Se tem uma coisa pela qual os vinhos italianos são famosos é a acidez. Essa característica, embora seja fundamental para deixar a bebida interessante e equilibrada, não é exatamente o que se pensa para o inverno. Mas resolvi apostar nela a partir de uma equação simples.
No frio, queremos vinhos mais alcoólicos, capazes de esquentar pés e orelhas. É também gostoso tomar algo mais encorpado, que pese um pouquinho na boca —mas, claro, sem pesar no estômago. Quem é capaz de realizar tal mágica? A acidez! Ao uni-la, então, a álcool e corpo no meu ideal de bebida, foi como girar um pequeno globo e vê-lo parar exatamente quando meu dedo apontava a bota italiana.
Separei seis rótulos tintos do país, resfriei as garrafas quase à temperatura ambiente da noite mais fria do ano (fazia, lá fora, 8 graus; fiquei nos 14) e me preparei para um pequeno painel que foi o puro deleite, com todos os vinhos apresentando 100% de aproveitamento —e eu sem tantas camadas de casacos.
O Fontanafredda Briccotondo D.O.C. Piemonte Barbera 2023 (R$ 134 na Wine), com 13,5% de álcool, é perfeito para acompanhar o momento em que se está cozinhando em boa companhia. É o mais leve e frutado de todos (cereja ao marrasquino) com toque de erva fresca. Simples, mas bem gostosinho, pode acompanhar uma massa com molho vermelho.
O achado da lista é também o mais econômico: Vezzani Nero Di Troia 2019 (R$ 99 na Caves Santa Cruz), que tem fruta supermadura e um mentolado super-refrescante na boca. Ótimo com queijos duros ou uma carne mais substanciosa, como costela de boi.
Se seu objetivo é impressionar, o Poderi del Paradiso Chianti Colli Senesi Riserva DOCG (R$ 236 na Casa Flora) é a garrafa certa: um Chianti supertípico mas com um requinte extra. Traz boa fruta (amora e cereja) com o clássico herbáceo (tomilho), boa adstringência e uma textura deliciosa. Com impressionantes 14,5% de álcool, não demonstra a gradação, apesar de esquentar tudo rapidamente (foi nesta altura que tirei o casaco).
Para o inverno, a Itália oferece a tradição da uva passificada, como o célebre Amarone. O problema é que ele é bastante caro, então incluí na minha lista três outros feitos com uvas parcialmente secas e preço amigável.
O Barone Montalto Passivento Terre Siciliane IGP Rosso 2020 (R$ 148 na Grand Cru), por exemplo, é feito com uvas da variedade nero d’avola sobremaduras que são secas antes de serem fermentadas, o que dá maior concentração de açúcar. Isso não significa que o vinho é doce. Traz notas de figo cristalizado, é muito redondo e aveludado. Vai bem com um frango assado.
O Biscardo Neropasso Originale Rosso Veneto IGT 2020 (R$ 101 na Grand Cru), um corte de corvina, merlot e cabernet sauvignon cultivadas no Vêneto, trouxe aromas e sabores mais complexos como figo em compota, cedro e menta. Na boca, a doçura é um pouco mais evidente, tem bom volume, densidade e adstringência, com taninos bem finos. Um ragu de cogumelos seria o par perfeito.
Já o Soprasasso Valpolicella Ripasso DOC 2017 (R$ 214 na La Pastina), digamos, se beneficia de um colega de região, o famoso Amarone. No método conhecido como ripasso, as cascas das uvas são adicionadas na fermentação. Com seus oito anos de garrafa, o Soprasasso traz notas de evolução como couro, cogumelo e canela (o que me fez desejar uma moussaka) e tem um final bem mentolado. É um vinho aveludado que vale a prova e gera assunto.
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Fonte.:Folha de São Paulo