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6 de setembro de 2025

Vinhos no sonho? Bebida pode “invadir” o inconsciente

Vinhos no sonho? Bebida pode “invadir” o inconsciente

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Trabalho em tempo integral com vinhos há mais de trinta anos. Leio, escrevo, falo e penso sobre essa bebida ancestral sem pausa. Além, é claro, de ir às vias de fato — degustando milhares de rótulos por ano, profissionalmente. E no meu tempo livre? Bebo vinho com os amigos. E nas férias, alguém adivinha? Só digo que o saca-rolhas e a taça estão sempre na mala.

Costumo dizer que o vinho é uma espécie de oxigênio que respiro pela boca. Minha relação com ele transcende a consciência, invadindo até os sonhos. Muitos deles já viraram contos nos meus livros. Em um deles, após degustar um Romanée- -Conti 1978 na vida real — um daqueles vinhos irrepetíveis — sonhei que esse tinto da Borgonha estava em toda parte. Ao abrir a torneira do chuveiro, da pia, para lavar a louça ou escovar os dentes, só saía aquele vinho. A princípio, uma bênção. Depois, uma maldição.

Outro sonho que foi parar em um dos meus livros envolvia comida — e não vinho — e aconteceu quando morava na Itália. Eu adorava a tríade: tomate pelado, basílico e muçarela de búfala. Uma noite, sonhei com um imenso campo verde de manjericão e, sobre ele, passava um daqueles pequenos aviões que borrifam fertilizantes sobre plantações. Só que, neste caso, do avião jorrava molho de tomate. Um verdadeiro delírio gastronômico. Com o tempo, percebi que esses sonhos tinham algo especial.

A chamada Gustatory Dream Sensation é a capacidade de experimentar sabores e aromas durante o sono. Segundo estudos da Universidade de Montreal (Canadá, 1998) e da Binghamton University (EUA, 2023), entre 0,7% e 2,6% dos sonhos incluem sensações de paladar ou olfato — e profissionais como sommeliers, chefs e perfumistas são mais propensos a vivenciar esse fenômeno.

O vinho, aliás, nos faz sonhar também de olhos abertos. Como um foguete ou uma cápsula do tempo, ele nos transporta a outro lugar, outra época. Traz à tona uma memória adormecida ou nos leva, simbolicamente, a destinos onde talvez nunca tenhamos estado — mas, graças a ele, passamos a habitar.

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Volta e meia me pego, taça na mão, olhos vagando, tentando entender: é o vinho que está sublime ou sou eu que hoje estou mais tocado? Porque um dos bons é aquele que nos atravessa. Não tem gosto só de uva — tem gosto de gente, de paisagem, de história. Tem gosto de memória.

Dois vinhos com fundo branco
Sugestões de rótulos (Reprodução/Divulgação)

Baccolo Appassimento
Da vinícola Cielo e Terra, na região italiana do Vêneto, elaborado com um corte das castas corvina e merlot, parcialmente desidratadas. Rubi escuro na cor. Aromas de cereja, figo, passas, chocolate. Paladar de bom corpo, macio, redondo. R$ 99,90, na Evino.

Almaviva 2022
72% cabernet sauvignon, 23% carmenere, 4% cabernet franc, 1% petit verdot, com vinte meses em barricas francesas, 70% novas. Rubi escuro. Aroma intenso, muita fruta vermelha e negra, especiarias, chocolate. Encorpado, precisa de tempo de garrafa. Potente, para mais trinta anos de guarda. R$ 2 399,90, na Wine.

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Publicado em VEJA São Paulo de 5 de setembro de 2025, edição nº 2960.

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Fonte.: Veja SP Abril

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