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8 de julho de 2025

Michel Rolland, o enólogo mais requisitado do mundo – 07/07/2025 – Tinto ou Branco

Michel Rolland, o enólogo mais requisitado do mundo – 07/07/2025 – Tinto ou Branco

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O francês Michel Rolland construiu o perfil dos vinhos de Bordeaux como conhecemos hoje. Fez deles padrão para vinhos no mundo todo. Prestou consultoria para mais de 600 vinícolas em 22 países, entre elas a Miolo, no Brasil. Aos 77 anos, em passagem pelo Brasil para uma degustação do vinho argentino Clos de los Siete by Michel Rolland (Wine, R$ 124,90), diz que quer diminuir o ritmo de trabalho, apesar de continuar dando consultoria para 230 vinícolas em 14 países.

Tão polêmico quanto sempre, garante que tomou mais vinhos naturais ruins do que bons e afirma que não se faz um grande vinho sem usar carvalho. Aos críticos que dizem que ele abusa dos métodos que deixam um vinho com maior concentração de fruta, responde: “precisam aprender a degustar”. Leia entrevista exclusiva a seguir.

Os vinhos hoje são muito diferentes daqueles da época em que o senhor começou a trabalhar?

No vinho, nesses 50 anos, saímos da idade média e chegamos à modernidade. No início dos anos 1970, mesmo na França, era como a Idade Média. Hoje há bons vinhos em todo lugar.

Os vinhos de Bordeaux também eram ruins nos anos 1970?

Eram dos menos ruins. Alguns vinhos, dependendo da safra, eram incríveis, como o Château Lafite Rothschild 1959 ou Château Latour 1961. Mas havia um número enorme de vinhos ruins. Hoje, em todo lugar, se faz bons vinhos. O nível de qualidade nunca esteve tão alto.

Como era o vinho que o seu pai fazia no Château Le Bon Pasteur?

Por que acha que fui estudar enologia?….

O que acha do movimento de vinhos naturais?

Gosto de vinho natural, quando ele é bom. Talvez eu não tenha tido sorte, mas provei mais naturais ruins do que bons.

O que acha das críticas ao uso madeira no vinho?

Podemos fazer bons vinhos sem madeira. Não podemos fazer grandes vinhos. Mas usar madeira não significa usar madeira demais.

Uma vez, o senhor disse que a China nunca faria um bom vinho. Ainda pensa assim?

Eu disse que a China nunca fará grandes vinhos. É diferente. Continuo achando o mesmo. O clima é muito extremo. Mas é possível fazer bons vinhos. Faço bons vinhos por lá.

A Argentina já faz grandes vinhos?

Acho que sim. Na Mariflor, a minha entre as sete propriedades que formam o Clos de los Siete, tenho uma linha de grandes vinhos em homenagem a meus netos, a Nietos. O Clos de los Siete é um vinho muito bom de ótimo preço. Foi feito para isso. É um blend dos blends de quatro vinícolas.

O Brasil pode fazer grandes vinhos?

Certamente, sim. Precisa de tempo e trabalho.

Qual é o lugar mais desafiador onde você fez vinhos?

Índia. Onde não há solo, não há clima, não há pessoas, não há cultura. Mas nós fizemos vinhos corretos. Esse é o objetivo.

Algumas denominações da frança estão introduzindo uvas híbridas para enfrentar as mudanças climáticas. O que acha?

Acho que é uma estupidez. Fizemos isso há muito tempo. Na época da filoxera (praga do século 19), a França substituiu boa parte das uvas por híbridas. O vinho era horrível. Qual é o objetivo de ter produção se a produção é absolutamente intragável?

Há quem o critique por padronizar os vinhos e também quem diga que seus vinhos são muito extraídos, que têm muita fruta e muito corpo.

Se ninguém critica você, você não existe. Às vezes, são críticas pesadas e duras, mas ainda estou aqui. Não acho que estou sempre certo, mas talvez esteja menos errado do que os outros. A quem diz que meus vinhos são super extraídos, proponho que degustar às cegas. Vai ver que não é verdade. Se continuar achando que é verdade, precisa aprender a degustar.

Que tipo de vinho gosta de beber?

Quase todos os bons vinhos. Barolo, Borgonha, pinot noir, sangiovese, syrah, tempranillo, mas, claro, cresci sob uma planta de merlot. Tenho merlot no sangue.

Você bebe muito vinho?

Todos os dias. No almoço e jantar. E se eu tiver tempo para uma soneca, posso beber um pouco mais no almoço.

O que acha da tendência de vinhos de baixo teor alcoólico?

Baixo teor alcoólico, por que não? Se o vinho for bom. Sem álcool, de jeito nenhum. Não é vinho.


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Fonte.:Folha de São Paulo

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