Pesquisa realizada pelo Instituto Semeia junto aos gestores de 21 parques naturais e 7 urbanos que mantêm contatos de concessão, concluiu que, apesar dos avanços significativos na qualificação da experiência do visitante promovidos, principalmente, pelas concessionárias, ainda é necessário um esforço mais consistente para garantir que essas unidades sejam, de fato, espaços acessíveis e integradores.
A conclusão do amplo estudo, de 69 páginas, é que é preciso ir além da prestação de serviços de qualidade: é essencial assegurar políticas de ingresso que considerem a diversidade socioeconômica da população brasileira, adotando estratégias que ampliem e estimulem o acesso aos parques.
Do total de gestores dos parques, apenas 53% se disseram satisfeitos com as ações empreendidas pela concessionária para o desenvolvimento local e 50% se disseram insatisfeitos com as ações de educação ambiental para visitantes. O lado bom a destacar às vésperas do Dia das Crianças é que 76% concordaram que os parceiros privados têm preocupação em oferecer atrativos para o público infantil.
Além disso, o estudo indica que o agente privado deve ser visto “como um verdadeiro parceiro na construção de identidade, pertencimento e valorização dos territórios”. E a atuação das concessionárias deve refletir um compromisso mais profundo com a inclusão, a equidade e o fortalecimento das relações com as comunidades locais, elementos fundamentais para que as parcerias sejam reconhecidas como instrumentos legítimos de interesse público.
A pesquisa encaminhou questionários online aos gestores dos contratos tanto da parte concedente como da concessionária, no período de dois meses entre 10 de abril e 14 de junho de 2024.
Segundo Renata Mendes, diretora executiva do Semeia, que acompanha de perto os parques concedidos, um dado que chama a atenção é que “para 83% dos respondentes do poder concedente, a concessão não aumentou o tempo disponível para a gestão e para lidar com outros problemas das unidades, o que faz com que os problemas vão se empilhando”.
Também Bárbara Mattos, gerente de estruturação e gestão de parcerias do instituto, aponta que a burocracia, em última análise, é um dos maiores empecilhos para a condução das parcerias. “Nos primeiros anos de contrato, que é onde a maioria das concessões está operando, são os anos de maiores investimentos, mas a gente escuta dos concessionários que o desafio mesmo é na velocidade e na possibilidade de aprovar o que já está previsto nos contratos”.
Um dos pontos positivos destacados pelas duas especialistas foi o fato, de que, embora sejam recorrentes críticas de que as concessões chegam e não falam com o entorno das unidades, 73% dos gestores viram como positiva justamente essa interação. “A gente ouve muito que a concessão vai elitizar o espaço, que não vai conversar com quem é tradicionalmente daquela região, e aparece esse resultado”, diz Bárbara.
Outro elemento que denota dificuldade das concessões para obterem resultado é, segundo a análise, a falta de qualificação de profissionais e ferramentas do poder público no gerenciamento dos contratos. “O problema não está no parque em si, mas em quem gere o contrato, porque não é simplesmente ‘toma que o parque não é mais responsabilidade do poder procedente’, pelo contrário, as obrigações se transformam, mas não deixam de existir”, argumenta Renata, ressaltando que o fato de a pesquisa não dar nomes aos entrevistados ajudou a criar um ambiente confortável para que os gestores falassem de seus problemas de modo mais objetivo.
“A gente tinha o desafio de conversar sobre casos específicos, e aí ou o concessionário não quer falar, ou o poder público não quer falar”, explica a executiva. “A gente apontou que queria ouvir o desafio que fazia sentido a cada um, o que está faltando, o que pode ser melhor, e falar de uma forma menos sensível, quebrando um pouco barreiras, porque é um assunto espinhoso”.
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Fonte.:Folha de S.Paulo