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27 de agosto de 2025

Venezuela: Criptomoeda ganha popularidade no país – 27/08/2025 – Mercado

Venezuela: Criptomoeda ganha popularidade no país – 27/08/2025 – Mercado

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As criptomoedas estão se transformando de uma preocupação de nicho para um item significativo da economia da Venezuela, à medida que os moradores veem o blockchain como um salvação contra a desvalorização da moeda local e a repressão governamental aos dólares do mercado negro.

Lojas, que vão de estabelecimentos familiares independentes a redes nacionais, aceitam pagamentos por meio de plataformas de carteira digital como Binance e Airtm. A criptomoeda é usada por algumas empresas para pagar funcionários. E uma das principais universidades do país agora oferece um curso sobre o setor.

“Há muitos lugares que aceitam agora”, afirmou Victor Sousa, enquanto pagava por acessórios de telefone com USDT, uma stablecoin vinculada ao dólar. “Planejo ter um dia toda a minha economia em cripto”, disse.

As criptomoedas estavam em alta na Venezuela mesmo antes de a moeda bolívar entrar em queda livre no final do ano passado. Entre julho de 2023 e junho de 2024, seu uso aumentou 110%, de acordo com a empresa de dados Chainalysis, que classificou o país como o 13º do mundo na adoção de criptomoedas.

Mas desde que o governo parou de intervir na cotação do bolívar em outubro, a população está ainda mais desesperada em busca de um porto seguro. A moeda venezuelana perdeu mais de 70% de seu valor entre outubro de 2024 e junho de 2025, enquanto a inflação anual disparou, atingindo 229% em maio, segundo o OVF (Observatório Venezuelano de Finanças independente).

“Os venezuelanos começaram a usar criptomoedas por necessidade” enquanto lutam contra “inflação, baixos salários, escassez de moeda estrangeira e a falta de acesso para abrir uma conta bancária”, afirmou Aarón Olmos, economista do Instituto de Estudos Superiores em Administração em Caracas.

O ditador Nicolás Maduro acelerou a mudança quando, em uma aparente tentativa de apoiar o bolívar, mandou prender dezenas de pessoas por administrar sites que listam taxas de câmbio do dólar no mercado negro.

O banco central, sob influência de Maduro, não publica dados de inflação desde outubro, ao mesmo tempo em que economistas independentes foram presos. O OVF não divulga seus próprios números desde maio, enquanto seus membros sofrem assédio governamental.

A administração Trump concedeu no mês passado um alívio a Maduro ao permitir que a Chevron retomasse a produção e exportação de petróleo bruto da Venezuela, que permanece sob amplas sanções. A licença, que a oposição chamou de “tábua de salvação” para Maduro, trará dólares muito necessários para os cofres do país.

Mas os venezuelanos, alguns dos quais começaram a usar criptomoedas durante a devastadora crise de hiperinflação do país de 2016 a 2019, serão cautelosos.

“Em uma economia tão distorcida quanto a nossa, o bom senso pode ser mais valioso que o capital”, avaliou Aníbal Garrido, diretor do curso sobre criptomoedas na Universidade Católica Andrés Bello em Caracas.

Até altos funcionários do governo recorreram às criptomoedas, com vários indiciados pelos EUA por usar moedas virtuais para contornar sanções ou lavar dinheiro.

O próprio governo teve um relacionamento intermitente com as criptomoedas. Em 2018, a Venezuela tornou-se o primeiro país do mundo a criar uma criptomoeda nacional, o petro. Mas, apesar de Maduro tentar vincular 50% do salário mínimo ao petro, a moeda não ganhou força e foi abandonada no ano passado.

O governo Maduro fechou o principal regulador de câmbio de criptomoedas em 2023, depois que sua liderança foi acusada de desviar milhões em transações de criptomoedas vinculadas ao petróleo.

Mas o uso do USDT está se expandindo cada vez mais.

Gabriel Santana, contador de uma pequena loja de ferragens em Caracas, frequentemente paga fornecedores e funcionários usando a stablecoin. Ele geralmente perde dinheiro ao converter a moeda, mas o ritmo da inflação e o declínio do bolívar compensam essas perdas.

“Quando entram muitos bolívares, compramos USDT na Binance, e embora percamos um pouco, há um ganho a longo prazo”, indicou Santana.

Acessar criptomoedas nem sempre é simples. Com as sanções dos EUA visando o setor bancário da Venezuela, a Binance —que foi multada em US$ 4,3 bilhões em 2023 pelas autoridades dos EUA por não impedir a lavagem de dinheiro— limita serviços envolvendo bancos sancionados e bloqueia contas vinculadas a indivíduos sancionados.

“Há acesso limitado a plataformas, infraestrutura e até mesmo serviços básicos de conectividade, mas mesmo com esses desafios, o ecossistema continua a crescer”, afirmou Garrido. “Em meio à adversidade, está se formando uma comunidade que é cada vez mais crítica e melhor informada”.

Lojistas no centro de Caracas dizem que adicionar criptomoedas à sua gama de opções de pagamento é agora essencial para competir com rivais.

Masiel Bronco, que administra uma pequena loja de tecnologia, disse que perderia negócios se não aceitasse pagamento em USDT. “Há muita competição”, disse ele.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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