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19 de setembro de 2025

Ainda vale a pena estudar no Brasil – 19/09/2025 – Priscilla Bacalhau

Ainda vale a pena estudar no Brasil – 19/09/2025 – Priscilla Bacalhau

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Ao contrário do que alguns influenciadores da nova geração possam sugerir, ainda há vantagens em estudar. É o que aponta o relatório Education at a Glance, produzido anualmente pela OCDE. A análise traz comparações educacionais dos países membros da organização, e de outros países parceiros, incluindo o Brasil. Segundo o documento, o prêmio salarial no país para quem conclui o ensino superior é um dos mais altos do mundo: os trabalhadores com educação terciária ganham em média mais de 140% a mais do que aqueles com ensino médio, muito acima da média da OCDE (54%).

É esperado que tanto os salários quanto a empregabilidade cresçam quanto maior é a escolaridade alcançada pelos indivíduos. Mas quando o acesso à universidade é restrito a uma parcela da população, há um reforço de desigualdades que se iniciam bem antes da chegada à vida adulta.

Em países como Brasil, Colômbia e Costa Rica, onde menos de um terço dos adultos têm ensino superior, esse grupo desfruta de retornos salariais excepcionais, mais que o dobro sobre quem tem o ensino médio. Já países com educação superior mais disseminada apresentam retorno menor, mas com maior inclusão social.

A escolaridade dos pais segue sendo um forte determinante da trajetória educacional dos filhos, limitando a mobilidade social, não só no nosso país mas também em outros países da OCDE. As suas chances de cursar uma faculdade são expressivamente maiores se seus pais completaram essa etapa eles mesmos.

Os gargalos não cessam no acesso à educação superior. A permanência segue padrão semelhante. O Brasil continua com altas taxas de evasão nesta etapa: um em cada cinco ingressantes abandonam a faculdade ainda no primeiro ano. A seleção e a qualidade do ensino também atravancam o progresso, sobretudo para estudantes de menores rendas e escolaridade parental inferior. Ou seja, é uma parcela ainda mais seleta de indivíduos que conseguem auferir os altos prêmios salariais. Quem entra, nem sempre consegue sair.

Os retornos à educação não se limitam a maiores salários. O relatório também aponta que adultos com maior escolaridade apresentam melhores indicadores de saúde, menos doenças crônicas e maior expectativa de vida. Além das competências cognitivas, a frequência escolar está associada ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como perseverança, trabalho em equipe e capacidade de resolução de problemas.

Em paralelo, pesquisa recente do MEC sobre o EJA (Educação de Jovens e Adultos) mostra que a valorização da escolarização não acontece apenas via diploma universitário, mas também por ganhos advindos da alfabetização ou conclusão da educação básica. Quem conclui níveis mais altos via EJA apresenta aumento significativo na probabilidade de obter emprego formal e com melhores condições, mas inferior aos ganhos da educação regular.

Portanto, mesmo em segmentos vulneráveis, ampliar o acesso à escolaridade traz impacto objetivo, com potencial de transformação social. Discutir os retornos à educação no Brasil exige reconhecer e fortalecer as vias alternativas de escolarização já presentes no país. Ou o Brasil investe amplamente em acesso e permanência escolar, ou seguirá perpetuando desigualdades.


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Fonte.:Folha de S.Paulo

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