Empreender demanda criatividade. E, se destacar pela autenticidade, aproveitando datas comemorativas, é uma dentre as infinitas possibilidades estratégicas que podem gerar conexão emocional com o consumidor. Em Campo Grande, a “Cidade Morena”, empreendedores têm apostado na valorização identitária cultural para conquistar diferencial competitivo nas suas produções, serviços ou experiências, associando, inclusive, ao dia 26 de agosto, para a celebração do aniversário de 126 anos da cidade.

Exaltar origens, símbolos e tradições podem ajudar a consolidar os empreendimentos como marcas fortes e memoráveis, pois esses elementos oferecem mais do que vendas: entregam vivências, pertencimento e orgulho local. Em MS, lojas que comercializam itens associados ao consumo de tereré e chiparias, por exemplo, exaltam a proximidade e representatividade com públicos variados. Empreendedores podem aproveitar o recurso da identificação regional para impulsionar seu negócio.

“Campo-grandense raiz”

Água, gelo, garrafa, cuia e uma boa erva de tereré. Esses itens, em outro estado do país, ajudam a identificar facilmente um campo-grandense “tererézeiro” raiz. E foi esse gosto pelos aspectos regionais, que remetem à identidade cultural do local onde mora, que fez com que o influenciador e humorista, Higor Alexandre (@ohigoralexandre), ganhasse visibilidade nas redes sociais.

Nos vídeos com bate-papos e piadas do produtor de conteúdo, o tereré na mão é um traço marcante. Higor comenta que esses itens de “tererézeiro” raiz são encontrados nas casas de Campo Grande, mas antes de chegar às residências, são encontrados nas prateleiras de lojas físicas e virtuais, ou seja, empreendedores locais.

O influenciador digital explica que faz parcerias com negócios sediados no estado, geralmente, fabricantes de ervas e outros itens, para impulsionar vendas on-line desses parceiros. De acordo com Higor, a iniciativa tem agradado o público, principalmente, a parcela mais jovem, que passou a ter interesse pelo “ser campo-grandense”.

“Os empreendedores podem aproveitar essa identificação cultural produzindo conteúdo sozinhos ou com a ajuda de influenciadores como eu, que se comunicam com os tipos de clientes que eles procuram”, destaca. “Algumas pessoas dão mais valor ao que é produzido fora do estado e esse ponto estratégico de criar ou produzir para região traz uma sensação de exclusividade, e as pessoas gostam de se sentir exclusivas, únicas e, então, vão passar a comprar e preferir o que é daqui”, complementa Higor Alexandre.

126 anos de cultura e oportunidade de negócios

Foi a paixão pelo tereré, bebida típica de Campo Grande, que fez Wellington Arce se tornar um empreendedor e criar a sua marca, a Téra Car & Chima Car. Sempre na companhia da sua garrafa e cuia, percebeu a dificuldade de transportar os itens com segurança dentro dos carros, e assim decidiu transformar o problema em uma oportunidade inovadora de negócio. “O que me inspirou a criar o meu negócio foi a necessidade. Eu queria carregar a guampa ou o copo de tereré junto da garrafa, e não tinha essa opção a não ser para garrafas revestidas de couro, e foi aí que eu tive a ideia de criar uma cinta metálica para envolver a garrafa com o suporte”, conta Arce.

A ideia deu tão certo que Wellington decidiu criar um suporte para transportar a garrafa e a cuia/copo de tereré no banco do carro, sem riscos de tombar ou cair com o veículo em movimento. “Hoje, a Terá Car & Chima Car tem dois carros-chefes que são o suporte para carro e a cinta metálica. As vendas deram muito certo e agora também temos um porta-ervas em impressão 3D com ímã, além de outras peças no mesmo tipo de impressão”, explica.

Para Elisangela Ferreira, a valorização da cultura foi um valor passado de mãe para filha. Junto de sua mãe, Celi Ferreira, apostou na gastronomia e abriu o seu empreendimento chamado “Cantinho de Mãe para Filha”, tendo como destaque as sopas paraguaias produzidas por Celi. “A nossa empresa foi fundada este ano com a necessidade que identificamos em tornar mais profissional a venda dos nossos produtos e que já comercializamos há anos. Os nossos produtos são totalmente voltados para a cultura sul-mato-grossense, principalmente a sopa paraguaia”, conta Elizangela.

Para se diferenciar dos demais produtos no mercado, a empreendedora revela que a receita caseira da mãe é o segredo para o sucesso de vendas. “A sopa paraguaia da minha mãe é diferenciada, não há uma pessoa que não coma e não fale que é a melhor que já comeu na vida”, exalta Elisangela.

Para o empreendedor Yuri Chaparro, a cultura campo-grandense é muito mais do que as vivências e o orgulho de pertencer à Cidade Morena, porque também foi encarada como uma oportunidade de negócios. Criador da marca Porã, Yuri decidiu que por meio da moda é que iria expressar a cultura regional, com a produção de roupas que carregassem referências da cultura local.

“As estampas da Porã trazem elementos do cotidiano, da fauna e, também, as cores básicas da marca, que vêm da natureza tão presente e rica na nossa cidade. Sempre acreditei que inserir a cultura regional em cada detalhe seria fundamental. É isso que gera conexão entre o consumidor e a marca, criando uma comunidade que começa a valorizar de verdade os produtos locais. Nesse processo, as feiras realizadas em Campo Grande têm tido um papel muito importante para abrir portas e dar mais visibilidade ao que é produzido aqui”, aponta o empreendedor.

Muito mais do que apenas uma estampa, a presença dos elementos tipicamente sul-mato-grossenses também foi uma forma de criar conexão entre as peças e os clientes, como explica Yuri. “Foi justamente a união entre cultura e empreendedorismo que me motivou a criar a marca. Eu acredito que isso é o que dá ‘alma’ ao produto, fazendo com que ele não seja apenas mais uma peça de roupa. Tenho visto que os clientes buscam cada vez mais essa ligação cultural, algo que vai além do simples ato de comprar”, conclui.

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