É bastante educativo ir à França quando se é um bebedor de vinho dedicado. Com séculos de história, cultura e tradição na bebida, o país ensina sua filosofia e dá dicas práticas. Vamos a elas.
A primeira lição é que devemos explorar lojinhas especializadas sem medo dos preços —sempre haverá algo interessante e amigo do bolso. É nas pequenas lojas que vemos vinhos de pequenos produtores e regiões desconhecidas, que têm qualidade surpreendente mas não têm escala para os grandes mercados.
Um alerta: olhos abertos para as lojas muito moderninhas, tanto lá quanto cá, que podem caprichar mais na etiqueta das garrafas que no conteúdo (já caí nesse conto, sei do que estou falando).
Em Paris, a Trois Fois Vin, no Marais, é um achado. A proprietária Marie-Dominique Bradford faz um trabalho de pesquisa cuidadoso há 20 anos e reúne descobertas que valem cada suado euro, do Jura ao Roussillon. No Brasil, não é diferente: uma visita a uma loja especializada com bons atendentes, preparados, claros, honestos e atenciosos, vale por uma aula.
Isso tudo não quer dizer que o supermercado francês deve ser desprezado, afinal é lá que está o preço mais atraente de produtores de larga escala e das AOCs (denominações de origem controlada) mais conhecidas.
Já nos restaurantes da França, para pedir um vinho de forma mais acertada, é preciso conhecer as regiões e saber que elas têm suas uvas próprias: sempre haverá uma lista do que é permitido, o restante fica proibido.
Em alguns lugares a lista é curta (como o Beaujolais); em outras é mais longa (caso de Côtes du Rhône). Em todos os casos as uvas não estarão discriminadas na carta — use o celular para pesquisar. Se o vinho foge desse riscado e usa variedades de fora da região, a garrafa não informará a procedência e vira Vin de France. Não significa que é ruim, e sim que foge da regra.
Para saber o estilo do vinho, pense no clima: quanto mais quente, mais potente; quanto mais frio, mais elegante. Assim, Champagne, Borgonha, Alsácia terão mais acidez e delicadeza. Já Châteauneuf-du-Pape e o Rhône sul farão vinhos mais opulentos.
Como saber se o vinho é realmente bom sem provar? Um jeito é conhecer quem o faz. Usar boas fontes, guias clássicos como o de Hugh Johnson, sites confiáveis, publicações especializadas (a “Revue du Vin de France”, por exemplo) e autores idem é o caminho; fuja dos sites colaborativos tipo Vivino, que são bons mesmo é para sua própria organização.
Também aprendi com os franceses que há certos momentos em que o vinho não deve ser levado tão a sério. Se você senta num café e pede uma taça, pode ser que ela venha acompanhada de um baldinho de gelo. Foi assim que chegou a mim um rosé no Café Charlot, frequentado por turistas e locais. Ali tive mais um aprendizado: um rosado provençal faz uma baita harmonização com batatas fritas.
Por fim, sobre os cafés, é muito comum que sirvam vinhos mais genéricos, então é bom ir com baixa expectativa e guardar o seu dindin para bares especializados ou restaurantes — alô Les Enfants Rouges, alô Nosso. E, claro, para a tal lojinha. Nada como, depois de comprar sua garrafa, pegar uma baguete na padaria que só vende pão e um queijo na fromagerie que só vende queijo e fingir ter uma vida parisiense normal.
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Fonte.:Folha de São Paulo