Sydney Sweeney tem a ousadia de ser bonita, branca e famosa. Loira, olhos azuis, corpo violão —uma Barbie viva. Em sua recente campanha para a American Eagle, a atriz de “The White Lotus” e “Euphoria” ativou os sensores de alarme da “supremacia estética” e virou musa: não do jeans, mas de uma campanha acusada de promover eugenia.
Na peça publicitária, Sydney surge fechando o zíper da calça e diz: “Os genes são transmitidos de pais para filhos… Meu jeans é azul”. Em outro vídeo, aponta para os olhos (azuis, claro), e fala com uma voz calculadamente sexy: “olhos aqui em cima”, enquanto a câmera parece querer seguir outro caminho. Depois a palavra “genes” é riscada e substituída por “jeans”, fazendo uma brincadeira com a semelhança fonética entre as duas palavras.
A mensagem foi lida por muitos como uma glorificação da superioridade estética, da branquitude e da herança genética como um valor. Sim, isso ainda perturba. A beleza branca e magra não é neutra, é um privilégio vendido como a “beleza certa”. Achar que isso é acaso, ou apenas gosto pessoal, é perpetuar um jogo viciado.
Há críticas legítimas que precisam ser ouvidas. Quando se associa beleza a “bons genes”, especialmente num país com um histórico marcado por hereditariedade e privilégio racial, flertar com esse vocabulário exige mais do que esperteza publicitária. Reforçar um padrão estético excludente não é sexy. Como também não é nada sexy explorar o corpo da mulher e reduzi-la a uma silhueta. Disso, francamente, já estamos saturados.
O outro extremo é fingir que o desejo é neutro e tratar a beleza como transgressão. Convenhamos: algumas mulheres são mais gostosas do que outras —incluindo todas as cores, raças e formas. Não é teoria conspiratória. Temos exemplos nacionais que colocam a sensualidade de Sweeney na geladeira. Por que não aceitar o fato e simplesmente apreciar a paisagem?
A maioria das críticas veio de tiktokers, que marinaram seus cérebros na linguagem acadêmica de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão). Eles rotularam a campanha de elitista e supremacista. Do outro lado da trincheira, figuras como Ted Cruz e Donald Trump Jr. aproveitaram para politizar. Acusaram seus críticos de serem “contra mulheres bonitas”. Sim, é esse o nível do debate público: um cabo de guerra entre o moralismo identitário e a boçalidade.
Colunas e Blogs
Receba no seu email uma seleção de colunas e blogs da Folha
O que mais incomoda a brigada do ressentimento não é (só) o corpo de Sydney, mas o fato de ela se assumir como tal e se recusar a pedir desculpas por ele. “O maior equívoco sobre mim é que sou uma loira burra com peitos grandes”, disse. “Sou naturalmente morena.” E como se isso já não fosse ousado o bastante, revelou-se que ela se registrou como eleitora republicana na Flórida: crime ainda mais grave do que ser gostosa.
Nem o fato de a linha do jeans arrecadar fundos para vítimas de violência doméstica acalmou os indignados. “Como ousam usar os seios de uma mulher para vender caridade?”, berrou o tribunal da internet, para quem erotização e filantropia são incompatíveis.
A campanha foi feita para viralizar: ambígua, sexy, provocadora. Deu certo: as ações da empresa subiram quase 20% da noite para o dia. E serviu como mais um lembrete de que, hoje, qualquer gesto ou sílaba vira munição para a artilharia ideológica moral.
Sydney Sweeney tem bons jeans? Sim. Bons genes? Talvez. Mas o que ela tem mesmo é a audácia de ser uma mulher que pensa, fatura e escolheu se encaixar no padrão, sem culpas. Isso, sim, é revolucionário.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Fonte.:Folha de S.Paulo