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15 de setembro de 2025

Minipredador é mais antigo membro do grupo dos lagartos – 15/09/2025 – Ciência

Minipredador é mais antigo membro do grupo dos lagartos – 15/09/2025 – Ciência

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Um predador pequenino mas altamente eficiente é o provável antecessor de todos os lagartos e serpentes vivos hoje, indica um estudo liderado por pesquisadores britânicos. Com 245 milhões de anos, os fósseis do réptil de apenas 10 cm foram encontrados nas rochas da região inglesa de Devon.

As análises conduzidas pelo grupo do paleontólogo Michael Benton, da Universidade de Bristol, indicam que o bicho é o mais antigo membro do grupo dos Lepidosauria. Trata-se da subdivisão dos répteis que também é o grupo de vertebrados terrestres com o maior número de espécies vivas hoje (cerca de 12 mil, por enquanto).

Além de cobras, lagartos e seus parentes próximos, os Lepidosauria atuais abrangem ainda o bizarro e misterioso tuatara (Sphenodon punctatus), que só existe na Nova Zelândia e é o único sobrevivente de uma diversidade muito maior que estava presente durante a Era dos Dinossauros.

A nova espécie fóssil foi batizada como Agriodontosaurus helsbypetrae (“dente selvagem das rochas de Helsby”) na descrição apresentada nesta semana na revista científica Nature. Embora esteja mais próximo do tuatara, de acordo com a árvore genealógica dos répteis montada por Benton e seus colegas, o bicho viveu tão perto da origem dos Lepidosauria que também apresenta algumas características que seriam cruciais para o sucesso evolutivo da maioria dos membros sobreviventes do grupo.

Os elementos-chave entre essas características envolvem, curiosamente, a grande flexibilidade do crânio, conforme explicam os autores do estudo. Serpentes e lagartos de hoje conseguem movimentar os ossos cranianos de um jeito que parece quase mágico para mamíferos como nós, e isso lhes dá a capacidade de ingerir presas proporcionalmente enormes.

Entre esses truques está a mesocinese (o movimento dos ossos do focinho para cima e para baixo) e a metacinese (o movimento dos ossos da caixa craniana, onde está o cérebro, em relação ao resto do crânio). Um dos pré-requisitos para essa grande versatilidade é a chamada barra temporal inferior aberta —uma região óssea na qual estão presos os músculos da mandíbula, que sofre uma pequena modificação nessa linhagem.

Nos tuataras e em sua parentela extinta, a barra temporal inferior é fechada e o crânio é considerado “acinético” (pouco móvel). Na nova espécie fóssil, porém, a barra temporal é aberta, indicando justamente a origem dessa adaptação crucial, embora ela tenha se perdido em seus primos mais recentes.

Com uma curiosa aparência “dentuça”, como a de um ser humano com dentes da frente particularmente grandes e projetados para fora da boca, o Agriodontosaurus helsbypetrae, segundo seus descobridores, provavelmente era um predador ativo que capturava insetos de porte grande.

A mandíbula tinha uma abertura considerável e lhe conferia uma mordida forte, além de minimizar os movimentos das presas. A forma cônica e pontuda dos dentes também era capaz de perfurar a carapaça dos insetos mais duros. Depois de garantida a captura, os dentes de trás eram responsáveis por fatiar a presa em pedaços menores, atuando quase como tesouras.

Essa eficiência dos dentes “normais” talvez explique porque, ao contrário de muitos de seus parentes primitivos, o bicho não contava com uma característica bastante estranha do nosso ponto de vista, a presença de dentes palatais (ou seja, “no céu da boca”). O mais provável é que os dentes palatais não fossem necessários para manter a presa firme na boca.

A estrutura do crânio do bicho também sugere que ele tinha visão e audição aguçadas, sempre importantes para um bom predador. Entre as presas prováveis estavam parentes antigos das baratas e dos gafanhotos de hoje.

Para Benton e seus colegas, a origem dos Lepidosauria nesse momento, o início do Triássico, pode ser parte das grandes transformações pelas quais passavam os ecossistemas terrestres após a chamada “Grande Morte”, a maior extinção em massa da história do planeta, que aconteceu há 252 milhões de anos, no fim do período Permiano.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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