
Crédito, Robles Casas & Campos
- Author, Tom McArthur
- Role, BBC News
- Author, Hafsa Khalil
- Role, BBC News
Uma obra-prima italiana foi identificada no website de um corretor de imóveis oferecendo uma casa à venda na Argentina, mais de 80 anos depois de ter sido roubada pelos nazistas de um negociante de arte judeu em Amsterdã, na Holanda.
Mas o quadro desapareceu em seguida, segundo declarou um procurador local após uma batida na residência.
Uma foto no site mostra o quadro Retrato de Dama, do pintor italiano Giuseppe Ghislandi (1655-1743), pendurado na parede acima de um sofá. O imóvel fica perto da capital argentina, Buenos Aires, e pertenceu a um alto oficial nazista, que fugiu da Alemanha para a América do Sul após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Duas armas foram confiscadas na ocasião, segundo informou à imprensa argentina o promotor federal Carlos Martínez. Ele declarou que o caso está sendo tratado como possível ocultação de contrabando, segundo o jornal argentino Clarín.
A mobília do imóvel foi mudada de lugar e o quadro não estava na parede na ocasião da batida, segundo o jornal.

Crédito, Wikimedia Commons
O quadro faz parte de um grupo de centenas de obras roubadas do comerciante de arte holandês Jacques Goudstikker (1897-1940). Ele ajudou outros judeus a fugir durante a guerra.
Goudstikker morreu em um acidente no mar, enquanto fugia da Holanda. Seu corpo está sepultado na Inglaterra.
Mais de 1,1 mil obras da sua coleção foram adquiridas por altos funcionários nazistas em uma venda forçada após a morte do comerciante. Um deles foi o marechal Hermann Göring (1893-1946).
Após a guerra, algumas das obras de arte foram recuperadas na Alemanha e colocadas em exposição no Rijkmuseum de Amsterdã, como parte da coleção nacional holandesa.
A única herdeira viva de Goudstikker é sua nora Marei von Saher. Ela tomou posse de 202 obras em 2006, segundo o jornal AD.
Mas uma das pinturas — um retrato da condessa Colleoni, de autoria do retratista italiano do final do período barroco — permaneceu desaparecida, pelo menos até agora.
A investigação do jornal AD descobriu documentos do tempo da guerra que indicam que o quadro ficou de posse de Friedrich Kadgien (1907-1979), que foi oficial da SS (o braço paramilitar do partido nazista alemão) e assessor financeiro de Göring.
Kadgien fugiu para a Suíça em 1945 e se mudou posteriormente para o Brasil e a Argentina, onde teve sucesso como negociante.
Interrogadores americanos o descreveram como uma “cobra da pior espécie”. Um arquivo americano encontrado pelo AD também afirma que as anotações sobre Kadgien incluíam uma linha dizendo: “Parece possuir bens substanciais, ainda poderá ter valor para nós.”
O jornal afirma ter tentado falar há anos com as duas filhas do nazista, sobre o pai e as obras de arte desaparecidas, sem sucesso. Elas moram em Buenos Aires.
Até que os repórteres tiveram um golpe de sorte, quando uma das filhas de Kadgien colocou à venda a casa que era do seu pai, através de um corretor especializado em imóveis argentinos de alto padrão.
“Não há motivo para imaginar que esta poderia ser uma cópia”, afirmam Annelies Kool e Perry Schrier, da Agência de Patrimônio Cultural da Holanda (RCE, na sigla em holandês), depois de analisarem as imagens para o AD.
Peter Schouten, do jornal holandês, informou que existem evidências de que “o quadro foi retirado pouco depois das reportagens informando sobre o seu reaparecimento”.
“No lugar, existe, agora, uma grande tapeçaria com cavalos e cenas de natureza”, segundo Schouten. “A polícia afirma que a impressão é que outro objeto costumava ficar pendurado ali.”
Outra obra de arte roubada também foi localizada nas redes sociais de uma das irmãs, segundo o AD. Trata-se de uma natureza-morta floral do pintor holandês Abraham Mignon (1640-1679).
As tentativas de conversar com as irmãs desde a identificação da foto fracassaram, informa o AD.
“Não sei qual informação você quer de mim e não sei de qual pintura você está falando”, declarou uma delas ao jornal.
Os advogados do espólio de Goudstikker afirmam que concentrariam todos os esforços para recuperar a pintura.
“Minha família deseja trazer de volta todas as obras de arte roubadas da coleção de Jacques e restaurar o seu legado”, declarou von Saher.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL