
Crédito, Getty Images
- Author, Bernd Debusmann Jr
- Role, Da BBC News em Washington
A mulher que foi parceira de conspiração e namorada do bilionário pedófilo Jeffrey Epstein disse às autoridades americanas que ela nunca presenciou nenhuma atitude inapropriada do presidente Donald Trump ou do ex-presidente Bill Clinton.
Ghislaine Maxwell, que ajudava Epstein e está presa, deu uma entrevista ao procurador geral Todd Blanche em julho. Segundo dados revelados agora por Blanche, ela disse que não existe uma “lista de clientes” de Epstein.
Muitos especulam que talvez exista uma “lista de clientes” — de pessoas famosas que teriam de alguma forma participado dos crimes praticados por Epstein. Mas isso nunca foi comprovado. O próprio Epstein morreu na prisão em 2019, enquanto aguardava julgamento por tráfico sexual.
Maxwell também disse que as alegações de que o príncipe Andrew — irmão do rei Charles 3º — teria se relacionado com uma menor de idade na sua casa são “inconcebíveis”.
Ghislaine Maxwell vem tentando receber um perdão oficial de Trump. Ela é acusada de mentir às autoridades.
Após conversar com Blanche, Maxwell foi transferida de sua prisão na Flórida para outro local de segurança mínima, no Texas. O motivo da transferência não foi divulgado.
Maxwell está cumprindo pena de 20 anos por participar de um esquema de tráfico sexual. Ela está com um recurso na Suprema Corte para reverter essa decisão. Seu advogado também pede que ela receba um perdão de Trump.
A Casa Branca afirma que não há discussões em andamento para perdoar Maxwell.
Trump diz que brigou com Epstein em 2004. Ele acusa seus rivais políticos de usarem o caso politicamente contra seu governo.
Mas mesmos políticos republicanos do seu próprio partido têm cobrado mais transparência sobre o caso Epstein.
O que as novas declarações de Maxwell revelam
Na transcrição da conversa, que tem mais de 300 páginas — incluindo vários trechos censurados —, Maxwell diz que, apesar de Trump e Epstein aparentarem ter relações amistosas em público, ela não acredita que eles fossem próximos.
“Eu nunca vi o presidente em nenhum tipo de ambiente de massagem”, disse ela, em referência às massagens relatadas por algumas das vítimas de Epstein. “O presidente nunca se comportou de forma inapropriada com ninguém.”
“Nos momentos em que estive com ele, ele foi um cavalheiro em todos os sentidos.”
Ela disse não lembrar de Epstein ter recebido um bilhete de Trump pelo seu aniversário de 50 anos em 2023 — ao contrário do que foi noticiado recentemente pelo jornal Wall Street Journal.
Na conversa, Blanche pergunta a Maxwell sobre a suposta lista de clientes famosos.
Ele pergunta sobre diversos nomes: os bilionários Bill Gates e Elon Musk, o ex-premiê israelense Ehud Barak, o secretário de Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., o ator Kevin Spacey, a modelo Naomi Campbell e o príncipe Andrew — que ela nega ter apresentado a Epstein.
A suposta lista tem sido fruto de muitas especulações e teorias da conspiração de pessoas que insistem que existe um segredo que estaria sendo acobertado pelo “Estado profundo” para proteger famosos supostamente envolvidos nos crimes de Epstein.
Alguns integrantes do governo Trump — como o diretor do FBI, Kash Patel, e o vice-diretor do FBI, Dan Bongino — fizeram alegações semelhantes no passado, mas se distanciaram desses comentários recentemente.
“Não existe uma lista”, disse Maxwell.
Trump e príncipe Andrew
Maxwell também falou sobre o príncipe Andrew, cujo relacionamento com Epstein acabou forçando o fim de suas atividades como integrante da família real britânica.
Ela disse que se trata de uma “mentira descarada” a informação de que ela teria apresentado Andrew a Epstein.
“Antes de mais nada, vamos deixar claro que não fui eu quem o apresentei ao príncipe Andrew”, disse ela.
Maxwell também falou sobre o suposto relacionamento do príncipe Andrew com uma mulher cujo nome foi omitido na transcrição.
Ela foi questionada sobre uma “foto famosa” do príncipe Andrew e a mulher não identificada, com Maxwell ao fundo. Ela disse a Blanche que a foto era falsa.
O príncipe foi acusado por Virginia Giuffre, cujo nome não consta na transcrição, de abusar sexualmente dela quando ela tinha 17 anos. Ele negou as acusações, mas chegou a um acordo financeiro com ela em 2022, que não continha admissão de responsabilidade ou pedido de desculpas.
Uma foto amplamente divulgada o mostra ao lado de Giuffre, com Maxwell ao fundo. Andrew também contesta a autenticidade da imagem.
Giuffre se matou no início deste ano. Sua família criticou o Departamento de Justiça dos EUA por entrevistar Maxwell e disse que ela é um “monstro” em cujo depoimento não se pode confiar.
De acordo com Maxwell, ela fez amizade com Epstein pela primeira vez em 1991 e, posteriormente, desenvolveu um relacionamento sexual com ele.
Mesmo após o fim do relacionamento, ela disse que ainda recebia de Epstein até US$ 250 mil por ano até 2009 — e que continuava tendo uma “amizade colorida”. Ela acrescentou que o relacionamento deles foi “quase inexistente” entre 2010 e sua morte.
Epstein cometeu suicídio em uma cela de prisão de Nova York em 2019, enquanto aguardava julgamento por acusações de tráfico sexual.
“Não acredito que ele tenha cometido suicídio, não”, disse Maxwell quando questionada, embora tenha acrescentado que “não tinha nenhum motivo” para acreditar que ele tivesse sido morto na tentativa de silenciá-lo.
“É ridículo”, disse ela sobre as teorias de que ele foi assassinado. “Também acho que, se fosse isso que eles queriam, teriam tido muitas oportunidades quando ele não estava na prisão.”
“E se estivessem preocupados com chantagem ou qualquer coisa dele, ele teria sido um alvo muito fácil”, disse.
No início deste ano, surgiram relatos de que Trump teria sido informado pela Procuradora-Geral dos EUA, Pam Bondi, que seu nome constava nos arquivos oficiais da investigação sobre Epstein.
Trump nunca foi acusado de qualquer irregularidade relacionada ao caso e, durante a campanha eleitoral, no ano passado, afirmou que divulgaria mais informações sobre o caso se fosse eleito.
Mas ele mudou de posição meses após o início de sua gestão, afirmando que o caso estava encerrado, e criticou apoiadores e jornalistas que continuaram a pressioná-lo.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL