Europeus que vieram a São Paulo em 1930 buscavam uma atividade profissional de acordo com suas habilidades e aspirações. Um deles era o espanhol Eduardo Fernandes, que abriu uma venda no Mandaqui, bairro na zona norte de São Paulo, onde anunciava seus “secos e molhados”.
Durante os primeiros anos da casa, tudo corria bem —até que, em 1968, um morador do bairro trouxe da cidade de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, a ideia revolucionária de abrir um supermercado que se tornaria referência em várias áreas da capital paulista, o Pastorinho.
Com a concorrência que atraía a freguesia ávida por novidades, as vendinhas foram sendo abandonadas, e a maioria acabou fechando. Mas uma família teve ideia melhor: por que não transformar o estabelecimento em um bar? Papel higiênico se encontra em qualquer lugar, mas um bom petisco sempre achará um paladar para chamar de seu.
Nascia assim, em 1970, o Bar do Luiz Fernandes, nome do filho do velho imigrante espanhol que fundaria um negócio que resiste até hoje na rua Augusto Tolle, 15, no Mandaqui, e já está na terceira geração, com as filhas de Luiz formadas em gastronomia e marketing, mas atentas à receita de sucesso da casa.
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Foi com as receitas originais da esposa portuguesa do pai que Luiz Fernandes tocou um negócio que ainda atrai multidões que se amontoam na rua de mão dupla, na disputa por um lugar entre as espremidas mesinhas de boteco. Como decoração, uma confusa mistura de faixas de times de futebol dos mais diversos países —mas poucos prestam atenção aos enfeites.
Ali, a comida e a bebida são estrelas, servidas sem adereços ou firulas por garçons que circulam sem errar um pedido pelos estreitos espaços entre as mesas.
Se Luiz acompanha cada detalhe do movimento ao lado da mulher, Rita de Cássia, suas filhas Clara e Carol também estão totalmente dedicadas ao negócio e prontas para não deixarem mudar nada da receita de sucesso.
“A gente cresceu ali dentro”, conta Clara. “O cheiro do bolinho, o barulho do salão, as histórias dos clientes fazem parte da nossa infância”.
Embora elas tivessem em algum momento ensaiado carreiras longe do bar, o sangue falou mais alto. “Um dia, sem perceber, já estávamos tomando decisões importantes”, recorda Clara, que largou o curso de arquitetura um ano após começar.
A irmã Carol, formada em nutrição, também chegou a atuar na área fora do negócio da família, mas logo entendeu que a sua paixão estava em cuidar do bar, tanto da cozinha quanto da operação.
As filhas tratam agora de pensar a modernização da casa, em elementos como time e gestão. “Ficar parado é muito arriscado”, diz Clara.
“Queremos crescer com consciência, com processos bem definidos, uma equipe alinhada com nossos valores e não virar nunca uma franquia sem alma”.
Se boteco e cerveja são sinônimos para a maioria dos frequentadores raiz de botecos, o diferencial do Bar do Luiz Fernandes (ou BDL para os íntimos) são as batidas e caipirinhas de frutas que remontam ao aproveitamento dos produtos da velha vendinha.
Há batidas, como a de coco, amendoim e tantas outras tradicionais dos botecos raiz, servidas em um pequeno copo de 150 ml, por R$ 11, mas que podem ser levadas para casa em garrafas de 770 ml por R$ 70.
Para acompanhar, um cardápio de petiscos e a atração herdada do velho espanhol: um balcão de acepipes, versão portuguesa das tapas, que vão desde porções de jiló em conserva até fatias gordas de morcela, passando por rollmops e rodelas de palmito, queijos e embutidos diversos.
É só ir lá e pedir, que a balconista prepara o prato que em poucos minutos chegará a sua mesa, por mais escondida que ela seja.
Mas o carro-chefe da casa é o bolo de carne criado por duas Idalinas, a mãe e a esposa de Eduardo, que tinham o mesmo nome. Acompanhado de vinagrete, o quitute vem em dois tamanhos, por R$ 8 o pequeno e R$ 12 o grande.
Em tempo, vale contar que o BDL tem outras duas unidades, todas na zona norte. Uma casa fica na avenida Engenheiro Caetano Álvares, 5.470, e outra na praça de alimentação do Andorinha Hipercenter. Há um intercâmbio dos cozinheiros das três unidades para garantir que tudo saia sempre com a mesma qualidade e tradição. Uma preocupação contínua do boteco.
Bar do Luiz Fernandes
Av. Eng. Caetano Álvares, 5.470, Mandaqui, região norte. @bardoluizf
R. Augusto Tolle, 610, Santana, região norte
Av. Parada Pinto, 2.262, Horto Florestal, região norte
Fonte.:Folha de São Paulo