
Crédito, Arthur Menescal/Bloomberg via Getty Images
- Author, Giulia GranchiGiulia Granchi
- Role, Da BBC News Brasil em Londres
O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma nesta terça-feira (9/9) o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus, em uma semana considerada decisiva — quando os ministros devem votar pela condenação ou absolvição dos acusados.
“Antes da decisão dos ministros, porém, a maior nação da América Latina permanece dividida em linhas políticas, com aliados poderosos do líder populista de extrema direita fazendo pressão para que ele receba uma anistia”, escreveu o jornal britânico Financial Times em texto publicado nesta terça-feira.
Segundo o FT, o julgamento levou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a impor tarifas elevadas ao Brasil “e a sancionar a maioria dos ministros que analisam o processo contra seu aliado, o antigo ‘Trump dos Trópicos'”. O jornal acrescenta: “Uma condenação provavelmente aprofundaria a crise com Washington”.
Ainda de acordo com a publicação, Trump exigiu que o Brasil retirasse o processo contra Bolsonaro, que ele descreve como uma “caça às bruxas”. A administração norte-americana estaria considerando impor tarifas ainda mais altas do que a alíquota de 50% já aplicada a muitos produtos brasileiros, além de ampliar sanções financeiras severas a mais ministros do Supremo em caso de condenação, segundo uma fonte próxima ao governo dos EUA ouvida pelo jornal.
O Financial Times também relata que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, veterano da esquerda em seu terceiro mandato, rejeitou a pressão considerada “inaceitável” por Trump, apresentando-se como defensor da soberania brasileira e buscando apoio no bloco dos Brics.
Analistas consultados pelo jornal avaliam que não há uma saída fácil para a crise nas relações com os Estados Unidos.
No New York Times, o caso foi abordado a partir dos protestos realizados no dia da Independência, 7 de setembro.
Segundo o jornal, “à direita, brasileiros enrolados em bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos protestaram contra a ação penal contra Bolsonaro, acusado de tentar se manter no poder após perder a eleição de 2022. À esquerda, manifestantes pediram a prisão de Bolsonaro e denunciaram os esforços do presidente Trump para proteger o ex-líder”.
O NYT destacou ainda que, “na tarde de domingo, imagens aéreas de múltiplos protestos deixaram pouca dúvida de que os apoiadores de Bolsonaro superaram significativamente os manifestantes de esquerda, mostrando que — mesmo em meio a seus problemas legais — ele continua sendo uma força política relevante no Brasil”.
O texto prossegue com a dúvida central: “Mas isso vai importar?” O jornal lembra que, na sexta-feira, o Supremo Tribunal Federal deve condenar Bolsonaro por tentativa de golpe, o que pode levá-lo a enfrentar mais de 40 anos de prisão.

Crédito, Reprodução/New York Times
Já o britânico The Guardian publicou um texto com uma retrospectiva que vai desde a derrota de Bolsonaro para Lula nas eleições de 2022, passando pelos atos de 8 de janeiro, até chegar às investigações atuais.
Segundo o jornal britânico, a defesa do ex-presidente insiste que “não há uma única prova” ligando Bolsonaro à invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília. Sobre a suposta trama de assassinato revelada em conjunto com seu então subchefe de gabinete, Bolsonaro declarou em depoimento que “nenhum plano desse tipo jamais chegou até ele”.
Na última segunda-feira (8/9), o The Guardian também publicou um perfil do ministro Alexandre de Moraes, descrevendo como ele desperta reações distintas a depender das preferências políticas.
O jornal lembrou da fala recente do ministro do STF Gilmar Mendes sobre Moraes: “O Brasil deve muito a ele”, mas enfatizou que os bolsonaristas mais radicais discordam — e até mesmo alguns progressistas manifestam preocupação de que Moraes possa ter extrapolado sua autoridade constitucional em sua cruzada para defender a democracia.
O Guardian lembra que o inquérito das fake news, criado em 2019 para conter a explosão de desinformação da extrema direita, já dura seis anos e ainda não está claro quando será concluído, quem exatamente foi alvo e por qual motivo.
Em protestos, bolsonaristas carregam cartazes que acusam o país de ter se tornado “uma ditadura judicial” e lançam insultos contra o ministro. “Ele é o filho incircunciso de Belial!”, exclamou numa referência bíblica o manifestante pró-Bolsonaro Francisco Antônio em um ato recente na capital, segundo o jornal.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL