IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, disse nesta quarta-feira (20) que a Rússia tem de estar presente em qualquer discussão acerca de garantias de segurança para a Ucrânia em caso de um acordo de cessar-fogo na guerra iniciada por Moscou em 2022.
Ele indicou o caminho que considera ideal: a retomada da proposta russa na negociação rompida no fim de março de 2022, em conversas entre os rivais em Istambul. Ou seja, um direito a veto da Rússia ao acionamento de tais garantias.
O plano que quase encerrou a guerra naquele ponto previa uma coalizão de Estados garantidores da segurança de Kiev, como forma de dissuadir nova invasão russa. Só que o grupo incluiria a Rússia, e um consenso seria exigido para acionar o plano de defesa.
É uma provisão com ares kafkianos: os russos deveriam autorizar países europeus a ajudarem os ucranianos a se defender dos russos. Por óbvio, a diplomacia de Moscou embala a ideia de forma diferente, como um mecanismo de confiança mútua, mas na prática isso impediria a tal dissuasão.
Ela virou um ponto tão importante quanto as cessões territoriais que a Ucrânia deverá fazer, segundo o presidente Donald Trump, para chegar a uma trégua. Nesta quarta, os chefes de Estado-Maior da Otan, a aliança militar liderada pelos Estados Unidos, participaram de uma reunião virtual para debater o assunto.
Segundo a agência Reuters, não houve nenhuma decisão ou encaminhamento, apenas especulações de cenários. Outras conversas deverão ser feitas no mesmo formato, sem publicidade.
Lavrov afirmou que a Rússia apoia “garantias confiáveis” e que o plano de Istambul “é um bom exemplo” disso. “Espero que os EUA saibam que discutir garantias sem a Rússia leva a lugar nenhum”, afirmou em entrevista coletiva em Moscou.
Ele também disse que a China deveria participar dessa coalizão de países garantidores. A ditadura comunista é a principal aliada do Kremlin, ainda que não esteja envolvida diretamente na guerra. Lavrov não detalhou como seria o formato das garantias em si.
Elas estiveram no centro das conversas entre Trump, Volodimir Zelenski e seis líderes europeus na segunda (18), na Casa Branca. O americano relatou a eles que Vladimir Putin havia aceitado, na cúpula realizada três dias antes no Alasca, algum tipo de proteção no estilo do artigo 5 da aliança.
Ele prevê a defesa mútua em caso de agressão. O nó é que os europeus querem uma força de paz em solo na Ucrânia para demonstrar que a intenção é séria, enquanto a Rússia veta a ideia de saída -a invasão, afinal, foi justificada entre outros pontos pelo imperativo de impedir a entrada do vizinho na Otan.
Na própria segunda, questionado por repórteres no Salão Oval antes da reunião ampliada com os europeus, Trump disse que nada estaria descartado, inclusive tropas em solo. O Kremlin emitiu nota reiterando seu posicionamento -no ano passado, Putin ameaçou a França com guerra nuclear quando Emmanuel Macron abraçou a ideia da força de paz.
Ao fim do encontro de segunda, Trump ligou para Putin e anunciou que está preparando uma cúpula entre o russo e Zelenski, da qual ele quer participar num segundo momento. Até aqui, o Kremlin não confirmou peremptoriamente a ideia, o que sugere mais um voluntarismo do americano em sua busca por um Nobel da Paz.
Após o anúncio da solução ao estilo do artigo 5, Trump disse na terça (19) que descartava totalmente enviar tropas americanas para a Ucrânia, mas que poderia considerar apoio aéreo ao esforço dos europeus. O vaivém enerva Kiev e Bruxelas, cientes de que republicano alinhou-se novamente à argumentação russa sobre o conflito.
Mesmo Lavrov citou isso nesta quarta, dizendo que “os EUA têm cada vez mais noção clara das causas” da guerra.
Os combates continuam. Os ucranianos lançaram uma onda maciça de drones contra a Rússia ao longo da madrugada, e Moscou fez um ataque particularmente destruidor contra Odessa, no sul do vizinho. Lá, uma central de estocagem e distribuição de gás foi atingida, gerando um grande incêndio.
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Fonte. :. Noticias ao minuto