
Crédito, Maddie Meyer/Getty Images
- Author, Kelly Grovier
- Role, BBC Culture
De monges rezando e chuvas de meteoro até a fome na Faixa de Gaza e o túmulo do papa Francisco, aqui estão 12 das imagens mais memoráveis e surpreendentes do ano até aqui.
Importante: esta reportagem contém imagens que podem ser perturbadoras para alguns leitores.

Crédito, Guillaume Payen/Anadolu via Getty Images
1. Monges rezando, Tailândia
O brilho etéreo da imagem de monges rezando sob o imenso domo dourado do templo Wat Phra Dhammakaya, na Tailândia, durante a cerimônia anual de Makha Bucha, em fevereiro, é de tirar o fôlego.
Dezenas de milhares de monges e devotos, muitos deles portando lanternas, se reúnem para comemorar o primeiro grande ensinamento de Buda.
Sua radiação irreal traz à mente os contornos de um manuscrito birmanês do século 19, que ilustra o primeiro sermão de Buda no Parque dos Cervos, onde os monges e os animais se reúnem em torno da sua forma resplandecente.
As duas imagens capturam a devoção de comunidades determinadas a reverenciar e serem transformadas.

Crédito, Stefano Mazzola/Getty Images
2. Desfile aquático, Veneza (Itália)
Em fevereiro, as fotos de um rato de papel machê gigante, que explode soltando confetes enquanto navega pelo Grande Canal, no tradicional desfile aquático que abre o Carnaval de Veneza, na Itália, capturaram a cena em um rompante de cores vibrantes.
O Pantegana flutuante (o roedor que virou espetáculo) surge de forma criativa das águas da cidade, como um símbolo do lado obscuro e cômico de Veneza.
Ao lançar jatos de cores, o rato oferece uma lâmina grotesca de glitter sobre o manto luminoso e elegante que cobre a cidade em incontáveis quadros, como a Entrada para o Grande Canal (1905), do pintor neoimpressionista Paul Signac (1863-1935).
Nas duas imagens, Veneza se dissolve em um mosaico de pixels de luz.

Crédito, Bernat Armangue/AP
3. Túmulo do papa Francisco, Roma (Itália)
A foto tirada em abril do túmulo do papa Francisco (1936-2025) em Roma, na Itália, com uma singela rosa branca sobre a sua laje, é requintada e assombrosa.
Francisco foi o primeiro pontífice a ser sepultado fora do Vaticano em mais de um século.
A sóbria laje de pedra parece estremecer à luz embaçada da cripta.
A eloquente penumbra retratada pela foto lembra o tom evocativo de um desenho de 1798, do túmulo do cardeal John Morton (c.1420-1500), na catedral da Cantuária, no Reino Unido, por JMW Turner (1775-1851).
Feito com grafite sobre papel, o desenho parece ser iluminado por um resplendor interno, para o qual os nossos olhos parecem abrir caminho, uma pétala de cada vez.
As duas imagens exibem a pedra como sendo permeável e inconclusiva, como a morte.

Crédito, AFP via Getty Images
4. Trabalhador migrante, Chandigarh (Índia)
É impossível escapar do arquétipo nesta foto tirada em abril, de um trabalhador migrante interrompendo suas tarefas para beber água, durante a colheita de trigo nos arredores de Chandigarh, no noroeste da Índia.
O copo levantado e a foice, brilhando contra o trigo dourado, evocam a figura emblemática do trabalhador isolado no quadro O Veterano em um Novo Campo (1865), de Winslow Homer (1836-1910).
Nele, um veterano da União empunha uma foice contra um mar de trigo. É uma fábula sobre o acerto de contas nacional após a Guerra Civil Americana (1861-1865).
As duas imagens posicionam os retratados entre a alegoria e o trabalho, colhendo não apenas cereais, mas a promessa de renovação permanente.

Crédito, Pedro Pardo/AFP via Getty Images
5. Mão robótica, Pequim (China)
A imagem de uma jovem levantando o braço para tocar no dedo indicador de uma enorme mão robótica, que se abre lentamente, foi capturada em abril, durante uma visita da imprensa ao Mundo dos Robôs, na capital chinesa, Pequim.
A iluminação surpreendente da foto e as roupas pretas da jovem se unem para reduzir a sensação de presença humana a meras centelhas de pele, como antebraços flutuantes e um perfil parcial suspenso na escuridão.
À primeira vista, o contato próximo pode relembrar A Criação de Adão, de Michelangelo (1475-1564). Ou talvez, e ainda melhor, o misterioso desenho de mãos desenhando mãos (1948), de MC Escher (1898-1972).
Na era da inteligência artificial, é cada vez mais difícil distinguir a fronteira entre o criador e a criatura.

Crédito, Luis Tato/AFP via Getty Images
6. Centro de trânsito, Buganda (Burundi)
Em maio, a imagem de uma refugiada congolesa sentada em um balanço, em um centro de trânsito perto de Buganda, no Burundi, transmite uma alegria que transcende o desconforto material que ela testemunha, como a chuva incessante, a estrutura de aço corroída do brinquedo abandonado e o assento quebrado pendurado ao lado dela.
A mulher é uma das mais de 70 mil pessoas que cruzaram a fronteira da República Democrática do Congo para o Burundi desde janeiro. Seu estado de espírito desafia as circunstâncias difíceis.
Se colocarmos a foto ao lado da famosa obra O Balanço (1767), do artista rococó francês Jean-Honoré Fragonard (1732-1806), ela abstrai a elegante frivolidade da pintura, reconquistando o balanço como um acessório atemporal de brincadeiras e paz interior, suspenso longe do tempo e espaço.

Crédito, Tayfun Coskun/Anadolu via Getty Images
7. Chuva de meteoros, Inverness, Califórnia (EUA)
A foto captura a chuva de meteoros Eta Aquariid, que cortou o céu noturno de Inverness, no Estado americano da Califórnia, nas primeiras horas do dia 6 de maio. Ela é, ao mesmo tempo, inspiradora e uma lição de humildade.
Eclipsado pelo fulgor desfocado da Via Láctea, o brilho de uma pequena aldeia parece pouco mais que uma nota de rodapé cintilante em um vasto drama cósmico.
O perturbador contraste entre as escalas humana e celestial relembra a revolucionária pintura de Adam Elsheimer (1578-1610), Fuga para o Egito (c. 1609), conhecida pela sua pioneira precisão astronômica.
Na obra de Elsheimer, a Sagrada Família ocupa apenas uma fração do primeiro plano, enquanto o olhar é atraído para cima pelo imenso céu noturno.
As duas imagens, produzidas em um intervalo de séculos entre si, atestam não só os avanços contemporâneos da óptica, mas a perenidade do deslumbramento com as cenas noturnas.

Crédito, Luis Tato/AFP via Getty Images
8. Olhos cobertos de óleo, Londres
Cobrindo seus olhos com uma substância oleosa espessa, uma ativista do grupo Fossil Free London se posicionou, em maio, no lado externo dos escritórios da empresa de energia Shell.
Os manifestantes defendem que a decisão tomada pela Shell de vender seus ativos petrolíferos terrestres na Nigéria permite que a empresa se esquive da responsabilidade pelos acidentes no delta do rio Níger. Foi esta decisão que causou a manifestação.
A empresa nega qualquer irregularidade.
A pose de olhos fechados relembra a pintura Esperança (1886), do simbolista George Frederic Watts (1817-1904). Nela, uma mulher com os olhos vendados se senta sobre um globo sombrio, dedilhando melancolicamente uma lira.

Crédito, Maddie Meyer via Getty Images
9. Nadador mergulhando, Singapura
A foto tomada ao nível da água, do nadador chinês Tianchen Lan, competindo em revezamento em mar aberto durante o Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos em Singapura, no dia 20 de julho, é quase imersiva.
Ela congela o atleta em meio ao seu mergulho, quando ele se inclina de uma plataforma ultramarina.
O ousado encontro de tons de azul (céu, água e plataforma) e a surpreendente suspensão do corpo do atleta relembram aspectos aparentemente não relacionados da imaginação do artista conceitual francês Yves Klein (1928-1962): a criação de um tom particularmente intenso, chamado Azul Klein Internacional, em 1957, e sua fotomontagem Salto para o Vazio (1960).
Esta obra cria a ilusão do seu corpo caindo perigosamente de um telhado em Paris, na França, sobre a rua abaixo dele. Como na foto de Singapura, ele posiciona o corpo e o abismo como um só.

Crédito, Phill Magakoe/AFP via Getty Images
10. Alunas de balé, Tembisa, África do Sul
Esta foto tocante e poderosa mostra duas alunas de balé com cinco anos de idade, Philasande Ngcobo e Yamihle Gwababa, posando em julho no lado de fora de uma academia de dança em Tembisa, perto de Joanesburgo, na África do Sul.
O forte contraste entre o chão ressecado, a sombra esculpida e os delicados vestidos relembra as rigorosas angularidades estéticas das incontáveis cenas de dançarinas ensaiando do pintor francês Edgar Degas (1834-1917).
Mantendo nosso olhar fixo sobre a gravidade dos gestos das bailarinas, Degas frequentemente abstraía os estúdios de dança em faixas de cor branca, oferecendo às suas pinturas, como a foto na África do Sul, uma dimensão atemporal.

Crédito, Getty Images
Uma sequência de imagens devastadoras de crianças esqueléticas, aninhadas nos braços de suas mães na Cidade de Gaza, em julho, chocou o mundo.
Especialistas com o apoio das Nações Unidas afirmaram que se desenrola atualmente na Faixa de Gaza o “pior cenário” de fome.
Existem incontáveis imagens de mães confortando crianças angustiadas na história da arte. Elas variam desde A Criança Doente (1665), do artista holandês Gabriël Metsu (1629-1667), até o desenho com carvão e pastel Os Desamparados (1903), de Pablo Picasso (1881-1973).
Mas as fotos capturadas em Gaza não têm paralelo possível na pintura, nem na escultura.
Nenhuma criação visual de sofrimento ou compaixão, de nenhum artista, por mais dotado ou reverenciado que seja, pode encapsular adequadamente a escala insondável de angústia registrada nas fotos recentes da Faixa de Gaza.

Crédito, Thanassis Stavrakis/AP
12. Resgate de ovelha, Patras (Grécia)
Contra um pano de fundo de fumaça se erguendo dos incêndios florestais que atingiram Patras, na Grécia, em agosto, um homem de motocicleta resgata uma ovelha, que se pendura nele para defender a vida.
Através dos tempos, este é um motivo recorrente, preservado em afrescos ou capturado em fotografias. Ele reforça a sólida natureza lendária do heroísmo.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL