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12 de outubro de 2025

Câncer de mama: uma corrida contra o relógio

Câncer de mama: uma corrida contra o relógio

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Quando sentiu um pequeno nódulo na mama esquerda, em 2008, Márcia Cristina Fernandes tinha apenas 26 anos. “Estava me formando na faculdade e, de repente, minha vida virou de cabeça para baixo. É como se o chão se abrisse. Eu só pensava em morte”, lembra.

Na época, Márcia tinha plano de saúde da empresa onde trabalhava e conseguiu uma resposta rápida: exames, biópsia, diagnóstico e cirurgia em menos de um mês. “Em 30 dias já estava operada e iniciando quimioterapia”, conta. Foram cinco anos de tratamento intenso, oito sessões de quimio, radioterapia e uma quadrantectomia.

A aparente vitória durou até 2016. Aos 34 anos, já mãe de uma menina de 1 ano, Márcia recebeu a notícia de que o câncer havia voltado, agora em estágio metastático. 

Começou, então, uma maratona que ela jamais imaginou enfrentar. “Foram seis meses de luta enquanto a doença avançava. Cada dia de espera era um risco a mais. Eu tinha uma filha pequena e sentia que cada atraso diminuía minhas chances de vê-la crescer.”

A resposta só chegou em março de 2017, “eu já tinha metástases na pleura, nos ossos e na cabeça. O tempo perdido diminuiu minhas chances de controle da doença”, relata. Mesmo após a liberação, a rotina seguiu desgastante. 

“Durante anos eu precisava buscar a medicação a cada 21 dias e levar até o hospital. Houve vezes em que o remédio não estava disponível. A sensação é de impotência — você sabe que a doença não espera.” Hoje, aos 43 anos, Márcia está aposentada por invalidez. 

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“Minha filha tinha 1 ano quando tudo recomeçou. Hoje, com 11, ela me pergunta por que é tão difícil conseguir um cuidado adequado que pode salvar vidas. Não sei como explicar para uma criança que a burocracia impacta o tempo — e tempo, para nós, é vida.”

Uma realidade que se repete

A história de Márcia é dramática, mas está longe de ser um caso isolado. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), em 2025 o Brasil deverá registrar 74 000 novos casos de câncer de mama.¹ Cerca de 30% desses evoluirão para a forma metastática, e 38% das pacientes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) já recebem o diagnóstico em estágio avançado.² Em outras palavras, milhares de brasileiras dependem de acesso rápido e contínuo para manter a qualidade de vida e ganhar mais tempo de controle da doença.

A Lei dos 30 Dias (Lei nº 13.896/2019) determina que exames confirmatórios, como a biópsia, sejam realizados em até um mês após a solicitação médica. Mas o monitoramento do Instituto Oncoguia³ em 2024 mostrou que 39% dos procedimentos de biópsia de mama no SUS ocorreram fora desse prazo.³ A Lei dos 60 Dias, que garante o início do tratamento em até dois meses após o diagnóstico, também é frequentemente descumprida, de acordo com o Inca.⁴

O câncer de mama no Brasil 

Para a mastologista Maira Caleffi, presidente voluntária da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), a trajetória de Márcia reflete a realidade.

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“As mulheres chegam tarde ao diagnóstico, não conseguem iniciar os cuidados no prazo e, mesmo depois, muitas vezes não têm acesso ao que já foi aprovado. A própria Márcia traduz em palavras o impacto dessa espera: ‘É desesperador saber que a medicina avança, mas que não conseguimos acessá-la no tempo certo.’”

Segundo Maira, a desigualdade entre o público e o privado é gritante. “Enquanto pacientes de planos de saúde começam o tratamento em poucos dias e têm taxas de cura que chegam a 80% ou 90%, as mulheres que dependem do sistema público enfrentam atrasos. “Estamos falando do câncer que mais mata mulheres no Brasil, muitas vezes atingindo jovens com filhos pequenos e sonhos por realizar.”

Caminhos para acelerar a corrida contra o tempo

Nos últimos anos, o Ministério da Saúde do Brasil tem avançado quando o assunto é a saúde da mulher, buscando ampliar os cuidados especializados e fomentar a prevenção e integração de políticas públicas mais inclusivas para maior agilidade e equidade no acesso à saúde. Nesse sentido, iniciativas como o Programa Agora Tem Especialistas visam reduzir o tempo de espera por atendimentos no SUS, incluindo o atendimento oncológico. Da mesma forma, o Ministério da Saúde recentemente anunciou importantes medidas a serem implementadas em outubro, incluindo ampliação da faixa etária para rastreamento mamográfico e medidas de efetiva disponibilização dos tratamentos previstos no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do câncer de mama.5

“Quando o acesso não chega, ele não reflete apenas um número na planilha, mas, sim, uma mãe que pode não ver o filho crescer.” Para Maira, a mensagem é clara: “Sim, precisamos reconhecer os avanços na saúde pública, mas também corrigir a rota. Caso contrário, continuaremos discutindo novos protocolos enquanto milhares de brasileiras anseiam por cuidados”.

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M-BR-00022164 Outubro 2025 – Este material se destina ao público leigo em geral.

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Referências

  1. Inca – Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2023: Incidência de Câncer no Brasil.
  2. Ministério da Saúde. Painel de Monitoramento da Linha de Cuidado do Câncer de Mama no SUS, 2023.
  3. Oncoguia – Brasil descumpre Lei dos 30 dias e faz biópsia de câncer de mama fora do prazo. Disponível em: https://www.oncoguia.org.br/conteudo/brasil-descumpre-lei-dos-30-dias-e-faz-biopsia-de-cancer-de-mama-fora-do-prazo/17444/7/ . Acessado em: 23/9/2025.
  4. Inca – Instituto Nacional do Câncer. Tempo para início do tratamento. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/controle-do-cancer-de-mama/dados-e-numeros/tempo-para-o-tratamento . Acessado em: 23/9/2025.
  5. Ministério da Saúde. Ministério da Saúde garante acesso a mamografia a partir dos 40 anos. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2025/setembro/ministerio-da-saude-garante-acesso-a-mamografia-a-partir-dos-40-anos



Fonte.:Saúde Abril

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