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18 de agosto de 2025

Vi Você Lendo é hit ao publicar fotos de leitores no metrô – 18/08/2025 – Você viu?

Vi Você Lendo é hit ao publicar fotos de leitores no metrô – 18/08/2025 – Você viu?

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São Paulo

Entre o barulho das portas automáticas, o sacolejar dos trilhos e a pressa dos horários de pico nos trens e metrôs da cidade, a cena silenciosa de uma pessoa lendo chama a atenção do jornalista Fernando Piovezam. Seja com um livro aberto, um Kindle equilibrado na mão ou até mesmo o celular transformado em biblioteca portátil, esses leitores urbanos viraram o foco de seu olhar desde 2016.

Fernando passou a clicá-los e as imagens recheiam o perfil Vi Você Lendo, no Instagram. “Tive a ideia, a princípio, como uma homenagem aos leitores que sofrem no transporte público, porque às vezes as pessoas estão esmagadas, apertadas, mas continuam lendo. Acho isso incrível”, conta.

A ideia nasceu de um hábito pessoal: Fernando vive em Itaquera e trabalha no centro de São Paulo, e passa cerca duas horas por dia no transporte público. Durante esse tempo, alternava entre a leitura de clássicos e thrillers contemporâneos e, um dia percebeu que, apesar de a maioria dos usuários estar conectada ao celular mandando mensagens ou vendo vídeos, outros, assim como ele, mantêm o hábito de ler no vagão.

O jornalista passou a observar o que as outras pessoas estavam lendo (quem nunca?) —e começou a fotografá-las, sempre pedindo autorização antes de publicar. O @vivocelendo bateu os 11 mil seguidores e publicou mais de 700 fotos.

Cada clique vem acompanhado de uma breve sinopse do livro, despertando curiosidade em quem acessa o conteúdo. “O meu perfil é exclusivamente de homenagem aos leitores e incentivo à leitura. Ele vem para tirar esse estigma de que brasileiro não lê. Pode ser que não leia muito, mas lê, sim“, defende.

As fotos flagradas nos vagões revelam preferências diversas: Stephen King e Colleen Hoover dividem espaço com obras religiosas, autoajuda e autores nacionais. Ele garante que não há preconceito com formatos. Se estiver lendo, ele clica.

“Já me cobraram dizendo que o perfil era elitista, que só mostrava livro impresso. Mas eu também fotografo quem está no Kindle ou fazendo uma leitura no celular. Já vi até duas pessoas no mesmo vagão lendo o mesmo título, uma no físico e outra no digital. Sensacional”, lembra, animado.

Além das fotos, Fernando expandiu o projeto com transmissões ao vivo, convidando escritores iniciantes e poetas para conversas sobre suas obras e o processo criativo. Também passou a divulgar eventos literários —como uma exposição sobre Machado de Assis no Itaú Cultural— e até a postar poemas de sua autoria. “É uma corrente do bem. A pessoa vê a foto, se interessa, começa a ler, e quer também ser vista no perfil. Isso vai contaminando positivamente”, afirma.

Nem tudo é previsível nos vagões. O jornalista lembra de apenas um contratempo em quase dez anos de projeto: “Uma vez, um rapaz autorizou a foto, eu postei nos stories, mas, minutos depois, ele pediu para apagar porque a namorada não queria. Apaguei na hora, sem problema.” Fora isso, a receptividade costuma ser calorosa, com gente até pedindo para ser fotografada.

Entre as linhas de metrô e trem, Fernando já percebe padrões: “A linha amarela e a linha azul têm mais leitores do que a vermelha e a Coral da CPTM. Já cheguei a ver quatro pessoas lendo no mesmo vagão. Inspira, deixa o nosso coração quente.” Hoje, seu olhar de caçador de leitores segue afiado. E, enquanto registra a leitura alheia, ele também cultiva a própria, revisitando clássicos e explorando novos autores.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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