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Com o início da fase final do julgamento de Jair Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes desafia a ira do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e testa a paciência de seus pares, enfrentando crescente resistência, segundo reportagem da agência Reuters publicada nesta terça-feira (2/9) . O ex-presidente é acusado de articular um golpe de Estado após perder as eleições de 2022 para Luiz Inácio Lula da Silva.
O processo é conduzido por Moraes, que decretou a prisão domiciliar de Bolsonaro, determinou a detenção de centenas de apoiadores envolvidos na invasão de prédios públicos em Brasília e confrontou o empresário Elon Musk em disputas sobre conteúdos nas redes sociais. A Reuters observa que “ninguém sentiu a força dessa fúria [de Trump], nem a desprezou com tanto desdém, quanto Alexandre de Moraes”.
Como reação aos episódios, o presidente americano impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, além de restrições de vistos e sanções financeiras individuais. Ainda assim, segundo a agência de notícias, Moraes enfrenta resistência crescente, com alguns ministros do STF sinalizando dúvidas sobre suas decisões para mostrar independência e conter possíveis retaliações externas e até parlamentares articulando pedidos de impeachment.
O texto descreve que parte da opinião pública demonstra cansaço com sua atuação considerada excessivamente dura e, mesmo dentro do STF, há sinais de incômodo. Fontes da corte ouvidas pela agência disseram que ministros temem uma retaliação ainda maior por parte de Trump.
De acordo com a reportagem, embora o Supremo tenha se mostrado coeso em várias decisões, alguns magistrados se preparam para explicitar divergências. A agência cita como exemplo declaração recente do ministro André Mendonça, indicado por Bolsonaro em 2021, que afirmou: “um bom juiz deve ser respeitado, não temido” — frase interpretada como crítica velada a Moraes.
A agência lembra que os Estados Unidos retiraram vistos de oito ministros do STF em julho, poupando três que já haviam se posicionado de maneira divergente em casos anteriores. Esse movimento alimentou especulações, relatadas pela imprensa local, de que o governo Trump tenta semear divisões dentro da corte.
Questionado pela Reuters, um alto funcionário do Departamento de Estado disse apenas que as sanções se dirigiam especificamente a Moraes e seus aliados, com base na lei Global Magnitsky, que autoriza punições a estrangeiros acusados de corrupção ou violações de direitos humanos.
Moraes, por sua vez, negou qualquer desconforto interno. Em entrevista concedida em agosto à Reuters, afirmou: “Se alguém reclamou, reclamou à imprensa. Quem colocou isso na imprensa, eu digo aqui: é mentira”.
A agência informa que, apesar das tensões, a expectativa é de que Bolsonaro seja condenado pelo colegiado de cinco ministros que analisará o caso até a próxima semana. Caso isso ocorra, acrescenta a Reuters, será a primeira vez na história do Brasil que militares de alta patente poderão ser punidos por ameaçar a democracia. Bolsonaro nega todas as acusações e classifica Moraes como “ditador”.

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A biografia do ministro também é destacada. Moraes nasceu em 13 de dezembro de 1968, exatamente no dia em que a ditadura militar brasileira editou o Ato Institucional nº 5, marco do endurecimento autoritário do regime.
Para seus apoiadores, sua atuação busca impedir a repetição daquele período. Críticos, no entanto, o acusam de censura e abuso de poder em ordens que determinaram a remoção de postagens, a apreensão de celulares de empresários e a prisão de parlamentares.
A Reuters lembra ainda que, em agosto, 55% dos brasileiros consideravam justificada a prisão domiciliar de Bolsonaro, mas 46% defendiam o impeachment de Moraes.
Segundo aliados do ex-presidente, haveria hoje 41 senadores dispostos a apoiar o afastamento do ministro, número ainda inferior aos 54 necessários. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, recusou-se a pautar a votação, e o tema deve ganhar peso nas eleições de 2026.
A reportagem cita episódios anteriores que moldaram a imagem de Moraes. Em janeiro de 2023, durante os ataques em Brasília, ele estava em férias em Paris, mas decidiu retornar imediatamente ao país.
O amigo e ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Floriano Azevedo, disse à Reuters ter ficado surpreso com a decisão: “Há uma rebelião dessas proporções, da qual ele era alvo, e ele decidiu voltar ao epicentro da coisa”. O próprio Moraes afirmou à agência que a Suprema Corte “nunca se acovardará diante de ameaças”.
Ainda assim, a dureza do ministro divide opiniões. O ex-ministro do STF Marco Aurélio Mello, que conviveu com Moraes na corte, declarou à Reuters: “Ele é educado e gentil, mas eu não gostaria de ser julgado por ele”.
Segundo a agência de notícias, o desfecho do julgamento de Bolsonaro e a maneira como Moraes responderá às pressões internas e externas serão um teste decisivo para a resiliência da democracia brasileira e para os limites de atuação do Supremo Tribunal Federal.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL