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18 de novembro de 2025

Estados Unidos: consumo de sushi cresce na dieta americana – 24/09/2025 – Comida

Estados Unidos: consumo de sushi cresce na dieta americana – 24/09/2025 – Comida

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Em 1985, quando a personagem de Molly Ringwald em “Clube dos Cinco” tira um bentô de sushi na fictícia Shermer High School, os outros estudantes ficam desconcertados com o almoço enigmático.

Em 2025, quando a hora do almoço começa na verdadeira Stevenson High School em Lincolnshire, um subúrbio de Chicago semelhante ao cenário do filme, os alunos correm para a fila do balcão de sushi no refeitório da escola.

Como peixe cru e algas marinhas se tornaram itens básicos da dieta americana?

Nos anos 80, o sushi tinha um ar de mistério. Embora fosse vendido em máquinas automáticas e postos de gasolina no Japão, nos Estados Unidos era uma comida sofisticada que só podia ser feita com ingredientes impecáveis, por mestres que haviam treinado por décadas.

Mas à medida que os restaurantes de sushi proliferaram entre as costas leste e oeste, e que se construiu infraestrutura para armazenar e transportar frutos do mar congelados, o sushi americano se tornou outra coisa: comida de conveniência.

Em entrevistas, chefs de sushi, profissionais de marketing, pesquisadores e atacadistas concordaram que a pandemia de Covid provocou um aumento inesperado, e enorme, no apetite dos americanos por sushi.

À medida que as pessoas se cansavam de cozinhar em casa e de pratos tradicionais de delivery como pizza e burritos, o sushi ganhou popularidade, fosse entregue pelo Nobu em Beverly Hills ou retirado em uma Target em Minneapolis.

Um porta-voz da rede de supermercados Kroger, que oferece sushi desde 1991 e afirma ser a maior vendedora do país, disse que as vendas saltaram 50% desde 2019, chegando a 1 milhão de rolos por dia. Antes da pandemia, o sushi para viagem representava cerca de 6% dos negócios totais nos 12 restaurantes Blue Ribbon Sushi espalhados pelo país, de Boston a Los Angeles. Agora, segundo o coproprietário Bruce Bromberg, é 30%.

O chef Masaharu Morimoto disse que, em todo o seu grupo global de restaurantes, as vendas de sushi para viagem dobraram durante a pandemia e permaneceram altas desde a reabertura das salas de jantar.

“Vimos toda uma nova leva de consumidores entrando nessa categoria”, disse Richard Barry, do National Fisheries Institute, um grupo da indústria que reúne os maiores pescadores, processadores, distribuidores e varejistas de frutos do mar nos EUA. “O consumidor millennial cresceu com sushi”, disse. “Passou de exótico a onipresente em uma geração.”

Antes um nicho pequeno do mercado de frutos do mar, o sushi agora é o líder de crescimento da indústria.

Grande parte desse crescimento não está acontecendo em restaurantes com omakasê de US$ 300 (cerca de R$ 1.595) por pessoa (embora esses estejam proliferando). Está acontecendo em postos de gasolina e grandes varejistas, pistas de boliche e estádios, cantinas do Exército dos EUA e parques de diversões.

O sushi de varejo, também chamado de deli sushi por geralmente estar localizado em supermercados, é um dos segmentos que mais cresce nesses estabelecimentos, segundo a Circana, empresa de pesquisa de mercado. Em 2024, o sushi de varejo movimentou US$ 2,8 bilhões (cerca de R$ 14,8 bilhões), um aumento de 7% em relação a 2023.

Por causa desse apetite crescente, restaurantes sofisticados também estão investindo em sushi para viagem.

Nos restaurantes Sugarfish, no sul da Califórnia e na cidade de Nova York, cada pedido é embalado em uma caixa patenteada criada por Clement Mok, cofundador do Sugarfish e renomado designer digital que foi diretor criativo da Apple de 1982 a 1988. “Visualmente, minhas influências foram um prato branco, um bentô e uma embalagem da Apple”, ele disse.

Na prática, o desafio foi muito mais difícil: igualar a experiência do delivery aos altos padrões do chef fundador de sushi do Sugarfish, Kazunori Nozawa: arroz morno, peixe fresco, molhos pincelados no último minuto.

Ele disse que a transição do design digital para o analógico foi complicada, exigindo soluções para parâmetros como a janela de 30 a 60 minutos aprovada por Nozawa para consumir o sushi após ser feito, além de testar dezenas de amostras de papelão até encontrar uma que não absorvesse molho de soja nem fizesse o arroz quente grudar.

A caixa tem compartimentos para maki, sashimi e nigiri; um espaço para guardanapo e hashis; molhos em potes codificados por cor; e um guia visual impresso na parte interna da tampa, como uma caixa de chocolates See’s.

Ele e seus cofundadores ainda estão ajustando o design, que recebeu patente em 2017.

Na Universidade de Massachusetts Amherst, o sushi é preparado do zero no campus, com salmão norueguês de cativeiro e atum do Atlântico pescado na costa da Nova Inglaterra. A escola venceu nove vezes seguidas o prêmio de melhor comida de campus da Princeton Review.

Segundo Alexander Ong, diretor culinário da instituição, o consumo de sushi cresceu 30% ao ano desde que ele chegou em 2018, mais rápido que qualquer outro tipo de comida. Ele disse que os 22 mil estudantes de graduação da escola, a maioria com plano de refeições de livre acesso, frequentemente passam mais de uma vez no balcão. “Eles comem logo cedo de manhã e o dia todo até a hora de dormir”, afirmou.

O sushi de varejo pronto, vendido em locais como postos de gasolina, é produzido para o mercado de massa principalmente por algumas grandes empresas: Bento, Fuji Foods, Hissho e AFC.

A maior parte é feita de frutos do mar cozidos, como camarão escaldado, imitação de caranguejo e enguia grelhada. Peixes crus como atum e salmão são descongelados de blocos que foram supercongelados e armazenados entre -40ºC e -62ºC, o que mantém a carne intacta e mata parasitas. O sushi é enrolado por máquinas em uma central, embalado em potes de plástico e despachado diariamente.

Embora o peixe pareça fresco e seja seguro de comer se manipulado corretamente, há algumas concessões embutidas que tornam o sushi “pegue e leve” diferente do artesanal. Por exemplo, as diretrizes federais de segurança alimentar exigem manter o sushi (como outros alimentos embalados, como sanduíches) refrigerado entre 0 °C e 5 °C. Mas isso elimina o contraste de temperatura entre arroz e peixe. Além disso, o arroz começa a endurecer assim que é refrigerado.

Na última década, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), houve apenas dois surtos de doenças transmitidas por alimentos ligados ao peixe cru no sushi; no mesmo período, houve dezenas relacionados a frango e carne bovina.



Fonte.:Folha de São Paulo

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