Quem acompanha o que escrevo desde a implementação do VAR (árbitro assistente de vídeo), há quase dez anos, sabe da minha enorme relutância em aceitá-lo.
Tamanho o desgosto, pensei até em deixar de ver futebol devido à irritante presença do “senhor da razão”, porém a paixão pelo esporte falou mais alto.
Por que a resistência? Há alguns fatores. O pior deles é a quebra do ritmo da partida. Um dos grandes atrativos do futebol era o dinamismo, as não interrupções por pedidos de tempo.
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Atualmente, já se param jogos quando a temperatura está alta, para hidratação dos jogadores. Vá lá, é questão de saúde, mas já são dois ou três minutos de espera.
Com o VAR, as paralisações se estendem, não raro, por quatro, cinco ou mais minutos. Várias vezes em um jogo. É maçante esperar uma definição sobre o pênalti marcado que não teria sido ou o não marcado que teria sido.
Passam-se vídeos do lance infindáveis vezes e, a depender do ângulo, a conclusão poderá ser diferente! E, a depender da opinião do árbitro de campo, que pode ser distinta da do VAR (geralmente não é), a conclusão poderá ser diferente! Não há nexo nisso.
Em relação ao impedimento, então… Não sei por que não eliminam a figura do bandeirinha, o auxiliar do árbitro que corre pela lateral do gramado com a função primordial de assinalar essa irregularidade.
Tão xingado outrora pelas arquibancadas, vivia no desconforto. Hoje, a profissão mais confortável do mundo é a de bandeirinha.
Ele (ou ela) está lá para fazer isso, mas não ergue a bandeira mesmo naquele lance em que é nítido que o atacante está metros à frente do penúltimo defensor. A jogada segue até ser finalizada. Só então é anulada.
Caso tenha dúvida, em lances de fato difíceis, o que fazer? Nada. O VAR, da cabine de checagem, dará o veredicto. Que –e aí escancara-se outro fator condenatório ao árbitro assistente que apita sentado– nem sempre é correto.
Há campeonatos (o Brasileiro incluído) em que a checagem do impedimento é manual, com o traçar de linhas, para saber se “a pontinha da chuteira” dava ou não condição de jogo. Impossível acreditar na decisão, qual seja ela.
Já se implantou em muitos lugares a verificação “semiautomática”. Evolução? Na teoria, sim. Na prática, Pilatos: transfere-se a responsabilidade (para a máquina).
Mas a questão é outra. O objetivo da criação do VAR, corrigir “erros claros e óbvios”, esvaiu-se há muito tempo. Ele seria bom, sim, se sua interferência fosse mínima, apontando aquele impedimento escandaloso não visto. Rápido e eficaz.
Aliás, também acontece o contrário. Quando deve interferir, para que o árbitro de campo marque o óbvio, o VAR silencia. Aconteceu em São Paulo x Palmeiras, no domingo (5), com pênalti claríssimo de Allan em Tapia que passou incólume. Não foi intencional? Não. Mas a regra (da qual discordo) não fala de intenção.
Toda essa explanação para dizer que há a intenção, discutida internamente pelo Ifab (órgão controlador das regras do futebol), de ampliar o poder do VAR. Para que interfira em jogadas de cartão amarelo… e até em marcações de escanteios!
É bem capaz de vigorar, e fico transtornado, pois o futebol de que aprendi a gostar, mesmo que imperfeito, acabou. Capitulo. O famigerado VAR venceu.
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Fonte.:Folha de S.Paulo