O que a ciência chama de transição demográfica, ou seja, a mudança no perfil etário da população, ocorre no mundo todo de maneira implacável.
Em 2020, o número de pessoas com 60 anos ou mais superou o de crianças menores de 5 anos. A população geral está envelhecendo, e doenças antes mais raras se tornam cada vez mais comuns.
Um desses casos é o herpes-zóster. O risco dela aparecer aumenta muito após os 50 anos de idade, e suas complicações podem ser dolorosas e debilitantes.
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doença dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), uma em cada três pessoas do mundo desenvolverão herpes-zóster em algum momento da vida.
Mas há formas eficazes de prevenir a condição. E precisamos falar sobre isso.
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O que é o zóster
Nada mais do que a segunda ativação do vírus varicela-zóster, o causador da catapora.
Quando ele entra no corpo, como o sistema imunológico ainda não o conhece, ele consegue se multiplicar por todo o organismo, gerando bolhas no tronco, membros e face. É o que se chama de catapora.
Mas após o corpo vencer aquele ataque do vírus e a pessoa se curar da doença, o microorganismo não é totalmente eliminado. O que acontece é que ele se esconde em algum nervo do corpo e fica latente por lá.
A latência, ou seja, o fato de o patógeno não ir embora totalmente do organismo após a primeira infecção, é uma característica comum a todos os vírus da família herpes, incluindo os responsáveis pelo herpes simples, que afeta os lábios e os órgãos genitais.
Décadas depois, quando há uma baixa na imunidade, o zóster pode acordar e se multiplicar pelo caminho do nervo (ou dos nervos), num processo que, além das bolhas de forma mais localizada, provoca uma dor bem intensa e aguda devido à inflamação do nervo. É o que se chama de herpes-zóster.
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Complicações relacionadas a doença
Dor, coceira ou formigamento na área onde o vírus está são alguns dos sintomas iniciais comuns do zóster. É possível até que ocorra febre antes do aparecimento da erupção cutânea.
A dor do herpes-zóster é geralmente descrita como queimação, pontadas ou choques, dependendo do paciente.
De forma geral, quando há um acompanhamento médico e cuidado, as bolhas e as dores duram de 2 a 4 semanas. Depois da fase aguda, podem surgir complicações, sendo as duas mais comuns:
- Neuralgia pós-herpética – 5 a 30% dos pacientes com herpes-zóster podem sentir dor no nervo que persiste por três meses ou mais após um episódio de herpes-zóster. Essas crises de dor no local podem persistir pelo resto da vida.
- Herpes-zóster oftálmico – em cerca de 10 a 25% dos pacientes, o vírus se esconde no ramo oftálmico do nervo trigêmeo, podendo levar a complicações como inflamação da córnea, aumento da pressão intraocular e até a perda de visão.
“Mesmo que você conheça alguém próximo que já teve a doença, é muito difícil entender o que realmente é essa dor”, afirma o médico microbiologista Raunak Parikh, diretor sênior da farmacêutica GSK, em evento à imprensa em Wavre, na Bélgica.
“Ainda mais se essa dor se estender após a infecção. Porque você não a vê, provavelmente não vai parar no hospital, e geralmente não é algo fatal. Mas afeta e piora muito a qualidade de vida no longo prazo”, completa.
Além dessas complicações, cicatrizes permanentes, eventos cardiovasculares, AVC e até perda auditiva também podem ser consequências da reativação do zóster, a depender de onde o vírus se instalou.
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Como prevenir o herpes-zóster
A primeira forma de evitar esses males é vacinar as crianças contra a catapora, conforme prevê o Programa Nacional de Imunizações (PNI), que disponibiliza o imunizante pelo SUS desde 2013.
Mas, caso você tenha 25 anos ou mais, provavelmente não foi vacinado contra a primeira aparição do varicela-zóster. Por isso, estima-se que cerca de 94% dos adultos brasileiros possuam esse vírus adormecido no corpo.
Assim, melhor forma de lidar com a situação é impedindo que ele acorde. E isso se baseia em basicamente dois pilares.
A primeira é ter um estilo de vida saudável, pois o patógeno se aproveita das brechas nas defesas do corpo para dar o bote. Por isso, alimentação equilibrada, sono restaurador e manejo do estresse (para que não vire algo crônico) é essencial. Crises emocionais podem ocorrer com qualquer um, mas ter um corpo forte ajuda a evitar que o vírus se dissemine.
A segunda é a vacinação, altamente eficaz em prevenir a doença. Desde 2022, temos disponível no Brasil a vacina Shingrix, da GSK.
Ela não usa vírus vivo, mas uma tecnologia recombinante. Os cientistas pegaram só uma proteína do vírus e adicionaram uma substância que melhora nossa resposta imunológica, para que as defesas sejam ativadas.
Os estudos registraram eficácia de até 97% e proteção por mais de dez anos. E qualquer indivíduo imunossuprimido com mais de 18 anos pode tomar.
A Shingrix tem regime de duas doses e é indicada para todos a partir dos 50 anos. Custa cerca de R$1 800 as duas doses.
“Nossas pesquisas mostram que, entre as várias formas de aumentar a taxa de vacinação, a que funciona melhor é uma recomendação clara e forte do médico. Na receita médica, por escrito, com importância equivalente a de um medicamento prescrito. Isso faz as pessoas se interessarem mais, levarem a sério a recomendação”, afirma o médico Arnas Berzanskis, VP da GSK.
Possibilidade de a vacina ser incluída no SUS
Nesse contexto, uma das grandes barreiras é o acesso, já que nenhum dos imunizantes contra o zóster está disponível gratuitamente no sistema público de saúde.
Mas, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) abriu uma Consulta Pública para avaliar a inclusão da vacina contra o herpes zóster no Programa Nacional de Imunizações (PNI), para adultos acima de 80 anos e imunocomprometidos acima de 18 anos.
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Fonte.:Saúde Abril