O discurso do “quanto mais natural, melhor” ganhou força nas redes sociais — e chegou até ao leite cru. Em vídeos e grupos, ele aparece como um alimento “vivo”, “mais nutritivo” e “sem industrialização”.
Mas por trás da aparência de pureza há um perigo silencioso: o leite cru pode transmitir doenças graves, e sua venda direta ao consumidor é proibida no Brasil desde 1969.
E por que o leite cru é perigoso?
O leite cru é aquele que sai direto da vaca, sem passar por aquecimento. Parece inofensivo, mas pode carregar bactérias como Brucella, Listeria, Salmonella e E. coli — capazes de causar infecções sérias, com febre, dor muscular, abortos e até sequelas permanentes.
No Brasil, um dos principais riscos é a brucelose, doença transmitida justamente pelo consumo de leite não pasteurizado. Por isso, o Ministério da Agricultura proíbe sua venda há mais de 50 anos.
Por outro lado, a pasteurização e o processo UHT tornam o alimento seguro para o consumo. Na pasteurização, o leite é aquecido rapidamente (cerca de 72 °C) e resfriado logo em seguida, eliminando micro-organismos patogênicos e mantendo os nutrientes.
Já o UHT (Ultra High Temperature), usado nos leites de caixinha, aquece a temperaturas mais altas por poucos segundos e prolonga a validade por meses, sem conservantes.
O resultado? Um leite seguro, nutritivo e acessível, que chega à mesa das pessoas com o mesmo valor nutricional do leite fresco.
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Leite é inflamatório?
Ainda há vários outros mitos que circulam por aí. Um dos mais populares é o de que “leite inflama”. Mas estudos recentes mostram que, em pessoas saudáveis, o consumo de leite e derivados não aumenta marcadores inflamatórios.
Pelo contrário: há pesquisas que associam o consumo regular de laticínios a menor risco de doenças cardiovasculares e melhor composição corporal.
Outro equívoco comum é achar que quem tem desconforto com leite precisa cortá-lo completamente.
Na verdade, é importante distinguir:
• Intolerância à lactose: dificuldade em digerir o açúcar natural do leite, a lactose. Nesses casos, há opções sem lactose que mantêm o mesmo valor nutricional. Ou pode-se ingerir a enzima lactase, junto ao consumo.
• Alergia à proteína do leite: reação imunológica às proteínas do leite, que exige exclusão total — mas é rara em adultos.
Leite A2 é melhor?
Se você ouviu falar do leite A2, vale entender: ele vem de vacas que produzem uma forma diferente da proteína beta-caseína, o que pode facilitar a digestão em algumas pessoas sensíveis. Mas o leite A2 tem lactose, portanto não é indicado para intolerantes.
O leite continua sendo um dos alimentos mais completos da dieta: fonte de proteínas de alta qualidade, cálcio, fósforo, potássio e vitaminas do complexo B.
É essencial em fases como crescimento, gestação, menopausa e envelhecimento, e também importante para quem busca manter massa muscular e saúde óssea.
Infelizmente, pesquisas mostram que o consumo de leite e derivados vem caindo no Brasil em algumas populações, contribuindo para o aumento da deficiência de cálcio na população.
Reincluir o leite — seja pasteurizado ou UHT — é uma forma simples e eficaz de cuidar da saúde dos ossos, dos músculos e do metabolismo.
Em resumo, não é o leite cru que traz mais saúde, e sim o leite seguro e bem cuidado. A ciência da pasteurização é um exemplo de como o conhecimento protege sem tirar o valor do alimento.
Entre o mito e a evidência, fique com o que a ciência confirma: leite é alimento, é segurança e é nutrição.
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Fonte.:Saúde Abril