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5 de outubro de 2025

“A dermatite atópica foi o início de uma vida de autoconhecimento”

“A dermatite atópica foi o início de uma vida de autoconhecimento”

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Minha história com a dermatite atópica (DA) começou quando eu tinha apenas 3 meses de vida. Não me lembro dos primeiros sintomas — a pele ressecada e as feridas que, segundo minha mãe, cobriam meu corpo — mas sei que foi ali que minha jornada em busca de alívio e aceitação começou.

Desde a infância, passei por incontáveis tratamentos, consultas e recomendações. Havia os profissionais, as pomadas, os medicamentos, mas também as “curas” milagrosas sugeridas por familiares, cada um com sua crença.

A busca era por um alívio físico, sim, mas também por um respiro para a mente. Afinal, a dermatite atópica deixa marcas visíveis: feridas, cicatrizes, coceiras intermináveis. Para uma criança, crescer com a pele como um “cartão de visitas” que a sociedade insiste em julgar é um desafio imenso.

Eu me sentia diferente, segregado. As perguntas na minha cabeça eram pesadas demais para um menino de 12 anos: “Por que comigo?” ou “Faz sentido existir assim?”. Hoje, como adulto, entendo o peso desses olhares de preconceito, que nascem da falta de conhecimento. É doloroso pensar que uma criança precise se justificar por uma condição que não está em seu controle.

A grande virada veio com o Dermacamp, um projeto fundado em 2001 para acolher crianças e adolescentes com DA. Foi lá que percebi que eu não estava sozinho. Encontrar outras pessoas que viviam as mesmas lutas e inseguranças me mostrou que havia um mundo além da minha pele, além do preconceito.

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O medo de formar uma família

Por muito tempo a DA foi uma “barreira” para construir família. Eu tinha medo de trazer uma criança ao mundo e que ela acabasse passando pelos mesmos perrengues que eu vivi — as coceiras, os preconceitos, a segregação.

Mas depois de muito diálogo, a Joyce, minha esposa, me convenceu de que não haveria melhor pessoa para criar uma criança com DA do que eu, justamente por viver isso todos os dias. E ela tinha razão. Hoje, a nossa filha Íris está aqui, firme, forte e empoderada, me mostrando que é possível transformar o medo em coragem e acolhimento.

Aprendi a ver a dermatite atópica não como algo que me define, mas como parte de mim. Em vez de lutar contra ela, passei a trabalhar com ela. Entendi que a coceira muitas vezes era um alerta: um sinal de que eu estava estressado ou ansioso, e que precisava encontrar meu equilíbrio. A DA se tornou, para mim, sinônimo de autoconhecimento.

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Hoje, aos 33 anos, posso dizer que essa jornada me fortaleceu. Toda a experiência que adquiri me motiva a fazer a minha parte para que outras pessoas não precisem trilhar o mesmo caminho de dor e isolamento.

Recentemente, a vida me presenteou com uma filha que também herdou a dermatite atópica, e isso só reforça meu propósito. Quero que ela e todas as outras crianças entendam que não precisam carregar o fardo do preconceito.

Quero disseminar o máximo de informação possível para que a pele de ninguém seja motivo de vergonha. Que o diagnóstico seja apenas o início de uma vida de autoconhecimento, e não de sofrimento.

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*Marcio Gonçalves, 33 anos, paciente com dermatite atópica.

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Fonte.:Saúde Abril

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