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4 de setembro de 2025

Centrão e Tarcísio propagam a anistia indefensável – 03/09/2025 – Opinião

Centrão e Tarcísio propagam a anistia indefensável – 03/09/2025 – Opinião

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União Brasil e PP, que agora formam a federação partidária União Progressista, anunciaram que estão desembarcando do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), num movimento que espelha a crescente aproximação entre o centrão e uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Para além de oportunidade política e afinidade ideológica, as tratativas passam por uma afronta institucional —a defesa de anistia para Jair Bolsonaro (PL), perto de ser condenado por tentativa de golpe de Estado, e seus asseclas de variadas hierarquias.

União e PP nunca estiveram no centro nervoso da coalizão governista nem ofereceram apoio consistente ao Planalto, embora mantenham ministérios e outros postos relevantes na administração federal. Com as eleições no horizonte, não é surpresa que queiram se reposicionar.

As siglas deram prazo até o final deste setembro para que “detentores de mandato” deixem seus cargos, sob pena de expulsão. Os principais afetados são os ministros André Fufuca (Esporte) e Celso Sabino (Turismo), deputados licenciados pelo PP e pelo União Brasil, respectivamente.

É um desembarque bem à moda do centrão, já que não detentores de mandato e não filiados escapam à decisão —e aí estão indicações relevantes do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que não participa do movimento de ruptura e continua aliado a Lula.

Em paralelo, Tarcísio arregimenta as legendas para a defesa da anistia, num gesto de fidelidade ao bolsonarismo —de cujo apoio precisa para consolidar-se como principal postulante ao Planalto pelo campo da direita.

Numa costura rocambolesca, o governador passou a estimular congressistas a apoiar o que vai se desenhando como um perdão amplo o suficiente para abarcar Bolsonaro, não apenas sua infantaria, mas que mantenha a inelegibilidade do ex-presidente e seu nome fora da urna em 2026.

Com o avanço da tese à boca pequena em Brasília, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), já deu sinais de que poderá pautar um projeto de lei a respeito do tema. Há empecilhos consideráveis à empreitada, todavia.

No Senado, Alcolumbre declarou ser contrário a uma anistia ampla e que vai privilegiar um texto alternativo. Haveria pela frente também o Supremo Tribunal Federal (STF), que já firmou entendimento considerando inconstitucional o perdão a crimes cometidos contra a democracia.

Decerto há muito de teatro interesseiro em todos esses movimentos, o que não torna menos nefasta, porém, a defesa pública de perdão antes mesmo da condenação por um ato gravíssimo.

Propagar o descrédito na lei e nas instituições é um desserviço à democracia não justificável por pragmatismo político de qualquer espécie. Os acusados de golpismo precisam se entender com a Justiça, não com partidos.

editoriais@grupofolha.com.br



Fonte.:Folha de S.Paulo

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