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- Author, Simon Cork
- Role, The Conversation*
As medicações para perda de peso, como o Wegovy (semaglutida) e Mounjaro (tirzepatida), são cada vez mais populares entre as pessoas que tentam emagrecer.
Mas o aumento dos chamados “bebês do Ozempic” (medicamento para diabetes com o mesmo princípio ativo do Wegovy) levou o órgão regulador dos medicamentos do Reino Unido a emitir orientações sobre o uso dessas medicações por mulheres em idade reprodutiva.
As orientações foram publicadas depois que a agência recebeu 40 relatos de gravidez inesperada de mulheres que haviam tomado um dos medicamentos para perda de peso. E é particularmente importante o efeito que estas drogas podem oferecer sobre a eficácia dos anticoncepcionais administrados por via oral.
As injeções para perda de peso (incluindo tanto de semaglutida quanto de tirzepatida) agem imitando o hormônio de ocorrência natural GLP-1, liberado pelo intestino após a alimentação. Uma das funções deste hormônio é ajudar a suprimir o apetite.
A tirzepatida age ainda sobre outro sistema hormonal de ocorrência natural chamado GIP, também conhecido como supressor do apetite.
O mecanismo que faz com que estas medicações influenciem o apetite tem múltiplas faces.
Primeiramente, elas inibem as regiões do cérebro associadas à fome. Este processo suprime o aumento do apetite que ocorre quando as pessoas perdem peso.
Atualmente, existe muito pouca literatura publicada investigando as interações entre as drogas de GLP-1 e os anticoncepcionais administrados por via oral.
Mas o efeito dessas drogas sobre o esvaziamento do estômago parece explicar, ao menos em parte, por que as pílulas anticoncepcionais orais podem não funcionar tão bem quanto o esperado.

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Um estudo de 2024 demonstrou que a tirzepatida reduziu em 20% a quantidade de etinilestradiol — uma forma sintética de estrogênio, que é um componente da pílula anticoncepcional oral combinada — presente na corrente sanguínea.
A droga também aumentou, em duas a quatro horas, o período de tempo necessário para absorção completa de etinilestradiol na corrente sanguínea.
Esta redução da absorção prejudica a capacidade da droga de suprimir a ação do sistema reprodutor nas mulheres, o que afeta seus efeitos contraceptivos.
Paralelamente, os efeitos da semaglutida sobre a absorção de etinilestradiol foram menos pronunciados.
O aumento do tempo necessário para absorção completa do anticoncepcional é, provavelmente, uma consequência da redução do esvaziamento gástrico, já que o etinilestradiol é principalmente absorvido no intestino delgado.
Os motivos que levam estes efeitos a serem mais pronunciados com a tirzepatida, em comparação com a semaglutida, ainda não foram esclarecidos.
Mas um estudo demonstrou que, embora as duas drogas afetem o esvaziamento gástrico em grau similar, a tirzepatida oferece efeitos muito mais duradouros.
Outros possíveis fatores
Dois efeitos colaterais comumente observados das drogas de GLP-1 incluem vômitos e diarreia. Eles afetam, respectivamente, 12% e 23% dos pacientes que consomem tirzepatida.
Os vômitos e a diarreia podem potencialmente interferir na absorção de todo tipo de medicamentos administrados por via oral, incluindo os anticoncepcionais. Isso ocorre porque as drogas podem ser expelidas do corpo antes de serem absorvidas pela corrente sanguínea.
Por este motivo, aconselha-se às pessoas que tomam pílulas anticoncepcionais que utilizem outro método contraceptivo adicional, caso vomitem ou sofram diarreia, para evitar a gravidez não programada.
Outro fator que poderia explicar a relação entre o uso de drogas de GLP-1 e a gravidez indesejada seria o efeito da perda de peso em geral sobre a fertilidade.
Também é provável que a perda de peso associada ao uso de drogas de GLP-1 gere aumento da fertilidade. Isso, por sua vez, pode fazer com que as mulheres fiquem mais propensas à gravidez, independentemente de tomarem anticoncepcionais orais ou não.
Até o momento, outras formas de anticoncepcionais aparentemente não são afetadas pelas drogas de perda de peso de GLP-1.
Os anticoncepcionais não administrados por via oral, como os dispositivos intrauterinos (DIUs), adesivos transdérmicos e implantes, provavelmente não são prejudicados, pois seus ingredientes ativos são absorvidos pelo fluxo sanguíneo independentemente do trato gastrointestinal.
Da mesma forma, barreiras físicas como os preservativos e DIUs de cobre também não são afetados.
Mas as mulheres que fazem uso de anticoncepcionais por via oral são aconselhadas a usar uma forma adicional de contracepção, não oral (como preservativos), por quatro semanas após o início da administração de semaglutida ou tirzepatida. É nesse período que os efeitos colaterais estão tipicamente no seu ponto mais alto.
Devido à falta de evidências sobre a segurança dessas medicações durante a gravidez, aconselha-se às mulheres que ficarem grávidas durante o uso de drogas para perda de peso que conversem com seu médico, para buscar medicações alternativas.
* Simon Cork é professor de Fisiologia da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL