É inquietante constatar que o nível dos reservatórios de água da Grande São Paulo, responsáveis pelo abastecimento de 21 milhões de pessoas, atingiu o índice mais baixo desde a crise hídrica de 2014-15.
As agruras da maior seca documentada na região seguem vivas na memória e impingiram dolorosa mudança de hábitos: uma rara estiagem causou interrupções no fornecimento e baixa pressão por meses, especialmente nos bairros mais altos e periféricos.
À época ficaram evidentes a insuficiência no planejamento hídrico da Sabesp (a companha de abastecimento do estado, privatizada há um ano) diante de situações excepcionais. O problema é que episódios de seca continuada podem não ser tão excepcionais assim num cenário de agravamento da crise climática.
De lá para cá, contudo, não há dúvidas de que a empresa reforçou sua infraestrutura. Sob controle estatal, ampliou a interligação entre os sistemas, o que permite redistribuir a transferência de água para reequilibrar os níveis, e atuou na recuperação de nascentes, bacias e mananciais.
Ainda assim, as medições dos últimos tempos geram preocupação. O nível dos sete reservatórios que abastecem a Grande SP era de 72,5% em 2023, 59,6% em 2024 e, no último dia 14, estava em 41,1% —uma baixa de 31,4 pontos percentuais em dois anos.
Se em 2015, auge da crise histórica, os reservatórios agonizavam com 11,4% da capacidade nessa mesma data, é forçoso recordar que em, 2013, um ano antes da grande estiagem, o volume estava em 61,1%; ou seja, 20 pontos acima da situação atual.
Com um agosto mais seco que o normal, os percentuais devem continuar em queda até o final de setembro. Técnicos da Sabesp e do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) descartam a volta dos traumáticos racionamentos, mas campanhas de conscientização já estão no horizonte.
De fato, de modo geral, o uso consciente da água ainda está longe do ideal —ainda que, desde 2015, a redução per capita tenha chegado a cerca de 15%.
Cabe à Sabesp, também, conter as perdas, um flagelo do abastecimento: 29,5% da água tratada é desperdiçada em vazamentos ou ligações clandestinas; abaixo da média nacional, mas bem aquém dos padrões internacionais.
A combinação de crescimento populacional e clima instável exige desde já planejamento urbano de longo prazo, soluções integradas de conservação e pesado investimento em infraestrutura —mundo afora, outras regiões metropolitanas já vivem a escassez hídrica como rotina diária.
Fonte.:Folha de S.Paulo