A série de casos de intoxicação por metanol registrada em São Paulo (com episódios suspeitos também em outros estados) nos últimos dias fez o brasileiro aprender mais sobre esse tipo de álcool extremamente perigoso para a saúde humana.

Mas algumas dúvidas permanecem: com o principal foco das contaminações até aqui sendo os destilados, será que existe algum risco de encontrar metanol em outras bebidas alcoólicas? A cerveja, por exemplo, pode ser consumida sem medo? E o que dizer de alternativas com mais álcool, como o vinho?

Entenda melhor essa história.

+Leia também: Metanol: o que é, quais os perigos e o que fazer em caso de intoxicação

Cerveja tem metanol ou não? Ela é perigosa?

Respondendo de forma curta e direta: sim, a cerveja até pode conter quantidades ínfimas de metanol, mas essa presença não representa perigo à saúde humana.

O metanol pode aparecer em diferentes processos de fermentação, mas, quando não se trata de uma bebida destilada, seus níveis costumam ser extremamente pequenos e incapazes de gerar danos ao nosso corpo.

Além da baixa concentração, a própria presença do etanol (o “álcool normal”) ajuda a anular qualquer eventual efeito que o metanol poderia produzir. Os dois álcoois “competem” pelo nosso metabolismo, e o etílico vence a corrida. É esse um dos motivos, aliás, que faz com que o etanol seja usado como antídoto no tratamento para intoxicações (em ambiente hospitalar, com protocolos rígidos de segurança).

Afirmação semelhante cabe para o vinho: assim como a cerveja, ele também pode ter uma presença do metanol, que neste caso vem da pectina encontrada nas cascas das uvas. Ao fermentar, ela produz uma quantidade muito pequena do álcool tóxico. Mas, também na vitivinicultura, os níveis de metanol produzidos estão dentro dos limites de segurança.

Para não destilados, de modo geral, o único risco à saúde das bebidas é representado pelo próprio álcool etílico mesmo: afinal, mesmo sendo improvável que ele mate imediatamente como o metanol, ainda assim se trata de uma substância associada a problemas de saúde no longo prazo (e até no curto, se for ingerido em excesso).

Por isso, mesmo sem metanol, beba com moderação!

Por que destilados são o principal foco de perigo para o metanol?

O metanol é um risco muito maior em bebidas como cachaça, gin, uísque, vodca e outros destilados em função do próprio processo de fabricação.

No começo de qualquer destilação, a fase inicial produz uma quantidade de bebida com teores muito elevados de metanol. É o que quem trabalha no ramo chama de “cabeça”, que deve ser descartada. Quando essa fase é negligenciada ou feita de forma inadequada, o metanol acaba permanecendo na bebida que chega ao mercado.

Isso é mais comum em produções caseiras ou em falsificações, quando a fabricação clandestina não segue as normas de segurança habituais e o metanol segue na mistura por acidente.

Também existe o risco de adulteração deliberada. Normalmente, esse perigo é visto como algo secundário, já que não costuma fazer sentido econômico adicionar metanol à mistura, mas até aqui essa hipótese ainda não foi descartada pelas investigações em andamento no Brasil.

A adição de metanol a uma bebida seria uma forma de elevar rapidamente seu teor alcoólico sem passar por todo o ciclo normal de produção. Também nesse caso, os destilados acabam entrando em foco, já que são as bebidas mais alcoólicas do mercado e aquelas para as quais isso poderia ser uma motivação.

O que fazer em caso de suspeita de intoxicação por metanol

Se você consumiu bebidas alcoólicas recentemente, especialmente os destilados, fique atento a sintomas que aparecem cerca de 12 a 24 horas após a ingestão do drink e parecem piorar com o tempo.

Além de um mal-estar mais intenso do que uma ressaca típica, sintomas característicos da intoxicação por metanol incluem visão turva ou até cegueira (que pode ser temporária ou permanente, a depender do nível de contaminação e da rapidez do tratamento).

Busque um serviço de saúde imediatamente para receber o diagnóstico e tratamento mais adequado de acordo com seu caso.