
Crédito, Reuters
- Author, Olga Robinson e Matt Murphy
- Role, BBC Verify
- Author, Yaroslava Kiryukhina
- Role, Serviço russo da BBC
A Ucrânia aumentou drasticamente o número de ataques lançados contra refinarias de petróleo russas nos últimos meses, o que tem provocado escassez de combustível e aumento de preços em algumas partes do país, como mostra uma investigação conduzida pela BBC Verify e pelo serviço russo da BBC.
Os ataques de drones contra as refinarias, algumas delas localizadas no interior da Rússia, aumentaram em agosto e permaneceram altos em setembro, segundo análise de reportagens dos meios de comunicação russo e imagens verificadas.
Ao menos 21 das 38 principais refinarias do país — onde o petróleo bruto é transformado em combustível utilizável, como gasolina e diesel — foram atacadas desde janeiro, com um aumento de 48% nos ataques bem-sucedidos em comparação com todo o ano de 2024.
Os cidadãos russos parecem estar sentindo o impacto dos ataques, já que vídeos verificados mostram longas filas em postos de gasolina. Alguns postos suspenderam as operações para “esperar a crise passar”, em vez de operar com prejuízo, disse um gerente à mídia russa.
O serviço de segurança da Ucrânia, o SBU, não respondeu a um pedido de comentários da BBC.
Mas o presidente Volodomyr Zelensky já havia dito que prejudicar a indústria petrolífera da Rússia era uma forma de forçá-los a se sentar à mesa de negociações.
“As sanções mais eficazes, as que funcionam mais rápido, são os incêndios nas refinarias de petróleo, nos terminais e nos depósitos de petróleo da Rússia”, disse o líder ucraniano em um discurso feito em setembro.
“Restringimos significativamente a indústria petrolífera da Rússia, o que limita consideravelmente a guerra.”
Nossa análise mostra que os ataques atingiram um nível recorde em agosto, com 14 refinarias atacadas por drones ucranianos, e 8 em setembro.
O aumento ocorreu após uma breve pausa que coincidiu com intensa atividade diplomática, durante a qual o presidente Donald Trump tentou negociar um acordo de cessar-fogo entre Kiev e Moscou.
Alguns dos ataques tiveram como alvo instalações localizadas no interior da Rússia.
No fim de setembro, o SBU atacou por duas vezes, com sucesso, a refinaria de petróleo Gazprom Neftekhim Salavat, na região de Bashkortostão.
Imagens de satélite mostram colunas de fumaças saindo da instalação — situada a mais de 1,1 mil km da fronteira com a Ucrânia — após o ataque.

Os alvos
Kiev também atacou algumas das instalações mais lucrativas da Rússia. Uma refinaria próxima de Volgogrado foi alvo de ataques em seis ocasiões este ano, e um deles, realizado em agosto, a obrigou a interromper as operações por um mês.
A grande usina de Riazán, perto de Moscou, com uma capacidade de produção de 340 mil barris por dia, foi atacada cinco vezes desde janeiro.
Os ataques ucranianos parecem ter dois alvos: as grandes refinarias essenciais para o abastecimento civil e aquelas mais próximas da fronteira, usadas para abastecer as tropas que lutam na Ucrânia, segundo declarou à BBC Verify Vladimir Milov, ex-vice-ministro de Energia de Vladimir Putin e atualmente político opositor no exílio.
O Estado-Maior da Ucrânia afirmou anteriormente que as refinarias de Samara e Saratov têm sido utilizadas como parte das operações logísticas militares. Ambas as regiões foram alvo de ataques com drones nas últimas semanas, e duas das três usinas da região de Samara ficaram fora de serviço.

Justin Crump, ex-oficial do exército britânico e diretor executivo da consultoria de riscos Sibylline, disse à BBC Verify que a Ucrânia já vinha atacando há bastante tempo as indústrias petrolíferas e de gás da Rússia.
Contudo, ele destacou que a onda de ataques mostrou que os serviços militares e de segurança haviam decidido adotar essa tática como sua “campanha principal”.
“É evidente que essa campanha recebeu um investimento significativo e se baseia em uma avaliação de inteligência sobre o que pode causar mais dano à Rússia”, afirmou Crump.
É difícil avaliar até que ponto os ataques estão afetando a produção de gasolina e diesel, já que a Rússia classificou as estatísticas sobre a produção de gasolina como secretas em maio de 2024, em meio a uma série de ataques anteriores contra refinarias.
No entanto, a análise da BBC Verify revelou que pelo menos 10 refinarias de petróleo se viram obrigadas a suspender total ou parcialmente suas operações desde agosto.
Além disso, a agência de notícias Reuters informou que, em determinados dias, a produção nacional caiu em até um quinto.

Crédito, Telegram
Impactos para os cidadãos
Há algumas evidências de que os ataques contra refinarias estão tendo um impacto na vida dos cidadãos em algumas partes da Rússia.
Vídeos verificados pela BBC Verify mostraram longas filas em postos de combustível no Extremo Oriente russo e em uma rodovia entre São Petersburgo e Moscou, enquanto autoridades designadas pelo Kremlin implementaram o racionamento de gasolina na Crimeia ocupada.
Proprietários de pequenos postos de gasolina independentes na Sibéria relataram à mídia russa que tiveram que fechar devido a problemas contínuos no fornecimento de combustível.
Um gerente da região de Novosibirsk comparou a situação à hiperinflação que a Rússia experimentou em sua era pós-soviética.
“Na minha opinião, não tivemos uma crise como esta desde 1993-1994”, disse ele ao veículo local Preecedent TV.
“Muitos postos de combustível já suspenderam suas operações. Talvez seja melhor esperar a crise passar do que operar com prejuízo.”
Embora aumentos nos preços tradicionalmente ocorram na Rússia devido às viagens de verão e à manutenção de refinarias, os ataques com drones estão agravando o problema.
Os preços da gasolina no varejo dispararam, enquanto os preços no atacado — o preço pelo qual os varejistas compra dos produtores — subiram ainda mais rápido, aumentando 40% desde janeiro.
A mídia nacional, fortemente controlada, insinuou que os ataques de drones são um fator-chave na escassez, e o jornal econômico Kommersant atribuiu o déficit a “fechamentos imprevistos de refinarias”.
Mas os civis na Rússia — incluindo as regiões de Moscou e Krasnodar —parecem, em grande parte, não ter sido afetados.
Alguns dos que conversaram com a BBC disseram não ter conhecimento da escassez em outras partes do país.
As autoridades russas insistem que a situação segue sob controle.
Em uma coletiva de imprensa esta semana, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que “o governo está tomando as medidas necessárias” para lidar com a escassez.
Contudo, o vice-primeiro-ministro, Alexander Novak, anunciou na semana passada que uma proibição parcial das exportações de gasolina foi estendida até o final de 2025.
Milov observa que a suspensão das exportações é relativamente pequena e “não salvará o mercado interno”.
Também não está claro até que ponto os ataques afetam a capacidade de Moscou de usar as receitas do petróleo para financiar sua gerra na Ucrânia.
A grande maioria das exportações de petróleo da Rússia é de petróleo bruto não refinado, que não parece ter sido afetado pelos ataques.
Uma análise da Bloomberg no fim de setembro mostrou que as exportações de petróleo bruto, embora menos lucrativas do que a de gasolina e diesel, haviam alcançado um recorde histórico.
Crump observou que o impacto dos ataques poderia ser reforçado se o Ocidente adotasse “medidas adicionais” como sanções às exportações de petróleo, mas enfatizou que os ataques já estavam minando a capacidade de Moscou de sustentar sua guerra.
Informacão adicional de Christine Jeavans.
Fonte.:BBC NEWS BRASIL