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5 de outubro de 2025

Everest: como é fazer a trilha longa rumo ao acampamento – 01/10/2025 – Turismo

Everest: como é fazer a trilha longa rumo ao acampamento – 01/10/2025 – Turismo

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A primeira pergunta que eu ouvia quando contava a alguém que estava preparando uma viagem ao Nepal para conhecer a trilha do acampamento-base do Everest era: “você vai escalar?” Não. Aí vinha a segunda pergunta: “você vai acampar?”. Também não.

O roteiro percorre apenas um trecho da cordilheira do Himalaia por onde passam os alpinistas, que tentam alcançar os 8.848 metros da montanha mais alta do planeta. Para nós, turistas comuns, que pernoitamos em alojamentos de madeira, a meta é chegar a pouco mais de 5.000 metros, um patamar que nos permite apreciar a silhueta do Everest e observar as barracas em que os alpinistas ficam acampados até a escalada.

Visto como viagem de esportistas ou aventureiros, o destino espanta quem tem medo de sofrer o mal de altitude. Mas com um pouco de pesquisa sobre as opções de trilhas, você pode encontrar um percurso que facilite a aclimatação.

A maior parte dos visitantes chega pela capital, Katmandu, abaixo dos 1.500 metros de altitude, e pega um voo para Lukla, desembarcando já em torno dos 2.800, onde eles começam o trekking.

Eu preferi escapar deste voo. É que a aviação no Nepal ocupa posições de liderança nos rankings globais de mortes por acidentes aéreos, atribuídos a questões como relevo montanhoso, dificuldades de previsão meteorológica e condições da frota.

E o aeroporto de Lukla, com sua pista inclinada e curtíssima, cerca de 500 metros, é considerado por pilotos como um dos mais difíceis do mundo.

Qual seria a alternativa? Pegar um jipe de Katmandu para percorrer um pedaço do caminho, até a vila de Jiri, e depois seguir a pé. Com isso, o trekking para o acampamento-base do Everest, que a maioria dos turistas faz em uma caminhada de aproximadamente 150 km em uns 15 dias, se tornou um passeio de 350 km em quase 30 dias.

A esticada só tem vantagens. Além de oferecer um repertório mais completo do clima e da vegetação na parte baixa das montanhas, eleva o tempo de aclimatação para o nosso organismo lidar com o mal de altitude.

As subidas e descidas do trecho que seria feito de avião também fortalecem o corpo para chegarmos bem preparados aos pontos mais altos, podendo curtir as paisagens sem dor de cabeça nem falta de ar.

Chamada de trilha clássica, segundo os locais, por ali passaram as primeiras expedições de alpinistas que escalaram o Everest antes da construção do aeroporto de Lukla, inaugurado nos anos 1960.

Este trecho inicial, que os turistas costumam ignorar para chegar de avião direto em Lukla, enriquece a experiência cultural. O caminho te leva a vilarejos de moradores que transformam suas casas em hospedagens para receber os viajantes.

Você pode cumprimentá-los com a saudação “namasté” e pedir licença para entrar nas cozinhas, se quiser aprender receitas locais. Com o passar dos dias, verá mulheres lavando o cabelo ao ar livre para aproveitar o calor do sol e será abordado por crianças de uniforme na saída da escola, acostumadas a pedir doces aos estrangeiros.

Para não decepcioná-los, leve algum mimo que não pese na bagagem, como balas, bexigas ou lápis de cor. Também é comum cruzar o caminho dos monges que habitam os diversos monastérios budistas.

Neste trecho, as dormidas e paradas de almoço são feitas nas vilas de Shivalaya, Deurali, Bhandar, Kinja, Sete, Junbesi, Ringmo, Taksindu, Nunthala, Kharikhola, Jubing, Bupsa, Paiya e Surke. O tempo de caminhada e os locais de pernoite vão depender das condições do clima e da sua disposição. Se você melhorar a capacidade física antes de sair do Brasil, vai favorecer o desempenho.

Entre Sete e Junbesi, o passo de montanha Lamjura La Pass é o primeiro ponto acima dos 3.500 metros. Depois, vem uma longa descida, e você seguirá abaixo dessa altitude por mais alguns dias, se habituando às alturas em um prazo maior do que ocorreria no avião.

A trilha cruza outro belo passo, o Taksindu Pass, que oferece ao viajante, além das paisagens, as primeiras sensações de conquista, entre tantas que você terá na expedição. Passos de montanha são passagens estratégicas para quem cruza as cadeias montanhosas. É preciso subir até lá para atravessar ao outro lado do relevo.

Depois de uma semana de caminhada, as cenas de crianças correndo pela estrada e famílias cuidando da plantação, alimentando cabras, trançando cestos de palha e outras imagens da vida rural começam a desaparecer. É quando você se aproxima da bilheteria do Parque Nacional de Sagarmatha, depois de passar por Lukla, por onde chegam os turistas de avião.

Sagarmatha é o nome nepalês do Everest. A partir dali, começa a transição no cenário, que ganha um ar mais esportivo e vibrante pela maior presença dos estrangeiros vestidos com roupas térmicas coloridas, mochilas e bastões de trekking.

A vegetação vai mudando, e os rododendros floridos são substituídos por árvores coníferas. Aparecem as filas de mulas e iaques (um tipo de bovino peludo), usados para levar suprimentos à montanha, já que não há mais estradas para os veículos. São tantos que provocam engarrafamento, obrigando os turistas a esperarem o fluxo.

Aliás, quando ouvir o barulho dos sinos pendurados no pescoço dos animais de carga, se acomode em algum canto, sempre do lado da montanha, nunca à beira do abismo, porque eles podem esbarrar. Nos locais de maior trânsito, redobre a atenção a cada passo, porque o excesso de estrume deixa a pista escorregadia.

Enquanto subimos, fica cada mais evidente o papel do turismo na economia local. Durante as temporadas, que vão de março a maio e de setembro a novembro, homens e mulheres trabalham como carregadores levando dezenas de quilos nas costas. Muitos deles são de etnia sherpa, famosos pelas habilidades de escalada no Himalaia e pela resistência à altitude.

Com um esforço sobre-humano, eles levam de tudo: panelas, garrafas de cerveja ou água, cadeiras de acampamento para os alpinistas, mochilas para os turistas, portas, geladeiras e barras de ferro para construção.

A imagem dos carregadores talvez seja um dos símbolos mais impressionantes para o turista que circula por ali, tanto quanto as montanhas.



Fonte.:Folha de S.Paulo

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