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18 de outubro de 2025

O Brasil que sabe educar com escolas que reinventam o futuro – 10/10/2025 – Papo de Responsa

O Brasil que sabe educar com escolas que reinventam o futuro – 10/10/2025 – Papo de Responsa

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Entre os dias 25 a 27 de setembro, mais de 450 educadores de diferentes áreas, incluindo professores da universidade e da educação básica, gestores públicos e educadores comunitários, reuniram-se em Bananeiras, no brejo paraibano, para refletir sobre como sonhos constroem realidades.

Foi a 6ª Conferência Nacional de Alternativas para Outra Educação, a Conane, um encontro bienal financiado pelos próprios participantes, que normalmente acontece na Universidade de Brasília.

Desta vez, porém, a escolha foi Bananeiras: ali nasceu a Escola dos Sonhos, instituição comunitária que reinventou o cotidiano escolar. Em vez de salas, horários rígidos e disciplinas fragmentadas, há espaços abertos e circulares, onde estudantes organizam suas trajetórias a partir de trilhas de estudos, projetos realizados dentro e fora da escola, comissões que se responsabilizam pela gestão escolar e assembleias, sempre com apoio e orientação dos educadores.

A Escola dos Sonhos não está sozinha. As Conanes são justamente espaços de encontro entre experiências transformadoras espalhadas pelo país. No evento, circularam histórias inspiradoras: o Movimento Prece, no Ceará, que há três décadas organiza escolas e núcleos de trabalho totalmente liderados por estudantes e agora constrói a Cidade do Prece; a Peads (Pedagogia de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável), que fortalece redes públicas na Zona da Mata pernambucana; a Pisada do Sertão, na Paraíba, cujo currículo nasce dos saberes do território; o Cieja (Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos) Perus, em São Paulo, referência em educação de jovens e adultos integrada à comunidade; a especialização em Alternativas para uma Nova Educação, da Universidade Federal do Paraná, entre muitas outras.

Essas iniciativas, algumas consolidadas há décadas, outras em fase inicial, mostram que a mudança é possível. E funciona. Estudantes gostam de frequentar a escola, aprendem muito, se envolvem com o bem comum e lideram transformações em seus territórios. Educadores sentem-se estimulados, valorizados e realizados —um contraste marcante com as estatísticas de adoecimento e desvalorização docente.

Resta a pergunta: como tornar tudo isso acessível a qualquer professor, estudante e família que deseje? A resposta está na política pública.

Iniciativas comunitárias, como a Escola dos Sonhos, o Prece ou a Pisada do Sertão, precisam ser reconhecidas e financiadas como o que de fato são: educação pública de qualidade. Hoje, os recursos destinados a elas são residuais, geralmente oriundos da assistência social ou de projetos incentivados, reflexo de uma compreensão restrita do que é público, reduzido apenas ao que é estatal.

Já as experiências inovadoras das redes públicas —como o Cieja Perus, as escolas estaduais geridas em parceria com suas comunidades e os institutos federais presentes na conferência— dependem de políticas que garantam a autonomia escolar, prevista em lei desde a redemocratização, mas ainda pouco efetivada.

Ao contrário, cresce a imposição de currículos padronizados, avaliações externas e plataformas que expropriam a autoria docente, sufocam projetos pedagógicos das escolas e reduzem a experiência estudantil a atividades sem sentido, incapazes de engajar.

A Conane mostrou que o Brasil sabe fazer educação que dá certo. O desafio é político: transformar essas ilhas de inovação em política de estado, tornando regra o que hoje é exceção.


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Fonte.:Folha de S.Paulo

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