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15 de agosto de 2025

Tarifaço em vigor deixa poucas opções ao Brasil – 06/08/2025 – Opinião

Tarifaço em vigor deixa poucas opções ao Brasil – 06/08/2025 – Opinião

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Sem surpresas más ou boas, entrou em vigor nesta quarta (6) a brutal sobretaxa imposta pelo governo de Donald Trump às vendas de produtos brasileiros ao mercado americano. As primeiras reações do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dão ideia de como são escassas as opções do país para enfrentar a agressão estrangeira.

Não se trata, afinal, de uma barganha comercial, mas de uma tentativa grotesca de intimidar as instituições responsáveis por processar e julgar Jair Bolsonaro (PL), lacaio de Trump acusado de tramar um golpe de Estado. Inexiste o que negociar, obviamente, nessa seara —e a ofensiva familiar em favor do ex-presidente só tende a agravar sua situação.

Em tal cenário, entendimentos diplomáticos são ofuscados por querelas ideológicas. As quase 700 exceções abertas no tarifaço de 50%, contemplando produtos como petróleo, aço, ferro, aviões e suco de laranja, deveram-se mais a interesses de consumidores e empresários americanos do que a esforços brasileiros.

As providências imediatas ao alcance do governo variam do simbólico ao paliativo. No primeiro caso, Brasília acionou os Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC), questionando motivações e procedimentos para a sobretaxação.

Os argumentos são corretos, mas não há como crer em resultados quando a maior potência do planeta assume como bandeira a rejeição ao multilateralismo.

Na segunda frente, o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, disse ter encaminhado ao Palácio do Planalto um plano de contingência que prioriza pequenos exportadores e inclui medidas nas áreas de crédito e compras governamentais. Não se deve esperar —nem seria sensato— um plano de grandes proporções.

O impacto esperado do tarifaço não chega a ser catastrófico, mas está longe de ser desprezível. Se os EUA são o destino de não mais de 12% das exportações brasileiras totais, que de resto têm peso modesto no Produto Interno Bruto (PIB), para determinados setores, como carnes e café, o mercado americano é crucial.

Estima-se que a tarifa média ponderada dos EUA sobre os produtos brasileiros tenha subido de menos de 10% para algo em torno de elevadíssimos 30%. Trump ainda tem outras retaliações à mão, como as que ameaça aplicar aos países que comercializem com a Rússia.

Sangue-frio, paciência e perseverança devem guiar a conduta brasileira doravante. Confrontações, mais que inúteis, são perigosas —e mesmo algum ganho político para Lula é duvidoso, como mostrou o Datafolha.

É possível que, com o tempo, a guerra comercial trumpista seja freada por pressões empresariais e políticas, ou até decisões judiciais. Enquanto isso, autoridades farão bem em mapear, em busca de aliados, setores da produção americana dispostos a contestar tarifas que os prejudicam. Ao menos a lógica econômica, desta vez, está do lado do Brasil.

editoriais@grupofolha.com.br



Fonte.:Folha de S.Paulo

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