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8 de outubro de 2025

Refém do Hamas relata horror em cativeiro: “Se achasse migalha, comia”

Refém do Hamas relata horror em cativeiro: “Se achasse migalha, comia”

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Nesta terça-feira (7), completaram-se dois anos do conflito na Faixa de Gaza, iniciado após os ataques de 7 de outubro de 2023. Entre as vítimas israelenses está a família do luso-israelense Eli Sharabi, um dos 251 reféns feitos pelo Hamas. Libertado após 491 dias em cativeiro, ele descobriu que a esposa e as duas filhas haviam sido mortas no ataque, uma tragédia que o levou a escrever um livro sobre sua experiência.

Eli Sharabi foi um dos 251 reféns feitos pelo Hamas em 7 de outubro de 2023. Após 491 dias em cativeiro, foi libertado em uma das trocas de reféns entre Israel e o grupo palestino e voltou para casa acreditando que reencontraria a mulher e as duas filhas. Sharabi não sabia que elas não haviam sobrevivido ao ataque.

Esta terça-feira marca o segundo ano do conflito na Faixa de Gaza, entre Israel e o Hamas, agravado pelos ataques de 7 de outubro, que causaram cerca de 1.200 mortes e desencadearam uma ofensiva militar israelense que já deixou mais de 67 mil mortos desde o início.

Entre as vítimas está a família de Sharabi, que, após ser libertado, decidiu escrever um livro contando o que viveu em cativeiro. Sharabi, que é luso-israelense, perdeu também o irmão, Yossi Sharabi, de 53 anos, uma das vítimas mortas pelo grupo.

Durante quase 500 dias, o israelense relata que apenas a esperança de rever a mulher, Lianne, e as duas filhas, de 16 e 13 anos, o fez suportar o cativeiro. “A crença de que elas estão vivas, a minha preocupação por elas, dá-me força”, recorda no livro “Hostage”, citado pelo New York Post.

Por isso, em fevereiro deste ano, quando soube que seria libertado, permitiu-se imaginar a vida novamente com sua família. As filhas correriam em sua direção quando se reunissem, ele as abraçaria e, depois, todos se mudariam para a Inglaterra, terra natal da esposa, longe do conflito que os separou.

Sharabi ainda não sabia da guerra nem que 101 dos seus vizinhos haviam morrido no ataque. Soube da morte do próprio irmão, também refém, momentos antes de ser libertado.

Ao New York Post, o israelense detalhou a cerimônia de libertação em Gaza, chamando-a de um “espetáculo de propaganda” do Hamas. Na época, Sharabi, com pouco mais de 43 quilos, foi levado a um palco e questionado sobre o que faria com a recém-adquirida liberdade. “Eu disse que estava muito entusiasmado por ver a minha mulher e filhas.”

“Foi a nossa última humilhação”, contou. “Mas eu imaginei que as minhas filhas e a Lianne, em breve, estariam a correr para os meus braços.”

Quando finalmente foi entregue às autoridades israelenses, a funcionária que o acompanhou disse que sua mãe e irmã o esperavam. Ao perguntar sobre a esposa e as filhas, ouviu apenas: “A tua mãe e irmã depois explicam-te.”

“Foi como se um martelo de cinco quilos me caísse sobre a cabeça”, disse, admitindo que entendeu, de imediato, que sua família estava morta.

Lianne, Noiya e Yahel foram baleadas após Sharabi ser capturado em 7 de outubro. Nem o cachorro da família, Mocha, sobreviveu ao ataque.

A força que o manteve vivo durante o cativeiro nunca mais estaria à sua espera, mas a promessa de Sharabi às filhas foi cumprida: ele voltou para casa.

Sharabi relatou que esteve acorrentado vinte e quatro horas por dia, com correntes de ferro nos tornozelos que rasgavam sua pele. Os pulsos estavam amarrados com cordas tão apertadas “que ficaram marcados”. Mas o mais difícil, fisicamente, foi a fome.

Sharabi disse que sobreviveu com um pita e meio por dia, esperando às vezes até 30 horas “para o próximo pita seco e água salgada para beber”. “Se encontrasse alguma migalha no chão, agarrava nela e comia-a. Suplicava por comida constantemente”, relatou, dizendo que sabia que os captores precisavam dele vivo.

Certa vez, ao encontrar uma lâmina, cortou a sobrancelha, garantindo que sangrava bastante, e fingiu desmaiar. A encenação lhe garantiu uma metade extra de pita na semana seguinte. “Foi um inferno”, disse, revelando que chegou a um ponto em que sentia que “podiam partir-me as mãos, os pés, as costelas, sem problemas, mas dêem-me mais comida”.

A fome não era o único problema. Ele contou que ouviu um dos captores ao telefone, aparentemente recebendo más notícias, e a frustração foi descarregada nele. “Ele virou-se contra mim, espancando-me até eu perder os sentidos. Murros, pontapés nas costelas…”, disse, lembrando que os outros reféns tentaram protegê-lo. “Eu encolhi-me aos gritos por causa da dor. Tentei rastejar para longe dele, mas tinha os pés ainda algemados.”

Durante o mês seguinte, Sharabi não conseguiu sentar-se ou ficar de pé. Além da violência física, relatou o terror psicológico constante, especialmente vindo dos guardas mais jovens e cruéis: “O tratamento deles era mais duro e mais degradante.”

“Eles tentavam fazer com que nós entrássemos em desespero, e acreditássemos que tínhamos sido verdadeiramente abandonados e que ninguém queria saber da nossa existência”, afirmou.

Um deles dizia frequentemente a Sharabi que tinha visto sua família em protestos na televisão: “Estão a lutar por ti. Tens filhas incríveis.”

Entre os guardas havia também os que os humilhavam por meio da religião, obrigando judeus a citar versos do Corão em troca de fatias de fruta.

E mesmo sabendo que o Hamas precisava dos reféns vivos, Sharabi vivia em medo constante de que um dia algum dos captores perdesse o controle e o matasse. “Estava no ar o tempo todo, todos os dias”, disse, descrevendo como os guardas apontavam as armas para os reféns, gesticulando que iriam “massacrá-los”.

Sharabi garantiu que sempre quis “viver em paz com os seus vizinhos”, referindo-se aos palestinos em Gaza, mas que agora perdeu essa esperança. “As pessoas que incendeiam, que violam… Vai demorar pelo menos duas gerações a educá-los para que amem e não odeiem”, afirmou.

O israelense contou que “não conheceu ninguém que não estivesse envolvido [no conflito] em Gaza, até mesmo os civis”. As próprias crianças, disse, atiraram sapatos nos reféns quando eles chegaram após o ataque de 7 de outubro. Sharabi disse que quase foi linchado por uma “multidão enraivecida que me queria desfazer em pedaços”.

O ataque de 7 de outubro de 2023, realizado pelo Hamas, fez mais de 200 reféns e 1.200 mortos. O grupo palestino governa a Faixa de Gaza desde 2006, quando foi eleito por uma população que há décadas vive em conflito com Israel. Desde a criação do Estado israelense, em 1948, após a Segunda Guerra Mundial e a perseguição aos judeus, diversos confrontos armados já deixaram milhares de mortos.

A guerra declarada por Israel em 7 de outubro de 2023, com o objetivo de “erradicar” o Hamas, provocou até agora pelo menos 67.173 mortes, incluindo mais de 20.000 crianças e 169.780 feridos, em sua maioria civis, segundo dados das autoridades locais considerados confiáveis pela ONU.

 

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Fonte. :. Noticias ao minuto

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