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- Author, Lindsey Galloway
- Role, BBC Travel
Em 2025, a paz pode ser vista como uma mercadoria rara.
O GPI, produzido pelo Instituto para Economia e Paz, monitora 23 indicadores em 163 países, que vão desde conflitos externos e gastos militares a medidas de segurança e proteção, terrorismo e homicídios.
Apesar de ter melhorado seu índice em relação ao ano passado, o Brasil aparece em 130° lugar no ranking, com um índice de paz considerado baixo. Na América do Sul, só aparece atrás da Venezuela e Colômbia — considerada a menos segura do continente.
Apesar do atual cenário, algumas nações continuam a priorizar a paz.
Os países posicionados no topo do ranking têm se mantido consistentes por quase duas décadas, demonstrando a estabilidade que políticas pacíficas podem trazer a longo prazo.
A BBC conversou com moradores das nações consideradas as mais seguras do mundo para entender como essas políticas moldam o dia a dia — e o que lhes proporciona essa sensação única de tranquilidade.
Islândia
Número um do ranking desde 2008, a Islândia continua sendo a nação mais pacífica do mundo, liderando em segurança, baixo número de conflitos em andamento e militarização.
Este ano, o país registrou até mesmo uma melhora de 2% no GPI, aumentando a distância em relação ao segundo colocado na lista.
Para moradores, essa sensação de segurança está presente no dia a dia.
“Apesar das condições climáticas rigorosas, especialmente no inverno, nem sempre transmitirem uma sensação de segurança, a comunidade transmite”, afirma Inga Rós Antoníusdóttir, que nasceu na Islândia e é gerente geral de uma agência de viagens.
“Você pode caminhar sozinho durante a noite, sem se preocupar. Vai ver bebês dormindo tranquilamente em carrinhos do lado de fora de cafés e lojas, enquanto os pais aproveitam para fazer uma refeição. E a polícia local não carrega armas.”

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Inga atribui a liderança às políticas de igualdade de gênero, que fazem com que as mulheres se sintam realmente seguras.
“Oportunidades iguais e sistemas sociais robustos criam uma sociedade mais justa e segura para todos”, afirma.
Ela recomenda que os visitantes experimentem essa tranquilidade interna participando de rituais cotidianos dos moradores.
“Vá nadar em uma piscina geotérmica e converse com estranhos na banheira de água quente. Faça uma trilha em uma montanha, seja de uma tarde ao Monte Esja ou de vários dias nas terras altas”, disse.
“A verdadeira Islândia é encontrada em sua vibrante cena musical e artística, na natureza, longe dos pontos turísticos principais e em todos os tipos de clima.”
Irlanda
Embora tenha sido marcada por conflitos ao longo do fim do século 20, a Irlanda de hoje coloca a paz em primeiro lugar.
O país recebeu pontuações especialmente altas pela redução de sua militarização ano após ano e foi classificada como um dos países com menos conflitos domésticos e internacionais em andamento.
Isso a colocou entre os 10 melhores países em segurança e proteção da sociedade, com baixa percepção de criminalidade e violência.
Esse sensação se estende por todo país, segundo os moradores.
“Um sentimento profundo de comunidade e cordialidade faz com que você se sinta bem-vindo e à vontade, seja em uma cidade pequena ou na cidade grande”, afirma Jack Fitzsimons, morador de Kilkea Castle.
Ele acredita que sistemas fortes de apoio social e o foco no bem-estar da comunidade também reduzem a desigualdade e a tensão.
“As pessoas cuidam umas das outras aqui”, afirma. “É o tipo de lugar onde você pode pedir ajuda a um estranho e ele fará de tudo para te ajudar.”
No cenário global, o país mantém uma neutralidade militar (o que o impede de ser um membro oficial da Otan — sendo um dos quatro países europeus sem filiação) e prefere resolver conflitos por meio da diplomacia.
Dentro do país, a prioridade é a preservação das paisagens e dos sítios culturais, garantindo que os viajantes se sintam bem-vindos.
“Ainda me surpreende o quanto os visitantes ficam admirados com a cordialidade dos irlandeses. Isso é parte da nossa essência, nós temos um um sentido inato de hospitalidade com visitantes estrangeiros”, comenta Fitzsimons.

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A natureza tranquila da Irlanda também contribui para essa sensação de paz.
“Você nunca está longe de um castelo, de uma caminhada na floresta ou de uma sessão de música tradicional em um pub”, diz Fitzsimons.
“A vida aqui segue um ritmo mais relaxado, as pessoas ainda valorizam a conversa. Essa conexão humana realmente se destaca.”
Nova Zelândia
Este ano, a Nova Zelândia subiu duas posições e chegou ao terceiro lugar do ranking, graças a melhorias nos indicadores de segurança e baixas manifestações relacionadas ao terrorismo.
Como uma ilha no Pacífico, a geografia da Nova Zelândia oferece ao país uma proteção natural contra conflitos externos, mas suas políticas internas também trazem para os moradores um sentimento de paz.
“As leis de armas na Nova Zelândia estão entre as mais rígidas do mundo, o que contribui enormemente para a sensação de segurança”, afirma Mischa Mannix-Opie.
Ela destaca que é um lugar onde as crianças caminham para a escola, as pessoas deixam as portas destrancadas e os motoristas param para ajudar se um carro estiver quebrado na estrada.
“Há uma confiança geral nas pessoas e nos sistemas ao redor, o que cria esse senso real de comunidade no dia a dia.”
Além da forte rede de proteção social e do acesso à saúde universal, os neozelandeses valorizam sua conexão como a natureza, seja caminhando na praia, fazendo trilhas no mato ou tomando uma taça de vinho sob as estrelas, diz Mannix-Opie.
O senso de comunidade também se traduz em muitos festivais e eventos para todas as idades, com ênfase em ambientes familiares.

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Embora muitos visitantes viajem até a Nova Zelândia pela paisagem, é a sensação de segurança e de pertencimento à comunidade que deixa a melhor impressão.
“Para além das paisagens de cartão-postal, a Nova Zelândia tem uma profundidade real. As pessoas são genuínas, a cultura Maori é rica e sempre presente, e o ritmo mais lento da vida pode realmente mudar a sua perspectiva”, diz Mannix-Oppie.
“Um cliente me disse uma vez que, apesar da Nova Zelândia seja bonita, é o nosso povo que é o nosso superpoder.”
Áustria
A Áustria caiu uma posição este ano e foi para o quarto lugar, mas ainda se classificando bem em todos os indicadores.
Assim como a Irlanda, a Áustria adota uma política de neutralidade, o que a impede de se juntar a alianças militares, como a Otan. Isso permite que o país foque sua atenção e recursos internamente.
“A política de neutralidade da Áustria, mantida por décadas, significa que a nação investe em seu povo em vez de conflitos”, diz Armin Pfurtscheller, que é proprietário de um hotel no país.
“Uma forte rede de proteção social, saúde de classe mundial e excelente educação promovem estabilidade e confiança.”
Ele mora em Neustift, no Vale Stubai, onde afirma que as pessoas passeiam ao longo do rio Ruetz à meia-noite, as casas ficam destrancadas e as bicicletas sem cadeado de fora dos cafés.
“Segurança não é apenas uma estatística, é a maneira como se vive.”

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Pfurtscheller também percebe esse sentimento de tranquilidade entre as pessoas que vão passar um tempo no vale.
“Depois de alguns dias, os ombros relaxam, o estresse desaparece e elas dormem como dormiam quando crianças”, diz.
“Eles começam a notar o som do rio, a forma como a luz muda nas montanhas e a alegria de respirar profundamente. Essa é a maior sensação de segurança que esse lugar oferece: a certeza de que aqui, você é livre para simplesmente ser.”
Singapura
Mantendo sua posição em sexto lugar, a cidade-Estado de Singapura é o único país asiático entre os 10 primeiros — Japão e Malásia estão em 12° e 13°, respectivamente.
O país se destaca especialmente nas questões de segurança e proteção, mesmo mantendo um dos níveis mais altos de gastos militares per capita do mundo, superado apenas pela Coreia do Norte e pelo Catar.

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A ausência de conflitos em andamento e o forte aparato de segurança interna geram uma forte sensação de segurança para a maioria dos moradores.
“Eu ando tarde da noite e não sinto medo. Caminhar para casa não é algo que me dá ansiedade como acontece na maior parte das cidades urbanas”, diz Xinrun Han.
“Existe 100% de conforte e confiança mútua no sistema, o que cria um ambiente que é calmo, acolhedor e pacífico.”
Apesar da postura conservadora de Singapura em relação à comunidade LGBT+ limite algumas liberdades — casamento entre pessoas do mesmo sexo é proibido — o progresso social é visível em eventos como o crescente festival Pink Dot, que celebra o orgulho LGBT.
Muitos relataram que se sentiram mais seguros na manifestação deste ano do que em décadas passadas, à medida que jovens pressionam por maior aceitação.
Han recomenda que os visitantes aproveitam as liberdades que vêm com a segurança, como passear pelo rio às 2h da manhã, comer em uma barraca de rua durante a noite ou visitar um parque quando já está escuro.
“Você se sente muito livre, seja morador ou apenas um visitante.”
Fonte.:BBC NEWS BRASIL