São Paulo
A streamer Mariana Ayrez, comentarista da Kings League, está processando Victor Camilo, conhecido como Coringa da Loud, por suposta omissão e coautoria em um ataque coordenado contra ela na internet.
Segundo notícia-crime registrada pelos advogados de Mariana, ela foi xingada em massa por fãs de Coringa durante uma transmissão da Kings League no dia 31 de março. O F5 contatou a assessoria de imprensa de Coringa, mas até o momento ele não se manifestou sobre o caso.
Segundo a ação, Mariana teria sido “alvo de uma série de ataques cibernéticos de cunho misógino de forma reiterada, sistemática e coordenada”.
Thalles de Medeiros, advogado dela, explica que o processo busca responsabilizar Coringa e a empresa Loud, da qual ele é sócio proprietário, por responsabilidade criminal por omissão e possível coautoria dos ataques.
O advogado afirma que o espaço virtual da Loud tem moderadores de comentários, mas que a moderação não teria agido para inibir as ofensas de cunho misógino.
De acordo com ele, os ataques “geram engajamento”, o que indiretamente geraria lucro. “É importante destacar que a live alcançou mais de 2 milhões de visualizações e foi realizada com nítido propósito comercial e lucrativo”, diz o texto da ação, protocolada na última segunda-feira (23).
“Transformar o ataque a uma mulher em entretenimento não pode ser normalizado”, diz Mariana. Ao F5, a suposta vítima afirma que vai “tomar todas as medidas legais cabíveis” para que as redes sociais se tornem um espaço seguro para as mulheres. “Combater a misoginia não é uma escolha, é uma responsabilidade coletiva”, afirma a streamer.
‘VISUALIZAÇÃO É DINHEIRO’
A empresa, que tem entre os sócios o jogador Vini Jr., também está sendo processada por omissão e possível coautoria.
“Em vez de ter uma conduta para impedir que os fãs cometam esse tipo de ato, o que temos é uma empresa que lucrou com isso porque teve aumento de visualizações —e visualização é dinheiro”, diz Medeiros.
Uma investigação particular contratada pelo escritório que representa Mariana fala em “indícios de milícias digitais misóginas”.
“Durante a transmissão ao vivo, foram utilizadas expressões como ‘derrubar’, ‘denunciar’ e ‘espancar’, acompanhadas de ofensas de cunho misógino, menções diretas à vítima e tentativas coordenadas de promover a derrubada de seus perfis nas redes sociais”, diz o texto do processo.
OFENSAS VIRTUAIS
No dia seguinte à live, 1º de abril de 2025, Coringa teria reexibido um vídeo em que outro influenciador, chamado Oclenis, ofendia a suposta vítima.
“Quem é a vaca do cabelo loiro? Essa perua para mim não entende nada de futebol […]. Vai lavar louça, vaca! Tá tentando mexer com o chefe. Se não aguenta atrocidade, fica em casa, mulher! O meu chefe ainda teve paciência”, diz Oclenis. O “chefe” ao qual ele se refere seria Victor, de acordo com o processo.
Segundo o representante de Mariana, o vídeo teria sido republicado inúmeras vezes, inclusive pelo próprio Coringa, “diante de uma audiência de milhares de espectadores”.
“Apesar de demonstrar aparente constrangimento diante do conteúdo e retirado após o xingamento de ‘vadia’, Coringa prontamente relativizou os ataques, afirmando que Oclenis se tratava apenas de um personagem e classificando o episódio como mera ‘resenha’. Em nenhum momento, manifestou qualquer repúdio às ofensas ou solidariedade à vítima, contribuindo, por sua postura omissiva e ativa, para a naturalização dos ataques”, diz a ação judicial.
O advogado, no entanto, adverte que não há previsão legal expressa para esse tipo de caso, já que ataques virtuais em plataformas de streaming são algo recente. “Ele pode ser considerado coautor, partícipe, vai depender do entendimento do Ministério Público”, diz. “Mas o caso da Mariana não é isolado.”
OUTRO LADO
O F5 contatou a assessoria de imprensa de Coringa, que afirmou que o streamer ainda não havia sido informado do processo. Os advogados dele estão estudando a situação, mas não se manifestaram até a última atualização deste texto.
Fonte.:Folha de S.Paulo