O decorador Edgar Moura Brasil, viúvo de Gilberto Braga (1945-2021), autor de “Vale Tudo”, diz que o remake da trama não teve nenhum respeito pela novela original. “Ao contrário, ela foi destruída.”
Na semana passada, ele fez um post nas redes sociais criticando o trabalho de Manuela Dias, autora da versão atual. Para Edgar, ela “não teve lastro nem intimidade intelectual para fazer um remake da monta de Gilberto Braga”.
Um dia depois, na quinta (2), o decorador conversou com a coluna por mensagens de WhatsApp. Disse que assistir, vez ou outra, os capítulos da trama da TV, mas acompanha mais os recortes pela internet. Afirma também ficar triste que a premissa original da novela, a reflexão se vale a pena ser honesto no Brasil, tenha se perdido na releitura.
Edgar afirmou também acreditar que Gilberto “não teria gostado nada do remake”. “Jamais teria construído personagens tão tacanhos e incoerentes.”
Para ele, a pior mudança feita por Manuela Dias foi na vilã Odete Roitman. Em sua visão, “uma personagem tão rica”, virou uma louca, inconsequente, atirando e tentando envenenar as pessoas, virando praticamente uma serial killer ninfomaníaca”.
O decorador viveu por 48 anos com Gilberto Braga. No início deste ano, ele se casou com o advogado Cristhian Vieira.
Edgar entrou com um processo contra a Globo solicitando o pagamento de R$ 290 mil referentes ao último salário de seu companheiro na emissora. Ele perdeu recurso em segunda instância contra a emissora. Questionado sobre a ação, o decorador disse que preferia não falar sobre o assunto.
O senhor tem acompanhado o remake?
De vez em quando, vejo um capitulo. Acompanho mais os recortes pelas redes sociais.
Qual é o seu sentimento em relação às mudanças feitas pela autora?
Fico triste em ver que a proposta original de “Vale Tudo”, [a reflexão]”vale a pena ser honesto no Brasil” se perdeu, junto com as qualidades de dramaturgia da novela, coerência nos personagens, profundidade nos diálogos etc. O tema proposto pelos autores Gilberto, Aguinaldo [Silva] e Leonor [Bassères] continua super atual, muita gente continua a pensar em tirar vantagem em tudo, basta ver os recentes escândalos do INSS, falsificação de bebidas e dai por diante…
O que o senhor acredita que Gilberto Braga acharia desse remake? Qual alteração o senhor acha que foi a pior feita?
Acho que Gilberto não teria gostado nada. Gilberto era um profundo conhecedor do ser humano, um homem culto e de bom gosto. Jamais teria construído personagens tão tacanhos e incoerentes. A pior alteração foi a Odete Roitman, personagem tão rica ter virado uma pessoa louca, inconsequente, atirando e tentando envenenar as pessoas, virando praticamente uma serial killer ninfomaníaca.
A adaptadora [Manuela Dias] se justifica dizendo que humanizou a personagem, mas acredito que ela não tenha nenhuma ideia do que seja uma humanização. A Odete Roitman criada por Gilberto, Aguinaldo e Leonor era humana o suficiente para dentro de sua maldade. Ela se preocupava com os filhos e com a família e jamais deixaria um filho morrer para esconder um crime do passado. Menos ainda colocaria um filho deficiente morando em uma choupana no meio do mato. Ela teria recursos suficientes para mandá-lo para a Suíça ou para qualquer outro lugar milionário, que o tratasse com dignidade, bem longe da família, se essa era sua intenção. Humanizar uma personagem não é emburrecê-la.
Avalia que a obra original “Vale Tudo” não foi respeitada no remake?
Não, não foi respeitada, ao contrário, foi destruída. Seria tão simples ter atualizado, colocado situações atuais. “Vale Tudo” original foi uma novela fantástica. Diálogos primorosos, personagens bem trabalhados, humanos e nada maniqueístas. O final de Maria de Fátima casando com o príncipe, amante rico do Cesar, retratando bem a imoralidade da nossa sociedade, a inútil tentativa de redenção de Maria de Fátima, o envolvimento apaixonado de Raquel e Ivan, a cura de Heleninha.
Tudo foi coerente, envolvente e mostrou que a nossa sociedade continua a mesma. A banana que o Marco Aurélio dá pro Brasil no final é a síntese da crença da impunidade que ainda assola o nosso país.
Acha que há algo de positivo no remake ou que se manteve da obra original?
Não consigo ver nada de positivo, a não ser provar que o nível das novelas atuais é infinitamente inferior às que foram produzidas nas décadas passadas. E isso não é nostalgia, é uma constatação.
O senhor disse que Manuela Dias ‘não teve lastro nem intimidade intelectual’ para fazer uma obra do tamanho de Gilberto Braga. O que faltou?
Pessoalmente acho que faltou talento, humildade perante à obra, elegância nos diálogos, refinamento na psicologia dos personagens e, principalmente, falta de conhecimento dos grandes clássicos da literatura, do cinema e também das novelas.
SOLIDARIEDADE
O ator Reynaldo Gianecchini e a apresentadora Chris Flores compareceram ao jantar de gala do Hospital do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), realizado na Sala São Paulo na quarta (1º). O evento teve como anfitriões o fundador, Jacinto Guidolin, e o vice-presidente da instituição e CEO da Cacau Show, Alê Costa, além do ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega. Os jornalistas Daiana Garbin e Carlos Tramontina também prestigiaram a noite
com DIEGO ALEJANDRO, KARINA MATIAS e VICTÓRIA CÓCOLO
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Fonte.:Folha de S.Paulo