Os avanços médicos das últimas décadas representaram uma revolução para pessoas convivendo com o HIV, uma infecção que deixou de ser uma sentença de morte após o traumático início da epidemia nos anos 1980 e 1990.
Mas, mesmo com a evolução das terapias para garantir a qualidade de vida e a longevidade de pacientes soropositivos, ainda é difícil projetar uma cura definitiva para o vírus que, sem tratamento, é capaz de levar à aids. Nos últimos anos, notícias sobre a remissão do HIV devolveram as esperanças de que essa nova realidade pode estar no nosso futuro próximo.
Entenda melhor o que esse termo significa e como a remissão tem sido atingida ao redor do mundo.
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O que é a remissão do HIV? Ela representa uma cura?
Casos de remissão do HIV conhecidos atualmente se referem a pacientes que têm conseguido manter o vírus indetectável no organismo por vários anos, mesmo sem a administração dos medicamentos antirretrovirais usados no controle da infecção.
Essa situação ainda é muito rara: no ano passado, a 25ª Conferência Internacional sobre Aids, na Alemanha, reconheceu o que então era apenas o sétimo caso confirmado no mundo que correspondia a essas características, um homem alemão de 60 anos que desde 2018 não tem o vírus detectado em nenhum exame, sejam testes de sangue, com técnica viral ultrassensível ou biópsia de tecidos intestinais.
Casos de remissão do HIV têm sido tratados como equivalentes a uma “cura”, inclusive em publicações da área. Alguns especialistas questionam o uso do termo, que pode ser contraintuitivo e gerar confusões: em contextos de câncer, por exemplo, a remissão não é tratada como sinônimo imediato de cura, e sim como um período em que o tumor permanece indetectável ou sem crescer após o começo dos tratamentos.
Como atingir a remissão do HIV?
Como visto acima, a remissão do HIV ainda é uma realidade muito rara no mundo. Um dos desafios é justamente o receio de suspender o tratamento com antirretrovirais, mesmo em pacientes que poderiam ser candidatos à remissão: como esse processo ainda é alvo de estudos iniciais, há um temor de que o risco de interromper a medicação não seja compensado pelos eventuais benefícios.
As situações em que foi possível atingir a remissão do HIV envolveram pacientes que receberam transplantes de medula óssea. Até pouco tempo atrás, havia um limitador: a “cura” era possível quando as células-tronco vinham de doadores com uma mutação no gene CCR5 herdada dos dois progenitores, capaz de barrar o vírus em nível celular e impedir a proliferação do HIV no corpo.
Pessoas com essa mutação, estimada em 1% da população mundial, são “imunes” ao HIV. Mas o transplante de medula óssea nessas características é raríssimo: é preciso encontrar alguém que seja simultaneamente compatível com o paciente com HIV e que apresente as alterações no CCR5, uma combinação pouco comum.
A esperança aumentou nos últimos dois anos, quando pela primeira vez foram reportados episódios em que os doadores não correspondiam a essas características. O paciente alemão cujo caso foi publicado no ano passado recebeu o transplante de uma pessoa com apenas uma cópia no gene; em 2023, outro caso de remissão, na Suíça, ocorreu após o paciente com HIV receber células-tronco sem qualquer mutação no CCR5.
Mais estudos são necessários para entender por que algumas pessoas evoluem para a remissão mesmo sem a manifestação da mutação no CCR5.
Recentemente, em um estudo pioneiro brasileiro, um paciente ficou sem sinais do vírus em circulação por 17 meses.
Qual a diferença entre HIV e aids
O HIV é o vírus da imunodeficiência humana, patógeno sexualmente transmissível que pode infectar o organismo e atacar o sistema imunológico de uma pessoa. O HIV também pode passar de pessoa para pessoa por meio de fluídos e secreções infectados pelo vírus, como em transfusões de sangue ou no contato com ferimentos abertos.
A aids, por sua vez, é a manifestação mais avançada de uma infecção por HIV. O nome se refere à sigla em inglês para síndrome da imunodeficiência adquirida, motivo que faz a doença também ser conhecida, por vezes, como SIDA.
HIV e aids foram tratados praticamente como sinônimos nos primeiros anos da epidemia, mas, com a evolução dos tratamentos, a distinção se tornou fundamental, já que uma infecção controlada por HIV não evolui para a aids. Para frear essa progressão, não é necessário alcançar a remissão: deve-se aderir ao uso dos medicamentos indicados para o seu caso.
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Fonte.:Saúde Abril