Nunca se falou tanto em Alzheimer. Nas conversas cotidianas, nas mensagens de WhatsApp, nas redes sociais, na TV, nos livros, na imprensa… E faz todo o sentido. O mundo envelhece em um ritmo sem precedentes, e esse é um dos efeitos colaterais desse “progresso” também biológico.
Mas, como indivíduos, famílias e sociedade, não estamos preparados para encarar tamanho colapso cerebral, capaz de apagar as memórias, o dom do raciocínio, o planejamento no espaço e no tempo e a própria identidade. É um desafio árduo — para quem tem as funções cognitivas gradual e sucessivamente abolidas e para quem cuida desses milhões de pessoas.
Há uma boa e uma má notícia à vista. Começando pela negativa: a projeção é que, na esteira do aumento da expectativa de vida, o número de vítimas de demências — pois o Alzheimer é uma delas, a mais prevalente — decole nos próximos anos. A positiva: a ciência avança em descobertas que nos ajudam, hoje mesmo, a reduzir o risco de sofrer a erosão mental e a brecar a evolução da destruição dos neurônios.
Aí que está: esse é um quebra-cabeça ainda sendo montado; não conhecemos todas as peças nem como elas se encaixam completamente. E, infelizmente, não temos tecnologia para regenerar as células nervosas perdidas.
Demos grandes saltos, contudo, no conhecimento do Alzheimer, descortinando seus principais fatores de risco. “Se atuarmos neles, podemos prevenir mais da metade dos casos da doença”, me disse o neurologista Wyllians Borelli, que coordena o Centro de Memória do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, e é um dos principais nomes nessa área de pesquisa.
É evidente que essa não é uma tarefa singela. Até porque extravasa o foro pessoal. Depende de políticas públicas e de um programa de Estado que atue para melhorar a educação básica — pois a falta de escola contribui para demências lá na frente —, aprimore a infraestrutura das cidades para o povo se mexer (sedentarismo fomenta o Alzheimer), capacite as equipes de saúde e viabilize o acesso ao diagnóstico precoce.
Mas a jornada, apesar de dura, dá motivos de esperança. Há pouco tivemos a aprovação do primeiro tratamento que muda a trajetória do Alzheimer, dirigido a casos iniciais. O CEO global da Eli Lilly, laboratório que criou a droga, me contou que eles já conduzem estudos com o medicamento para pacientes que, tendo um exame positivo para a doença, ainda não desenvolveram sintomas.
A ideia é intervir cedo, a ponto de não deixar o problema se manifestar. “Esse é o futuro”, disse David Ricks. Tomara. Enquanto ele não chega, há muito trabalho a ser feito — pelos pacientes, pelos cuidadores e por todos nós que envelhecemos.
Reconhecimento
A repórter Larissa Beani, autora da esclarecedora reportagem de capa sobre Alzheimer, participou neste ano da Jornada Galápagos, uma imersão de jornalismo de saúde para estes novos tempos. Ao fim do curso, apurou e redigiu uma matéria sobre o altíssimo custo de tratamentos modernos que estão chegando ao país — Terapias de Milhões.
Esse trabalho foi condecorado pelo comitê organizador do evento e Larissa foi uma das selecionadas para cobrir o próximo congresso europeu de oncologia, em Berlim. Esforço reconhecido cuja premiação ainda vai render outras pautas em VEJA SAÚDE.
Fonte.:Saúde Abril