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6 de setembro de 2025

“Aceita que dói menos”: psiquiatra ensina a parar de brigar com a realidade

“Aceita que dói menos”: psiquiatra ensina a parar de brigar com a realidade

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Há mais de 40 anos atendendo pacientes em seu consultório, o psiquiatra Isaac Efraim desenvolveu uma tese poderosa — e, à primeira vista, desconfortável: o sofrimento não está nas circunstâncias, mas na nossa recusa em aceitá-las.

Essa percepção deu origem ao livro Aceita que dói menos (Letra Selvagem – Clique para comprar), em que ele reúne aprendizados clínicos e existenciais sobre como a mente humana cria armadilhas, alimenta o sofrimento e impede a transformação.

Nesta entrevista, concedida em tom informal e direto, Efraim fala sobre culpa, redes sociais, ansiedade crônica e os limites do uso de medicamentos. E explica por que a aceitação é o primeiro passo para a liberdade emocional.

De onde nasceu o conceito “aceita que dói menos”?

Foi uma percepção que tive ao longo de décadas de consultório. Quando o paciente, em meio à dor, consegue aceitar aquilo que está vivendo — seja a perda de alguém, uma separação, um diagnóstico — o sofrimento, quase imediatamente, fica mais suportável.

Não é um conceito de autoajuda, mas uma constatação clínica: o sofrimento psíquico diminui quando a realidade é acolhida, não negada.

Por que negar a dor agrava os transtornos emocionais?

Porque nossa mente foi “projetada” para tentar evitar o sofrimento a qualquer custo. Ela cria uma expectativa de como as coisas deveriam ser, e entra em conflito com o que são. Essa diferença entre o real e o idealizado é a essência do sofrimento emocional.

Quando você aceita o que é, o que “deveria ser” perde força — e a dor diminui.

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+Leia também: Luto: temporal da dor

Os mecanismos que mantêm as pessoas presas ao sofrimento

O mais recorrente é a negação da vida como ela se apresenta. A vontade de que ela seja diferente, e a luta constante contra isso. Outro mecanismo é a culpa.

Achamos que deveríamos ter agido de outra forma, mas esquecemos que nosso comportamento é fruto de sentimentos e condicionamentos. A culpa drena nossa energia e nos leva aos piores estados emocionais.

Quando a ansiedade deixa de ser normal e vira doença?

A ansiedade é parte da condição humana. Quem tem mente, tem ansiedade. O problema começa quando ela traz prejuízos concretos: afeta o trabalho, as relações, a autoestima.

Não se trata de eliminar a ansiedade, mas de aprender a conviver com ela. E adivinha? Aceitá-la dói menos.

Como transformar sofrimento em aprendizado?

O primeiro passo é prestar atenção. Observar, sem julgar. O segundo é aceitar o que está acontecendo, e o terceiro é ajustar a mente para que ela se alinhe com a realidade, não com fantasias ou desejos irrealizáveis.

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Qual é o impacto das redes sociais na saúde mental?

Gigantesco. Vivemos uma ditadura da imagem, da aparência, da comparação. Isso alimenta a insegurança, a superficialidade e a ilusão de poder. As redes sociais projetam o que há de mais tóxico na mente humana — e estamos todos hipnotizados por elas.

Por que o Brasil é o país mais ansioso do mundo?

Nossa desigualdade social, a sensação constante de risco, a ausência de amparo real do Estado — tudo isso cria um caldo de cultura para a ansiedade.

Vivemos em alerta permanente. Isso cobra um preço alto.

Superar o sofrimento sem recorrer a medicamentos é possível?

Depende. Se a pessoa consegue aplicar as práticas de percepção, aceitação e compreensão, muitas vezes é possível.

Mas quando os padrões mentais estão muito enraizados ou já alteraram a química cerebral, a medicação pode ser essencial. Antidepressivos e ansiolíticos, bem usados, ajudam a reorganizar a percepção e quebrar ciclos viciosos.

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Tecnologias e psicodélicos vão revolucionar o tratamento da mente?

Acredito que sim, em parte. A inteligência artificial pode apoiar muitas áreas da medicina. E os psicodélicos, usados com critério, têm mostrado resultados promissores em casos de depressão e até de psicose.

Mas o problema maior hoje ainda são as redes sociais. Elas distorcem nossa percepção e adoecem a mente coletiva.

O conselho para quem sente que “não aguenta mais”

Aceite a possibilidade de que o ruim aconteça. Pare de lutar o tempo todo contra isso.

A mente vai continuar ameaçando, mas você pode deixar essas ameaças passarem sem entrar em pânico. No fundo, quase sempre, o que parece insuportável é só uma miragem da mente.

*Alexandre Hercules, editor-chefe da Brazil Health

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(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)

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Fonte.:Saúde Abril

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