12:31 AM
9 de outubro de 2025

Sua boca pode ser mais velha do que você pensa

Sua boca pode ser mais velha do que você pensa

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Quantos anos tem a sua boca? Será que é o mesmo número de velas do seu último bolo de aniversário? A pergunta é pertinente dentro do escopo da síndrome do envelhecimento precoce bucal (SEPB).

O nome pode ser um pouco assustador, mas ela resume um universo de problemas cada vez mais frequente nos consultórios dos dentistas: uma diferença visual e diagnóstica do estado dos dentes, gengivas, língua, bochechas, quantidade e qualidade salivar que denunciam um desgaste maior do que o esperado para a idade cronológica ou fisiológica das pessoas.

Estamos presenciando pessoas com 30 anos de idade, ou menos do que isso, com bocas de uma pessoa de 50 ou 60 anos. Como estarão quando chegarem aos 60 ou 70 anos?

A SEPB tem sido catalogada nos últimos anos por pesquisadores e clínicos de diferentes áreas no Brasil. No entanto, ela só foi publicada em 2023, tanto em artigos internacionais, quanto em livros acadêmicos e manuais técnicos. Em 2024 e 2025, o Ministério da Saúde publicou diretrizes para compreensão e prevenção da síndrome na Biblioteca Virtual de Saúde como programa de atenção primária à saúde.

De dentaduras precoces a dentes preservados

Antigamente, as pessoas perdiam os dentes de forma precoce por falta de tratamento e prevenção. Na geração dos nossos avós, com 50 ou 60 anos, grande parte da população já usava dentaduras totais.

Nos últimos 55 anos, com o advento dos cremes dentais fluoretados, da fluoretação da água, do aumento do acesso à saúde bucal e da melhora na educação em saúde, os dentes estão permanecendo na boca por mais tempo.

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Mas isso não nos livra de problemas. A expectativa é que os novos idosos cheguem aos 70 e 80 anos com a maioria dos dentes presentes — porém, sujeitos ao envelhecimento acelerado das estruturas bucais.

O papel do “wellness” no envelhecimento bucal

Outro ponto que merece destaque é que alimentos considerados saudáveis pelo movimento wellness apresentam muita acidez, que afeta diariamente dentes e gengivas.

Entram na lista os “shots de imunidade” com gengibre e/ou limão, whey protein, suco de limão, isotônicos, sucos detox

O uso consciente destes alimentos deve ser acompanhado pelo dentista através do exame da SEPB. Assim como em outras partes do corpo, a boca pode apresentar envelhecimento precoce devido a doenças, disfunções ou estilo de vida.

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Hábitos modernos

Os dentes e todas as estruturas bucais sofrem com hábitos e problemas ligados à vida moderna, tais como:

  • Mastigação inadequada;
  • Refluxo gástrico;
  • Prática esportiva intensa;
  • Uso de cigarros comuns e eletrônicos;
  • Estresse;
  • Ansiedade;
  • Efeitos colaterais de medicamentos psiquiátricos;
  • Uso de sedativos;
  • Bruxismo em vigília e do sono.

Esse cenário se agrava em uma geração cada vez mais medicada e ansiosa, marca intensificada no pós-pandemia de Covid-19.

Um novo desafio

A SEPB está associada às chamadas “doenças não cariosas”, que surgem mesmo em bocas bem higienizadas.

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Isso não elimina a cárie, mas adiciona novos problemas como desgaste dental acelerado, trincas, recessões gengivais, sensibilidade, danos articulares, reabsorção óssea e até fraturas de dentes íntegros.

Esses fatores vêm sendo estudados e identificados em pacientes cada vez mais jovens e até em crianças.

A importância da prevenção e do diagnóstico precoce

A SEPB ainda é uma novidade dentro da Odontologia, mas já gerou livros, artigos, cursos e congressos. O alerta é claro: nem toda boca limpa é uma boca saudável.

O excesso de telas antes de dormir, a baixa qualidade do sono e outros fatores ampliam os riscos de avanço da síndrome. Muitos dentistas ainda deixam sinais passarem despercebidos, e a análise de outros profissionais pode ser necessária.

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A boca não está separada do corpo e da mente. Por isso, a prevenção e o tratamento devem ser conduzidos em conjunto com psicólogos, médicos, nutricionistas, fisioterapeutas e outros. A integração multidisciplinar é essencial, embora ainda seja um desafio na prática.

Quando procurar o dentista?

É possível que você tenha uma boca mais “idosa” do que você mesmo. Os sinais da SEPB nem sempre são fáceis de perceber em fases iniciais. Por isso, a recomendação é clara: procure seu dentista regularmente.

Mais da metade dos brasileiros não têm o hábito de visitas anuais ao consultório e só buscam atendimento em casos de dor ou fraturas. O diagnóstico precoce pode equilibrar a balança e retardar o envelhecimento bucal.

Pesquisas indicam que pelo menos 85% da população possui dois ou mais fatores de risco para a SEPB.

*Luiz Rodolfo May dos Santos é cirurgião-dentista, especialista em periodontia, criador de conteúdo do blog e perfil Dicas Odonto, co-criador e co-apresentador do Podcast PodSondar; e Paulo Vinícius Soares, cirurgião-dentista da Versage Odontologia, membro da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética e de Pesquisa Odontológica. 



Fonte.:Saúde Abril

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