RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A cidade do Rio de Janeiro vive uma escalada inédita de furtos e roubos de celulares. De janeiro a agosto deste ano, 36.158 aparelhos foram levados das mãos dos cariocas -o maior número desde o início da série histórica, em 2003.
Os dados são do ISP (Instituto de Segurança Pública, do governo estadual) e revelam que, em média, 148 pessoas por dia têm o celular levado na capital fluminense, o que equivale a um caso a cada dez minutos.
Em meio à rotina de quem trabalha ou circula pelo centro da cidade, a sensação de insegurança é constante. “A gente sai de casa já com medo. Eu só tiro o celular da bolsa quando chego no trabalho”, conta Mariana Rocha, 29, funcionária de um escritório na avenida Rio Branco. “Outro dia, vi um rapaz sendo assaltado na esquina, o homem ainda mandou ele desbloquear o aparelho antes de fugir.”
Os roubos, quando há uso de violência ou grave ameaça, somaram 11.936 registros no período, mais que o dobro dos 4.864 casos contabilizados há dez anos. Já os furtos, que ocorrem sem uso de força, chegaram a 24.222 ocorrências, mais que o triplo dos 7.647 casos de 2015.
A região do centro e da Lapa lidera o ranking de casos, com 2.984 registros nos primeiros oito meses do ano, seguida por Catete, Flamengo e Glória (2.494), na zona sul, e pela Barra da Tijuca, Joá e Itanhangá (1.990), na zona oeste da cidade.
Entre os relatos mais comuns, estão os de criminosos que atuam em dupla em motocicletas, abordando pedestres para tomar o aparelho e exigir o desbloqueio, e também os de falsos entregadores de aplicativo, que surpreendem as vítimas na porta de casa.
“Já vi três assaltos em um mês só aqui perto”, diz Lucas Faria, 34, que trabalha como vendedor ambulante na Cinelândia. “O pessoal já se acostumou a esconder o telefone, mas parece que os ladrões estão cada vez mais ousados.”
De acordo com o ISP, o furto de celulares cresceu 40% e o roubo aumentou 20% em agosto, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Foram 3.915 furtos e 2.168 roubos em 2025, contra 2.797 e 1.808 em 2024.
A Polícia Militar afirmou que mantém “atuação permanente” no enfrentamento desse tipo de crime, com patrulhamento ostensivo, uso de tecnologia e operações conjuntas com outras forças de segurança. Segundo a corporação, o planejamento do policiamento é feito com base nos registros de ocorrência e na troca de informações entre os batalhões.
A PM acrescentou que muitos dos envolvidos vivem em situação de vulnerabilidade social e têm alto índice de reincidência, incluindo adolescentes detidos repetidas vezes pelo mesmo tipo de delito.
A Polícia Civil disse que, desde maio, realiza a “Operação Rastreio”, voltada ao combate de toda a cadeia criminosa ligada ao roubo e à receptação de celulares. A ação já resultou em mais de 5.700 aparelhos recuperados, 390 prisões e 1.500 devoluções aos donos.
A corporação disse ainda atuar em conjunto com a PM e orienta as vítimas a registrarem ocorrência e informarem o número do IMEI, código que permite rastrear os aparelhos em caso de recuperação.
Segundo o coordenador de pesquisa da Rede de Observatórios da Segurança, Jonas Pacheco, o aumento de roubos e furtos dos aparelhos pode estar ligado à maior circulação de smartphones a partir de 2010 e, mais recentemente, após o início da pandemia, às funções de pagamento e serviços financeiros agregadas aos aparelhos.
“Já se sabe que são muito usados na aplicação de golpes digitais, seja de Pix, seja por estelionatos em ambiente virtual”, diz o especialista.
“A pandemia forçou o mercado criminoso a desenvolver novas estratégias de aplicação de golpes, porque a circulação estava restrita. Os crimes contra o patrimônio de roubo e furto despencaram. Mas temos visto, no Rio, esse aumento dos golpes digitais, isso aparece nos registros de estelionato.”
Por outro lado, as organizações também podem estar se sofisticando, assim como fazem com roubos de veículos e de carga, para estruturarem um mercado de receptação para celulares.
Sobre as variações nos registros, Pacheco diz que o roubo de celular, por estar na categoria de roubo de rua -uma das metas estratégicas de redução de roubos da segurança fluminense-, pode estar sendo registrado como furto, o que não impediria as bonificações às polícias e poderia explicar parte da alta vertiginosa nessa modalidade de crime.
Procurada, a Polícia Civil afirmou que os registros de ocorrência são feitos de acordo com as informações apresentadas pela vítima e pela análise da autoridade policial.

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Folhapress | 07:50 – 14/10/2025
Fonte. .Noticias ao Minuto