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23 de setembro de 2025

Prisão aponta suspeita de interferência de ex-número 3 da PF em operações sobre mineração

Prisão aponta suspeita de interferência de ex-número 3 da PF em operações sobre mineração

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(FOLHAPRESS) – A prisão de um ex-integrante da cúpula da Polícia Federal, na última quarta-feira (17), aponta suspeitas de interferência em ações da corporação para beneficiar ou prejudicar empresas ligadas à exploração de minério e para atender a interesses pessoais ligados ao tema.

As investigações centralizam essas suspeitas no delegado Rodrigo de Melo Teixeira, que foi diretor da Polícia Administrativa de janeiro de 2023 a março deste ano. Ele foi um dos alvos centrais da operação e está preso preventivamente (sem tempo determinado).

Hierarquicamente, o seu cargo era o terceiro mais importante da Polícia Federal no governo Lula (PT). Ele também tem relações com figuras ligadas ao PL, partido de Jair Bolsonaro, como o lobista Gilberto Horta Carvalho, outro preso na operação.

Teixeira tem um histórico de ter ocupado diferentes cargos, tanto no Executivo como na própria polícia. Ele foi secretário-adjunto na área ambiental de Defesa Social e foi presidente de uma fundação no governo de Fernando Pimentel (PT) em Minas Gerais, de 2015 a 2018.

Também foi superintendente da PF em Minas de janeiro de 2018 a janeiro de 2019 -deixou o posto pouco depois do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho.

Ele estava no cargo quando Bolsonaro levou uma facada durante evento político em Juiz de Fora, e comandou a regional mineira durante as investigações do atentado.
Depois, ocupou um cargo na Prefeitura de Belo Horizonte até dezembro de 2022.

Em seguida, assumiu a direção da Polícia Administrativa, em Brasília.
Sua defesa afirma que, devido ao seu perfil político, outros integrantes da Polícia Federal criaram desavenças com Teixeira, e que não há motivo para a sua prisão. Os advogados pedem à Justiça que a detenção seja substituída por medidas cautelares.

Também dizem que o pedido de prisão não mostrou qualquer fato concreto de que Teixeira tenha interferido em alguma investigação da PF.

Questionada sobre o caso, a Polícia Federal disse em nota que “já adotou as medidas administrativas cabíveis em relação a servidores eventualmente citados, sem prejuízo da apuração criminal em curso”. “As investigações da Operação Rejeito seguem em andamento, visando à completa elucidação dos fatos”, diz o órgão.

A apuração que culminou na prisão do delegado, tocada pela própria Polícia Federal, afirma que Teixeira era sócio oculto em empresas de mineração e usava sua influência institucional para obter vantagens ilícitas.

A PF diz que mesmo após deixar a Superintendência de Minas, Teixeira mobilizou integrantes da corporação para agirem contra uma mineradora que estava em conflito com pessoas das quais era aliado.
Para fundamentar as suspeitas, eles usam informações obtidas em quebras de sigilo e em outros depoimentos.

No segundo semestre de 2021, quando era secretário-adjunto de Segurança da gestão Alexandre Kalil em Belo Horizonte, Teixeira enviou mensagens à delegada Kelly Cristina de Castro Batista sobre uma empresa que estaria fazendo extração ilegal de minerais.

Essa empresa era de um grupo adversário de pessoas que eram próximas a Teixeira, que também atuavam no ramo da mineração.

Meses depois, no início de 2022, a delegada fez diligências na área sem abertura de um procedimento investigativo. A PF diz que a ação foi um “instrumento de intimidação”. A delegada foi alvo de busca e apreensão na quarta.

Em outro episódio narrado no pedido de prisão, a polícia diz que há indícios de que Teixeira, já no cargo de diretor de Polícia Administrativa, atuou para a retirada de um delegado, Frederico Coelho, de uma investigação que envolvia um ex-diretor da ANM (Agência Nacional de Mineração). O delegado deixou o comando do inquérito meses depois.

Além disso, a PF também afirma que há indícios que sugerem que Teixeira forneceu a uma empresária da mineração informações sigilosas de uma apuração da polícia.

A suspeita é baseada em uma mensagem no WhatsApp no qual ela menciona que um Rodrigo adiantou uma investigação policial.

A defesa do delegado nega todas as suspeitas levantadas pela Polícia Federal.
O advogado dele, Bruno César, afirma que seu cliente tinha o dever de agir ao saber de uma irregularidade cometida por uma empresa no caso em que informou a delegada Kelly.

Ele diz que, como ela atuava na área ambiental, tomou as providências necessárias, e que a diligência só foi feita meses depois do comunicado.
“Falar de mineração na Serra do Curral em Belo Horizonte é que nem falar de Atlético-MG e Cruzeiro, todo mundo comenta”, diz o advogado. A serra é um dos cartões postais da cidade.

Ele afirma ainda que a mensagem sobre uma investigação policial citava um outro Rodrigo, homônimo e sócio de uma mineradora, e não o seu cliente.
Por fim, afirma que o delegado que deixou a investigação sobre o ex-presidente da ANM já tinha pedido para sair do inquérito.

A defesa cita que em um depoimento tomado no caso, o delegado discutiu com um dos investigados e depois disse que se excedeu, que estava “com uma carga muito pesada” em cima dele e que já tinha feito requerimento para se desligar da delegacia.

A reportagem não localizou a delegada Kelly Batista ou sua defesa, e nem o delegado Frederico Coelho.

Na investigação que levou à ação deflagrada em Minas Gerais na quarta, a Polícia Federal afirmou que servidores públicos eram cooptados por uma organização criminosa.

Segundo os agentes, em troca de propina, os servidores expediam licenças, pareceres e autorizações que permitiam ao grupo avançar com projetos de mineração em áreas de grande interesse histórico e ambiental.

Entre os servidores suspeitos de envolvimento estão Caio Mário Trivellato Seabra Filho, um dos diretores da ANM, e o próprio Teixeira.

A defesa de Seabra disse em nota que ele “sempre se colocou à disposição das autoridades competentes para prestar os devidos esclarecimentos, em total respeito à legalidade e à transparência”.

No total, a PF cumpriu 22 mandados de prisão e 79 de busca. São apurados crimes ambientais, corrupção e lavagem de dinheiro.

Polícia Federal prende diretor da Agência Nacional de Mineração

Segundo informações da Polícia Federal, são cumpridos 79 mandados de busca e apreensão, 22 de prisão preventiva e afastamento de servidores públicos, além do bloqueio de R$ 1,5 milhão e suspensão de atividades de pessoas jurídicas envolvidas nos crimes

Folhapress | 11:15 – 17/09/2025



Fonte. .Noticias ao Minuto

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