sem documento, em grande parte por culpa do próprio governo americano que relega à marginalidade da lei famílias que vivem há gerações no país, não devem ser tratados com um carimbo de inferioridade, porque migrar é um direito. Se o projeto racista anti-migrante de Trump parece caótico, é porque é esta a intenção: autocratas com inspiração na realeza empregam o caos como arma política. Estados Unidos, bienvenidos a la monarquía de las bananas.

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