11:56 PM
12 de setembro de 2025

Idosa com câncer segue presa pelo 8/1: “Ela é contra criminosos”

Idosa com câncer segue presa pelo 8/1: “Ela é contra criminosos”

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Sônia Teresinha Possa, de 68 anos, é contadora aposentada, viúva, mãe e avó. “E ela é contra criminosos”, afirma o filho Renan Possa, ao relatar que a idosa frequenta a Primeira Igreja Batista (PIB) de Curitiba, não tem redes sociais, não é filiada a nenhum partido político e teria ido a Brasília dia 8 de janeiro de 2023 para conhecer a capital e orar pelo país.

No processo, não há prova que ligue Sônia a atos de depredação, associação criminosa ou à suposta tentativa de golpe de Estado. Os ministros André Mendonça e Nunes Marques votaram para absolvê-la completamente dos seis crimes imputados aos presos do 8 de janeiro. No entanto, a maioria dos magistrados acompanhou o voto do relator Alexandre de Moraes, que condenou a idosa à pena de 14 anos.

“Ela tem a cama mais organizada do presídio, com a Bíblia aberta e anotações feitas”

Guilherme Kilter, vereador de Curitiba, ao falar da idosa Sônia Teresinha Possa, presa pelo 8/1

“Ela sofreu muita humilhação, teve medo na cadeia e perdeu 15 quilos”, lamenta Renan, ao citar que a mãe passou mais de um ano na Penitenciária Estadual de Piraquara e foi transferida no último mês de maio para o Complexo Médico Penal (CMP) de Pinhais.

“Lá, ela tem a cama mais organizada do presídio, com a Bíblia aberta e anotações feitas”, afirma o vereador curitibano Guilherme Kilter, de 22 anos, que visitou recentemente a idosa e relata como foi difícil ver uma senhora com a idade de sua avó e frequentadora de sua igreja enfrentar aquela situação. “O tempo todo as lágrimas iam e voltavam enquanto conversávamos, tanto as dela quanto as minhas”, revelou.

Segundo ele, Sônia trabalha atualmente na farmácia da prisão para reduzir o tempo de pena, e recebe elogios dos colaboradores. Além disso, assiste programações da PIB transmitidas pela TV e afirma sentir muita saudade de ir à igreja. “Isso cortou meu coração”, disse o vereador, ao comentar que vai à PIB todo final de semana e jamais pensou que alguém inocente seria impedido de cultuar a Deus na igreja.

Durante a conversa, a idosa também contou ao parlamentar que viajou a Brasília para conhecer a cidade. “Ela e suas amigas estavam ‘turistando’ na Catedral de Brasília quando viram a polícia e os militares cercando a Praça dos Três Poderes”, relatou Kilter. “Por conta do cerco, foram empurradas para dentro do Congresso, sem entender o que estava acontecendo”, continuou.

Ele informa que a idosa foi, então, levada para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal, conhecida como Colmeia, onde passou 14 dias sem falar com a família. “O filho, suspeitando que algo estava errado, entrou em contato com um advogado que conseguiu tirar a mãe de lá.”

Segundo o vereador, Sônia passou a usar tornozeleira eletrônica, sem poder ir à igreja ou a lugares públicos, nem sair aos finais de semana. “Ficou oito meses nessa condição, até que a Polícia Federal (PF) foi buscá-la em sua casa, por ordem de Moraes, e levaram ela ao presídio feminino de Piraquara.”

Sônia enfrenta câncer de pele maligno, informa defesa

Hoje a idosa está no CMP de Pinhais, onde, de acordo com sua advogada Shanisys Massuqueto Butenes, enfrenta um câncer de pele sem acompanhamento médico adequado. “O câncer dela é maligno, e a defesa já solicitou que receba tratamento em casa”, informa, ao relatar que o último pedido de prisão domiciliar foi apresentado em abril deste ano e segue sem decisão.

À Gazeta do Povo, o STF informa que não há data prevista para análise do caso. Enquanto isso, a Polícia Penal do Paraná (PPPR) informa que a idosa tem recebido atendimento de saúde, de acordo com a orientação dos profissionais responsáveis pelos custodiados do Complexo.

O filho Renan Possa, no entanto, afirma que esse atendimento é “somente em situações pontuais ou de emergência”, nos quais ele comenta que a mãe é obrigada a ir ao hospital algemada, vestindo uniforme laranja e no camburão. “É extremamente humilhante.”

Sônia tinha fotos de manifestantes e arquivos de WhatsApp em seu celular

No voto de Alexandre de Moraes que condenou Sônia à pena de 14 anos, o magistrado aponta que o Ministério Público (MP) caracterizou todas as ações do 8 de janeiro como “delitos multitudinários”, em que “todos atuavam dolosamente”, unidos por “vínculo subjetivo”. Portanto, Sonia Teresinha Possa seria culpada por ter sido presa dentro do Palácio do Planalto.

O ministro também apontou que foram encontradas fotos dos manifestantes no celular da idosa e arquivos a respeito de cuidados a serem tomados em caso de confronto com a polícia, o que demonstraria “plena ciência de qual tipo seria a manifestação que se propôs a participar”.

“Vejo até mesmo como paradoxal, como uma contradição em si, nos referirmos aos manifestantes como ‘turba’ ou ‘horda’ e, ao mesmo tempo, enquadrá-los todos como participantes de uma associação criminosa organizada”

Ministro André Mendonça, ao votar no julgamento de Sônia Teresinha Possa

Não há provas de que a idosa teria cometido crimes

No entanto, o ministro André Mendonça argumenta em seu voto que “o fato de eventualmente ter tirado fotos dos demais manifestantes ou dos policiais não configura adesão” aos atos. Ele também assinala que as postagens localizadas no aparelho celular haviam sido enviadas por outras pessoas em redes sociais e grupos, sem caráter pessoal, e cita que “não há qualquer elemento de prova” que mostre a idosa praticando vandalismo ou aderindo à conduta dos invasores.

“Vejo até mesmo como paradoxal, como uma contradição em si, nos referirmos aos manifestantes como ‘turba’ ou ‘horda’ e, ao mesmo tempo, enquadrá-los todos como participantes de uma associação criminosa organizada”, afirmou em seu voto, ao explicar ainda que Sônia não poderia ser condenada por “golpe de Estado”, já que essa conduta delituosa consiste em “tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído”, e “o Presidente da República sequer estava no Palácio do Planalto” naquele domingo.

Além disso, o ministro afirmou que imputar a todos responsabilidade integral pelos atos de vandalismo que ocorreram naquela data não é adequado, nem justo, e reiterou que cada caso deve ser julgado, individualmente, pela primeira instância da Justiça Federal do Distrito Federal.

“Solte a Sônia imediatamente e, se precisar, me coloque no lugar”, disse vereador

“O que Moraes está fazendo com a Sonia e centenas de outras famílias no Brasil é uma covardia”, afirmou o vereador de Curitiba, Guilherme Kilter, que discursou nas manifestações de 7 de setembro a respeito do caso e pediu a liberdade da idosa. “Ministro, solte a Sônia imediatamente e, se precisar, me coloque no lugar”, disse.

Em vídeo publicado em suas redes sociais, o parlamentar alertou que a condenação da idosa é “sentença de morte” e reflexo de uma ditadura. “Se o ministro Alexandre de Moraes não for covarde, ele vai soltar a Sônia e todos os presos do 8 de janeiro”, finalizou.





Fonte. Gazeta do Povo

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