
Crédito, Getty Images
- Author, Nardine Saad
- Role, BBC News
Parlamentares dos Estados Unidos divulgaram nesta segunda-feira (08/09) uma cópia de um “livro de aniversário” entregue em 2003 ao financista Jeffrey Epstein, condenado por pedofilia e morto em 2019 enquanto aguardava julgamento por outras acusações. O material inclui uma nota supostamente escrita e assinada pelo hoje presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O livro com mensagens a Epstein pelo seu aniversário de 50 anos foi divulgado pelos parlamentares americanos junto com uma série de documentos que incluem o testamento de Epstein e sua agenda pessoal, na qual aparecem contatos de membros da realeza britânica, celebridades, empresários, modelos e políticos de vários países.
Os advogados do espólio de Epstein enviaram documentos ao Comitê de Supervisão da Câmara após serem intimados no mês passado para a entrega de vários documentos, entre eles o livro de aniversário.
A Casa Branca negou a autenticidade da suposta nota de Trump, que trazia um desenho do corpo feminino, e afirmou que o presidente “não fez o desenho e nem o assinou”. Afirmou ainda que a assinatura presente na imagem não corresponde à dele. O presidente Donald Trump não comentou a divulgação da nota.
A divulgação da suposta carta de Trump ocorre enquanto o presidente enfrenta pressão crescente, inclusive de aliados e de integrantes de seu próprio Partido Republicano, por mais transparência sobre o que as investigações a respeito de Epstein revelaram.
O livro de 238 páginas foi preparado em 2003 para o aniversário de 50 anos de Epstein pela britânica Ghislaine Maxwell, ex-namorada e cúmplice de Epstein. Ela foi condenada em 2021 por conspiração no tráfico sexual de menores.
Esse material, que inclui a suposta mensagem de Trump, foi produzido três anos antes de as alegações de abuso sexual contra Epstein se tornarem públicas. Epstein foi indiciado pela primeira vez em 2006, na Flórida, acusado de crime estadual de solicitação de prostituição.
Trump e Epstein foram amigos por vários anos, mas o presidente americano afirmou que se desentendeu com Epstein no início dos anos 2000, após o financista contratar funcionários de seu resort em Mar-a-Lago, na Flórida.
Intitulado “Os Primeiros Cinquenta Anos”, o livro reúne mensagens supostamente enviadas por pessoas ligadas a Epstein.
Quando a existência da nota atribuída a Trump foi revelada pelo Wall Street Journal em julho de 2025, o presidente americano disse que ela era “falsa” e negou ser o autor dela. Trump processou judicialmente repórteres, editores e executivos do jornal, incluindo Rupert Murdoch, dono da News Corp, pedindo indenização de US$ 10 bilhões (cerca de R$ 55 bilhões). Ainda não houve decisão final sobre o processo.

Crédito, X/Reprodução
Agora, meses depois, parlamentares do Partido Democrata publicaram na rede social X uma imagem da suposta carta de aniversário antes da divulgação oficial do material e de outros documentos de Epstein pelo Comitê de Supervisão da Câmara.
Eis o conteúdo do suposto texto, traduzido:
Voz-off: Deve haver mais na vida do que ter tudo.
Donald: Sim, há, mas não direi o que é.
Jeffrey: Nem eu, já que também sei o que é.
Donald: Temos certas coisas em comum, Jeffrey.
Jeffrey: Sim, temos, pensando bem.
Donald: Enigmas nunca envelhecem, você reparou isso?
Jeffrey: De fato, isso ficou claro para mim na última vez que te vi.
Donald: Um amigo é algo maravilhoso. Feliz aniversário — e que cada dia seja outro segredo maravilhoso.
Robert Garcia, parlamentar democrata no Comitê de Supervisão da Câmara liderado pelos republicanos, afirmou que Trump dizia “que aquela nota de aniversário não existia”. “Agora sabemos que Donald Trump estava mentindo e fazendo tudo que podia para encobrir a verdade”, disse Garcia.
A nota, supostamente assinada por Trump, contém várias linhas de texto, com a última dizendo: “Feliz aniversário — e que cada dia seja outro maravilhoso segredo”.
Em declaração, o presidente republicano do comitê, James Comer, acusou os democratas de “selecionar documentos e politizar informações” recebidas do espólio de Epstein.
“Os republicanos do Comitê de Supervisão estão focados em conduzir uma investigação completa para trazer transparência e responsabilização aos sobreviventes dos crimes hediondos de Epstein e ao povo americano”, afirmou Comer.
Além do livro de aniversário, os parlamentares divulgaram um acordo firmado em 2007 entre Epstein e promotores federais do Gabinete do Procurador dos EUA para o Distrito Sul da Flórida. Foi divulgada também uma agenda pessoal de Epstein com contatos adicionados ao longo de quase 30 anos.
Depois que os democratas divulgaram a nota na segunda-feira, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que “a equipe jurídica do presidente Trump continuará a buscar agressivamente o litígio” contra o Wall Street Journal.
Quem mais aparece no livro?
Além da nota atribuída a Trump, há outra que foi supostamente escrita pelo ex-presidente americano Bill Clinton, na qual menciona a “curiosidade infantil” de Epstein.
Um porta-voz de Clinton reconheceu que ele conhecia Epstein na época, mas afirmou que desconhecia seus crimes. A BBC procurou a Fundação Clinton e um advogado do ex-presidente para comentar o livro divulgado pelos parlamentares americanos.
O material também inclui uma mensagem de aniversário do ex-ministro britânico Peter Mandelson, hoje embaixador do Reino Unido nos Estados Unidos, que chamou Epstein de “meu melhor amigo”.
Procurado pela BBC, um porta-voz de Mandelson disse que ele sempre deixou claro lamentar profundamente ter sido apresentado a Epstein.
O príncipe britânico Andrew, irmão do rei Charles 3º, é citado brevemente no livro. Em uma nota, uma mulher não identificada afirma ter conhecido Andrew, Clinton e Trump por meio de Epstein, além de várias celebridades. Ela acrescenta que já “viu os aposentos privados do Palácio de Buckingham” e “sentou no trono da rainha da Inglaterra”.
Andrew enfrentou acusações no caso Epstein e negou qualquer irregularidade. Em 2022, ele fechou um acordo com a americana Virginia Giuffre para encerrar um processo aberto contra ele por acusação de abuso sexual.
Giuffre estava processando Andrew, alegando que ele a agrediu sexualmente em três ocasiões quando ela tinha 17 anos, em 2001. Ela afirmou que, naquele ano, Epstein a levou para Londres e a apresentou ao príncipe Andrew.
Giuffre morreu em abril de 2025, aos 41 anos. A família dela afirmou que a causa da morte foi suicídio.
Em julho de 2025, o presidente Trump afirmou a jornalistas a bordo do Air Force One que Giuffre foi uma das jovens funcionárias “roubadas” por Epstein do spa de seu resort na Flórida, Mar-a-Lago, o que levou ao afastamento dos dois, segundo ele. “Ele a roubou, e, a propósito, ela não tinha nenhuma queixa de nós, você sabe. Nenhuma.”
Fonte.:BBC NEWS BRASIL