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26 de agosto de 2025

Turismo na Coreia do Norte tem resort e Starbuks falso – 26/08/2025 – Turismo

Turismo na Coreia do Norte tem resort e Starbuks falso – 26/08/2025 – Turismo

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A Coreia do Norte está se inspirando no Ocidente. Em Pyongyang, as elites bebem café em um falso Starbucks e pagam pelo celular. A cerca de 160 quilômetros, na costa leste, um resort à beira-mar que é um projeto querido do líder do país, Kim Jong-Un, está abastecido com cervejas estrangeiras e equipado com tobogãs aquáticos, pronto para receber turistas.

Para amenizar o impacto das sanções internacionais e atrair dinheiro, a Coreia do Norte está criando uma aparência de prosperidade imitando seus inimigos capitalistas.

O New York Times obteve imagens de três visitantes recentes ao país: um turista russo, um corredor de maratona sueco e um estudante chinês. Embora os estrangeiros tivessem acompanhantes norte-coreanos e não pudessem filmar canteiros de obras e pessoal militar, eles proporcionaram um vislumbre raro de como os planos de modernização de Kim estão nutrindo uma nova cultura de consumismo em um dos países mais isolados e autoritários do mundo.

Os produtos que encontraram estão fora do alcance da maioria dos norte-coreanos, que ganham, em média, pouco mais de US$ 1.000 por ano (ou R$ 5.430), segundo a Coreia do Sul.

Um estudante da China que está fazendo aulas de idioma em Pyongyang disse que inicialmente pensou que o país seria atrasado.

“Eu estava preocupado em não ter comida suficiente ou roupas quentes”, disse ele. “Mas quando cheguei, achei bastante luxuoso.”

O estudante, cujo nome está sendo omitido por medo de represálias de autoridades, disse que um dos locais mais sofisticados da cidade é um shopping de vários andares, Rangrang Patriotic Geumganggwan, que vende uma variedade de móveis, utensílios de cozinha e produtos alimentícios. Ele disse que ele e seus colegas chineses o chamavam de “Ikea norte-coreana” porque o layout e os produtos pareciam ter sido diretamente copiados da empresa sueca de móveis.

Embora não esteja claro se os produtos são imitações ou originais contrabandeados, alguns itens como lâmpadas e abajures parecem ter o mesmo nome e embalagem daqueles vendidos nas lojas Ikea.

O shopping também tem uma cafeteria que é uma cópia da marca premium da Starbucks, Starbucks Reserve, exceto que a Coreia do Norte chama o café de Mirai Reserve. A estrela no logotipo da Starbucks Reserve é substituída por uma versão estilizada da letra M.

O estudante disse que geralmente pagava em dólares e pessoalmente achava os preços em Pyongyang caros, lembrando-se da vez em que pagou cerca de US$ 25 (R$ 135) por três cafés no Mirai Reserve.

As sanções da ONU proíbem marcas estrangeiras de vender produtos de luxo para a Coreia do Norte ou abrir empreendimentos comerciais conjuntos lá. A Starbucks disse que não tem loja na Coreia do Norte.

Jakob Holmström, porta-voz da Ikea, disse que o mesmo era verdade para sua empresa.

“Não temos canais de vendas Ikea autorizados na Coreia do Norte”, disse ele. “Estamos continuamente monitorando violações de nossos direitos de propriedade intelectual e, quando apropriado, tomamos medidas.”

Kim tolera e até incentiva o consumismo em Pyongyang porque é o lar das elites, muitas das quais viajaram ao exterior como diplomatas e comerciantes ou como trabalhadores enviados para ganhar dinheiro para o regime.

Eles foram expostos a produtos ocidentais e têm dinheiro e gosto por eles, segundo analistas e autoridades da Coreia do Sul. Kim busca atrair para os cofres do Estado parte dos dólares que essas elites acumularam privadamente, disseram eles.

A maioria dos pagamentos na capital parece ser feita com celulares, disse Johan Nylander, 53, um corredor sueco de Hong Kong que participou da maratona de Pyongyang em abril. Até pequenos vendedores de rua vendendo garrafas de água e suco preferiam pagamentos digitais via código QR ao invés de dinheiro, disse ele.

“Os celulares são uma grande parte da vida diária”, disse Nylander. “Eles têm muitos dos aplicativos que você pode encontrar no resto do mundo: vídeo, mensagens de texto, Uber ao estilo norte-coreano e compras.”

Neste verão, Kim inaugurou seu projeto de resort mais ambicioso, o complexo de praia Wonsan Kalma. Chamado de “Waikiki da Coreia do Norte” pela mídia sul-coreana, apresenta uma linha de novos hotéis ao longo de uma praia arenosa de 4 quilômetros.

Na cerimônia de abertura, imagens da mídia estatal norte-coreana mostraram Kim caminhando por um parque aquático colorido enquanto observava pessoas descendo em tobogãs aquáticos.

No mês passado, a Coreia do Norte permitiu a entrada dos primeiros estrangeiros no resort, cerca de uma dúzia de turistas da Rússia. Daria Zubkova, 35, veterinária de São Petersburgo, Rússia, disse que a Coreia do Norte há muito tempo era um país que ela queria visitar, então pagou cerca de US$ 1.400 (R$ 7.600) pela viagem de uma semana.

Zubkova disse que tudo parecia novinho em folha, desde o trem que levou o grupo ao resort, até seu quarto de hotel e as comodidades da praia. “Parece uma imagem que foi pintada para você”, disse ela.

O turismo é um setor da economia que não foi sancionado pelas Nações Unidas. Sob Kim, “a Coreia do Norte considerou o turismo uma indústria de múltiplos propósitos que poderia trazer moeda estrangeira, criar empregos, estimular o consumo doméstico e melhorar a imagem nacional”, disse Choi Eun-ju, analista do Instituto Sejong em Seul.

Mas “promover o turismo apresenta à Coreia do Norte um dilema na busca de um equilíbrio entre abertura e controle”, disseram Hwang Joo Hee e Na Yongwoo, analistas do Instituto de Unificação Nacional da Coreia, com sede em Seul, em um relatório publicado em março.

Desde 2020, a Coreia do Norte promulgou uma série de leis draconianas destinadas a reprimir a influência cultural externa. O turismo corre o risco de enfraquecer o controle totalitário de Kim sobre a informação, chave para manter sua autoridade inquestionável. Informações sobre seu país e notícias do mundo exterior inevitavelmente fluirão para dentro e para fora da Coreia do Norte através de visitantes estrangeiros.

Nos últimos meses, turistas estrangeiros que visitaram a Coreia do Norte relataram ter perguntado aos guias turísticos do país sobre o envio de tropas norte-coreanas para a guerra da Rússia contra a Ucrânia —algo que o governo não havia tornado público até abril. A Coreia do Norte brevemente parou de receber turistas estrangeiros este ano depois que influenciadores de mídias sociais postaram vídeos de suas viagens à Coreia do Norte com comentários pouco lisonjeiros.

A maior fonte potencial de dinheiro turístico para a Coreia do Norte é a China. Em 2019, o ano antes da Coreia do Norte fechar suas fronteiras para manter a pandemia fora, atraiu um recorde de 300 mil turistas estrangeiros, a maioria deles da China.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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